Há um Século no CP

Números do fluxo migratório global de 1920 a 1923

Da edição de 22 de outubro de 1925, quinta-feira, edição n. 251

O estudo revelou a brusca diminuição do fluxo migratório global durante os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); nos três primeiros anos da década seguinte, quase 9 milhões de pessoas se tornaram imigrantes nos territórios analisados
O estudo revelou a brusca diminuição do fluxo migratório global durante os anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); nos três primeiros anos da década seguinte, quase 9 milhões de pessoas se tornaram imigrantes nos territórios analisados Foto : CP Memória

“Comunica a Repartição Internacional do Trabalho: ‘A Repartição Internacional do Trabalho acaba de publicar o primeiro relatório anual relativo aos movimentos migratórios do mundo, em virtude de uma recomendação votada em 1922 pela Conferência Internacional do Trabalho. Devido à obsequiosa colaboração de muitos organismos oficiais, a Repartição acha-se agora habilitada para publicar esse estudo com os algarismos globais referentes a 60 países. O fim desse relatório é estabelecer com certeza o balanço dos movimentos mundiais das migrações em 1923 e cotejá-los com os algarismos de 1920–1922. Esse estudo constitui, antes de tudo, uma base científica para o desenvolvimento futuro da estatística de emigração, sendo também de uma utilização prática imediata. Ele permite ou facilita a compreensão da avaliação das migrações de após a guerra e a pesquisa de suas causas e seus efeitos. Além disso, os países de emigração e de imigração encontrarão nele indicações concernentes à origem, ao destino e à composição das massas migratórias. [...] O número total das pessoas mencionadas nas estatísticas durante os anos de 1920 a 1923 é de 7.440.600 para as estatísticas de emigração e de 8.932.555 para a imigração. No que diz respeito ao ano de 1923, os algarismos correspondentes são de 1.860.769 e 2.089.854. Do quadro que alcança até o ano de 1880 resulta a constatação da diminuição de 50% durante os anos após a guerra da emigração transoceânica, enquanto a estatística da emigração continental demonstra uma evolução bem acentuada. A repartição diminuiu mais na transoceânica do que a emigração continental. [...] Resulta dos quadros de conjunto que estatísticas regulares são estabelecidas em 22 países da Europa, 5 da Ásia, 8 da África, 17 da América e 5 da Oceania. Essas estatísticas fornecem 302 dados distintos. Pelo contrário, muitos países ainda não dispõem de estatísticas regulares (alguns países sul-americanos, da América Central, da Ásia e da África e a maior parte das administrações coloniais). As mesmas falhas são notadas em 8 países da Europa, entre os quais figura a Rússia. É o caso para salientar-se que, graças aos esforços da Organização Internacional do Trabalho, alguns países começaram a organizar estatísticas ou a uniformizar e sistematizar as que já possuíam.’”

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Colonialismo

“O sr. [Paul] Painlevé, chefe do gabinete [da França], falando no Congresso radical, declarou o seguinte: ‘Sobre Marrocos, a França não tem o direito de conceder a independência ao Rif [região montanhosa do norte do Marrocos subjugado ao domínio colonial francês], e se o tivesse seria imprudente fazê-lo, porque o Rif se tornaria a colônia dos mais perigosos bandidos, que se estão preparando para pôr fogo a Marrocos. Hoje, os franceses mantêm-se fortes nas suas fronteiras e precisam somente construir estradas para dar acesso ao coração do Rif.’”

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Nu artístico

“Os jornais dizem que a polícia de São Paulo, consultada a respeito da exibição do nu artístico no teatro, declarou que permitiria que as artistas aparecessem em seus teatros como aparecem em Paris e que não toleraria nenhuma manifestação contrária. Quem achasse os espetáculos inconvenientes — acrescentou — não fosse ao teatro. O ‘Jornal do Brasil’ diz que, logo que foi conhecida aqui [Rio de Janeiro] essa notícia, organizou-se um plano de uma manifestação de desagravo ao nu artístico, devendo numerosos artistas e outras pessoas seguir para S. Paulo a fim de assistir a um dos espetáculos da Companhia Casino, que para lá embarca a 27 do corrente.”

