O novo e o velho conforme o novo e o velho
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– Velho, o que conta na vida é o novo.
– Bem, então eu não conto. Bem que eu andava desconfiado.
– Que é isso, velho? Você ainda pode ser novo.
– Como pode o velho ser novo de novo?
– É simples: eu falei “velho”. Mas se tivesse dito “véio”, aí já era novo e você não pareceria tão velho. Só que para passar de velho a “véio” precisa uma mutação. Sabe como é? Uma transformação de larva em borboleta.
– Essa imagem é nova, velho!
– Velho, não. Para ser novo, precisa dizer “véio”.
– Ué! Me disseram outro dia que “véio” já é velho.
– Para mim isso é novo.
– Dizer “véio” em lugar de velho?
– Não, dizer que falar “véio” em lugar de velho já ficou velho. Para mim isso é coisa de quem não entende o novo.
– Vai ver que você é velho e não sabe, “véio”.
– O novo é atitude, uma pegada, um estado de espírito.
– Essa maneira de ver o novo não é muito velha, “véio”?
– Dá para ver que o novo saiu de você faz tempo, velho.
– Agora você me ofendeu, “véio”, quer dizer, velho.
– Por que, “véio”? Por que te chamei de velho?
– Sim, “véio”. Você tem preconceito com o velho.
– Qual é, velho? Você é que tem preconceito com o novo. Dá para ver na sua cara essa paixão antiga pelo passado.
– Sai dessa, “véio”. Dá para ver na sua lata essa paixão histórica, essa nostalgia muito antiga do futuro.
– Falar lata em lugar de rosto, “véio”, é coisa de velho.
– Não vou mais me referir à sua luta nem ao seu rosto, “véio”. Já que sou velho, só vou dizer fuça. Tem mais: esse papo de novo como novidade é uma velharia.
– Eu não disse?
– O quê, “véio”?
– Que até os velhos não gostam de velharias?
– Ok, “véio”, você venceu. Ser novo é melhor.
– Não acho, velho. O novo sempre volta.