Dia de golpe no Brasil

Dia de golpe no Brasil

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Mais um dia de tentativa de golpe no bananal brasileiro.

Como em 1932, a elite vai em busca do poder perdido.

Depois do golpe midiático-civil-militar, o golpe midiático-empresarial-judicial.

De onde vem o golpe? Da união de esforços de políticos fisiológicos, de partidos oportunistas, de jornalistas arrivistas, de uma mídia grosseiramente conservadora e de juristas militantes.

Só no Brasil a corte suprema permite que um réu por corrupção conduza o processo de destituição do primeiro mandatário da nação. Eduardo Cunha, o réu, com fartura de provas sobre seu lombo, articula a derrubada da presidente sobre a qual não pesa qualquer investigação de ilicitude.

Qual é o crime de Dilma Rousseff? Ter feito os bancos públicos adiantarem dinheiro para pagar Bolsa-Família, seguro desemprego, Minha Casa Minha Vida e outros programas sociais. É esse o crime.

Todos pedalaram. Governadores pedalam. Só Dilma deve cair. Isso se chama casuísmo.

As demais imputações, que pesarão nos votos dos ilibados deputados, não valem no processo.

Michel Temer comete crime ao conspirar contra a presidência da República. O PMDB, de Romero Jucá, ainda ontem acusado de receber propina, de Eduardo Cunha, de Renan Calheiros, de Edison Lobão e de tantos outros atolados na corrupção, percebeu que podia ficar com todo o poder sem precisar de votos.

Oriundo do MDB, que aceitou o papel de legitimador da "democracia" da ditadura, o PMDB nunca ganhou uma eleição presidencial, deixando até de apresentar candidato, mas quer ter seu terceiro presidente pela via indireta. O primeiro, não por acaso, José Sarney, vinha da Arena. É por essas e outras que o PMDB tem a fama de ser o partido mais fisiológico do país e de praticar a velha política do faz que vai para um lado e vai para o outro, a política das raposas interesseiras e sem fidelidade ao bem comum.

FHC deu dinheiro para salvar bancos privados com o famoso Proer. Bolsa rico não dá impeachment.

FHC foi acusado de comprar a emenda da sua reeleição. Jamais foi investigado.

FHC teve um procurador-geral da República batizado de Engavetador Geral da República.

O golpe tem nome: PMDB, PSDB, DEM, Rede Globo, Estadão, Veja, Época, RBS.

É o golpe da Arena e do MDB unidos como estiveram na época do regime militar.

É o golpe da mídia que apoiou a ditadura e hoje dissemina a mitologia de que resistiu.

O golpe terá votos do PP, sigla campeã de investigados na Lava-Jato.

O pior do Brasil unido no combate a corrupção.

O grande perdedor é o país. Políticos sairão enlameados: mentirosos, oportunistas, cínicos, ardilosos. Dizem que a política é vítima de estereótipos e de uma criminalização injusta. Fazem por merecer. Todos? Claro que não. quantos escapam? Tem ministro do PMDB que ficou no cargo, contrariando decisão do partido, e vai votar a favor do impeachment. Como rotular um sujeito assim? Pulha?

A queda de Dilma terá as impressões digitais de Eduardo Cunha, por vingança, de Sérgio Moro, com a autorização irregular da condução coercitiva de Lula e com a veiculação ilegal dos grampos da presidente da República com Lula, de Augusto Nardes, ministro pepista do TCU acusado na Operação Zelotes, e do STF, que sentou em cima do pedidos de afastamento de Cunha. Em que país sério um suspeito de corrupção continua comandando o parlamento? Em que país sério do mundo um réu por corrupção comanda o processo jurídico-político de destituição de um presidente da República? A aliança da direita brasileira com Eduardo Cunha prova que nada há de republicano no processo em curso.

O golpe de hoje é a resposta da Casa Grande às migalhas oferecidas à Senzala.

Até o século XIX, o direito serviu de ideologia da escravidão.

Hoje, serve de ideologia do golpe como impeachment.

O Brasil inventa nova jabuticaba: o voto de desconfiança no presidencialismo.

Abrimos uma porta para o passado.

A mídia estrangeira vê o golpe como golpe. New York Times diz que Dilma será julgada por uma gangue. Libération chama a revista Veja de panfleto de direita, e a Rede Globo de filha da ditadura.

Haverá surpresa na votação? Nunca se sabe. O improvável acontece.

A direita brasileira nunca foi apaixonada por eleições e seus resultados. Interromper um mandato obtido nas urnas nada mais é do que uma genuína tradição nacional. A Copa do Mundo de futebol começou em 1930. O Brasil é penta. De 193o para cá o Brasil derrubou quantos eleitos? Vai ser penta?

 

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