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Primeiras edições

Da edição de 22 de outubro de 1895, terça-feira, n. 19

Assuntos municipais

“Não nos anima qualquer má vontade em relação aos diretores dos serviços que entendem com a administração pública. Não se queira ver, portanto, nas observações que a respeito de interesses do povo tenhamos de apresentar aqui, outro intuito que não o de contribuir com o nosso contingente para a discussão e elucidação de assuntos que a todos afetam diretamente. Vários ramos da nossa administração municipal, não obstante a boa vontade e inteligência do funcionário que lhe está à testa, carecem evidentemente de uma fiscalização mais ativa, uns, e de uma execução mais criteriosa, outros. Essas falhas no mecanismo administrativo são naturais; porém, se remediá-las é dever do administrador bem-intencionado, apontá-las é também dever, e inadiável, dos que, como nós, têm a presunção de falar em nome das necessidades e conveniências populares. Assim, queremos, sem desarrazoadas prevenções, mas sem peias nem constrangimento, como quem gostosamente se desobriga de seus deveres e exerce um direito, dizer à nossa Intendência o que nos parecer digno da sua consideração e em bem da comunidade municipal. Serviços há que estão a pedir reparos atentos, e normas existem suscetíveis de modificações mais de acordo com os interesses dos munícipes. Dentre aqueles, destaca-se o trabalho de nivelamento e calçamento da cidade, abertura, escavação e aterro de ruas, serviços que não são feitos com a necessária perfeição, nem as devidas cautelas. As melhores e mais centrais ruas da capital, apesar dos rios de dinheiro que por elas se têm escoado em consertos e reformas, apresentam um deplorável aspecto e um frisante exemplo do quanto esse serviço há sido mal executado. Com tempo chuvoso, como agora mesmo se pode averiguar, nem na rua dos Andradas, que é a nossa principal, mais luxuosa e frequentada via de comunicação, é possível andar-se isento dos atoleiros e do lamaçal. A água empoça em um calçamento de paralelepípedos recentemente feito e, dos passeios, que acabam de ser dispendiosamente reformados, quando menos se espera, espirram esguichos de lama. Ruas são abertas junto a outras que só precisariam ser alargadas, ou prolongadas, e fazem-se aterros e escavações de cuja utilidade se fica a indagar, sem se encontrar satisfatória explicação. [...]”

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Criados

“O festejado cronista Arthur Azevedo escreveu no ‘Paiz’, da capital federal, as seguintes linhas, que transcrevemos para consolo das nossas donas de casa: ‘Consta-me que vai ser hoje discutido pelo conselho municipal o projeto, apresentado em 30 de julho último pelo intendente Heredia de Sá, para a regulamentação do serviço doméstico. Parece-me que é tempo de se tratar seriamente do assunto. A vida nesta capital vai se tornando impossível pela dificuldade que toda a gente encontra em ser servida na proporção do dinheiro que despende. Rara é a família que, no tocante a criados, não tenha um rosário de queixas e lamentações; rara é aquela que se declare satisfeita. Nesse particular, os habitantes desta cidade foram sempre de um caiporismo comovedor, pois nunca ninguém tratou seriamente de remediar uma necessidade tamanha; mas, depois que se multiplicaram as loterias e que o jogo foi posto ao alcance de todas as bolsas e de todas as inteligências, o mal recrudesceu e não parece disposto a diminuir. O regulamento proposto pelo sr. Heredia de Sá não é nem podia ser completo, porque o poder municipal não tem competência para legislar em matéria de direito civil; mas antes isso do que nada. Aprovado ele, e posto em execução, ao menos as famílias não se verão na desesperadora contingência de meter em casa indivíduos sem saber quem são. Ninguém hoje se anima a contratar um copeiro, tantos e tão repetidos têm sido os furtos cometidos por gatunos que sob aquele título se apresentam nas casas. A nossa população tem crescido consideravelmente; uma cidade como esta não pode estar mais tempo sem uma regulamentação rigorosa do serviço doméstico. Os inconvenientes avolumam-se de dia para dia. Vive-se num inferno! Vamos, srs. da Intendência, discutam, pelo amor de Deus, esse projeto e façam alguma coisa em benefício da nossa vida doméstica! Decretem obrigações recíprocas entre patrões e criados, de modo que não continuemos a ser, como somos, tão mal servidos por quem nos custa os olhos da cara.’”

