O dilema entre cortar e não cortar o orçamento

O dilema entre cortar e não cortar o orçamento

Governo federal anunciou economia no orçamento, impactando o mercado

Karina Reif

Efeitos das decisões econômicas dependem de como e onde os ajustes serão realizados

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Após semanas de muita pressão do mercado financeiro para a divulgação do corte de gastos para os próximos anos, o governo federal anunciou uma redução de R$ 71,9 bilhões no Orçamento de 2025 e 2026, o que já está repercutindo no câmbio e também na Bolsa de Valores. Mas você sabe por que as despesas da União interferem tanto neste cenário?

Existe um dilema entre gastar e economizar. Na teoria, quanto mais se coloca dinheiro em programas sociais, infraestrutura e serviços, mais se estimula o crescimento econômico, pois cresce também a demanda por produtos e prestação de serviços e, por consequência, também aumentam os empregos, estimulando o consumo e mais empregos ainda.

Porém, o risco dessa linha de ação é a elevação da inflação e das taxas de juros. Isso porque, quando o consumo é estimulado, mas a oferta não acompanha, os preços tendem a subir e, com isso, o governo costuma aumentar a Selic para segurar os valores das mercadorias. Outra consequência pode estar relacionada ao incremento da dívida do país.

O professor do Programa de Pós Graduação Profissional de Economia (PPECO) da UFRGS Mauricio Andrade Weiss analisa que o atual contexto não indica alta de preços, pois, embora a taxa de desemprego esteja caindo, quase 40% da população economicamente ativa atua no mercado informal. Além disso, ele observa que a produção industrial tem capacidade de ampliar a produção sem pressionar a inflação por conta da demanda.

Em relação ao endividamento, Weiss argumenta que o maior impacto sobre a dívida é dos juros, uma vez que cada ponto percentual na taxa de juros impacta em R$ 54,7 bilhões na dívida líquida do setor público. Ele observa que, quando a economia cresce, facilita a ampliação da arrecadação e o aumento do PIB, reduzindo o endividamento.

Entretanto, o professor reconhece a pressão no mercado financeiro para cortes de gastos e isso tem efeito de aumento na taxa de câmbio.

“O corte de gastos é necessário para enquadrar na meta de gastos do Novo Arcabouço Fiscal e acalmar os ânimos do mercado financeiro”, salientou o economista Mauricio Andrade Weiss.

Contudo, economizar também tem seus prós e contras. O viés positivo é a melhora da sustentabilidade fiscal, a redução do risco de crises e a criação de espaço para reduzir impostos no futuro. Porém, isso pode desacelerar o crescimento econômico e prejudicar investimentos sociais e produtivos. Cortes podem reduzir o alcance de programas sociais ou subsídios a setores econômicos.

Consequências das decisões do governo

Há setores que defendem um lado ou outro. O mercado financeiro observa que a economia de gastos pode melhorar a percepção de responsabilidade fiscal. Assim, investidores são atraídos, o que tende a reduzir o risco Brasil. Um orçamento mais enxuto pode ajudar a conter a inflação e permitir uma redução nas taxas de juros. Isso tem um impacto direto sobre o custo do crédito e incentiva o crescimento econômico.

O impacto das decisões do governo sobre o orçamento depende de como e onde os cortes ou gastos adicionais são realizados. A relação entre a dívida pública e o PIB é um indicador importante para avaliar essas decisões, pois reflete a capacidade do país de lidar com seus compromissos financeiros. O Brasil deve cumprir a meta fiscal, que prevê um déficit primário de 0% do PIB, equilibrando receitas e despesas antes do pagamento dos juros da dívida.


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