Joaquim Barbosa, classemedismo jurídico e carreira

Joaquim Barbosa, classemedismo jurídico e carreira

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Joaquim Barbosa pediu as contas.

Vai se aposentar aos 59 anos de idade ganhando quase R$ 30 mil por mês.

Tem um pequeno apartamento em Miami.

E um capital simbólico acumulado que poderá usar nas próximas eleições.

Parte da mídia gosta de dizer que ele chegou ao STF por ser negro.

Lula queria indicar, por razões simbólicas, um negro para o Supremo, o que foi muito louvável.

A cor da pele de Barbosa nada tem a ver com os seus julgamentos.

Ele demonstrou competência e autonomia.

Indicado por Lula, não teve medo de tomar decisões contra os interesses do PT.

Mas foi certamente movido mais por uma lógica de carreira do que por outras razões técnicas.

Quis aproveitar a oportunidade histórica e fazer seu nome.

Se o Brasil reclamava da impunidade, ele seria o homem da punição.

Abraçou o populismo jurídico, adotou a tal teoria do domínio do fato à brasileira, com tempero nacional, adaptações duvidosas e objetivos claramente definidos. Produziu o resultado que desejava, marcou presença e vai embora. O colunista da Folha de S. Paulo, Jânio de Freitas, tem razão: pode ser uma fuga na medida em que derrotas se aproximam.

José Dirceu não me arranca uma lágrima. Pode apodrecer na cadeia. De acordo com a lei e a condenação. Qual a diferença entre condenação ao semiaberto e ao fechado se, em ambos, o condenado deve cumprir um sexto da pena antes de ter direito ao trabalho externo?  Esse é um exemplo da leitura ortodoxa de Barbosa que, em nome da sua lógica de carreira, tornou-o amado e odiado. Ives Gandra Martins, jurista conservador, antipetista, não tem dúvidas: "Trabalhar dentro do presídio é como se você estivesse cumprindo uma pena no regime fechado. Quando alguém cumpre uma pena para a qual não foi condenado, tem todo direito de entrar com ação indenizatória por danos morais e patrimoniais. Os condenados a regimes abertos ou semiabertos que acabarem por cumprir a pena em regimes fechados, estarão pagando à sociedade algo que não lhes foi exigido, com violência a seu direito de não permanecerem atrás das grades".

O lema de Barbosa parece ter sido um só: "Vocês vão ver com quem estão lidando".

Assim se transformou no herói da direita e no inimigo da esquerda.

Não lhe bastava ser. Precisava parecer.

Na verdade, Barbosa não praticou populismo jurídico, mas "classemedismo"  jurídico.

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