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O dia 22 de outubro na história

  • 1721 O Império Russo é proclamado por Pedro I, o Grande, após a vitória sobre a Suécia na Grande Guerra do Norte.
  • 1784 A Rússia funda uma colônia na ilha Kodiak, no Alasca.
  • 1797 O francês André-Jacques Garnerin realiza em Paris o primeiro salto de paraquedas bem-sucedido.
  • 1811 Nasce em Doborján o compositor, pianista e professor húngaro Franz Lizst.
  • 1859 A Espanha declara guerra ao Marrocos após conflitos referentes à cidade de Ceuta.
  • 1866 Plebiscito ratifica a anexação das regiões do Vêneto e de Mântua à Itália.
  • 1870 Nasce em Voronezh o escritor russo Ivan Búnin, prêmio Nobel de literatura em 1933.
  • 1877 Explosão em mina de carvão mata 207 mineiros em Blantyre, Escócia.
  • 1879 Thomas Edison testa com sucesso a primeira lâmpada elétrica incandescente.
  • 1887 Nasce em Portland o escritor e jornalista americano John Reed, correspondente durante as revoluções mexicana e russa.
  • 1906 Morre em Aix-en-Provence o pintor francês pós-impressionista Paul Cézanne.
  • 1907 A crise financeira chamada de Pânico de 1907 provoca a queda de quase 50% na Bolsa de Nova Iorque, espalhando-se e causando bancarrota em muitas companhias e bancos.
  • 1913 Nasce em Budapeste o fotojornalista húngaro-americano Robert Capa, considerado o maior fotógrafo de guerra da história.
  • 1919 Nasce no Irã a escritora britânica Doris Lessing, vencedora do prêmio Nobel de literatura de 2007.
  • 1920 Nasce em Massachusetts o psicólogo e escritor americano Timothy Leary, defensor do uso das drogas psicodélicas e ícone do movimento da contracultura nas décadas de 1960 e 1970.
  • 1923 O fracasso do golpe monarquista Leonardopoulos-Gargalidis prepara o caminho para o estabelecimento da Segunda República Helênica na Grécia.
  • 1929 Nasce em Moscou o goleiro soviético Lev Yashin, considerado um dos maiores da posição de todos os tempos.
  • 1943 Nasce em Paris a atriz francesa Catherine Deneuve.
  • 1947 Inicia logo após a divisão da Índia o conflito da região da Caxemira entre Índia e Paquistão.
  • 1954 Morre em São Paulo o escritor e poeta Oswald de Andrade.
  • 1962 O presidente americano John F. Kennedy ordena uma “quarentena naval” de Cuba após a descoberta da instalação de mísseis soviéticos na ilha.
  • 1964 O escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre é escolhido para o prêmio Nobel de literatura, mas recusa a honraria.
  • 1964 Comitê parlamentar seleciona o design da nova bandeira oficial do Canadá.
  • 1975 A espaçonave soviética não-tripulada Venera 9 pousa em Vênus.
  • 1990 Morre o filósofo marxista e acadêmico francês Louis Althusser.
  • 2012 O ciclista americano Lance Armstrong perde oficialmente seus sete títulos do Tour de France após ser condenado por doping.
  • 2019 A descriminalização do aborto e o casamentos de pessoas do mesmo sexo são aprovados pela assembleia da Irlanda do Norte.


* A grafia está atualizada para as normas atuais, à exceção dos nomes próprios

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