Operação limpeza em Palomas

Operação limpeza em Palomas

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      Candoca anda impossível. Ele é jornalista. Corre de um lado para outro tentando entender o que se passa em Palomas. Ouviu falar da Operação Limpeza, um arrastão feito entre abril e agosto de 1964, depois do golpe midiático-civil-militar, que meteu na cadeia, sem processo formal, mais de 50 mil pessoas, torturou, matou e produziu suicídios induzidos. Candoca resolveu ouvir os opositores do governo atual. Encontrou a turma animada, organizando o ministério de Michel Temer.

– Agora, vai – disse-lhe o chefe local.

– Vai?

– Como dois e dois são quatro. E sem propina.

– Como?

– Vamos varrer a corrupção do Brasil. Uma faxina.

– Mas com o Eduardo Cunha e o Renan Calheiros no comando do processo?

– Uma coisa de cada vez. Primeiro o PT. Depois, Cunha e Renan.

O velho Candoca ficou dubitativo. Não sabia se devia insistir ou se era melhor enfiar a viola no saco e bater em retirada. Na falta do que fazer, arriscou mais uma pergunta em forma de comentário.

– Com o Michel Temer na presidência!?

– Qual o problema?

– Ele é citado por delatores na Lava Jato.

– Tudo intriga, armação do PT. Michel está limpo.

– Sério? E os homens fortes dele?

– Qual o problema?

– Henrique Eduardo Alves, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima...

– Políticos experientes.

À margem da sanga, Candoca sentou e chorou. Queria muito acreditar na salvação do Brasil pelas mãos de Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e Michel Temer. Algo, porém, o impedia de exclamar o “agora, vai”.

Depois de secar as lágrimas, voltou para continuar a conversa.

– Dá para acreditar em combate a corrupção feito por acusados de corrupção e réus em processos no STF? – perguntou ingenuamente.

– O fato de serem acusados disso ou daquilo não anula os crimes praticados pelo petismo. Isso é que importa. A população sabe disso.

A frase de efeito levou Candoca a uma intensa reflexão. Pensou tento que ficou com dor nas costelas. Nunca tinha dor de cabeça. Saiu a perguntar pelas ruas: “Pode-se combater a corrupção com ajuda de corruptos?” Ainda não tabulou os dados obtidos. Por acaso, encontrou o subchefe local da oposição, que defendeu anistia para Cunha.

– Anistia?

– Pelos serviços prestados ao impeachment.

– E a corrupção?

– Cunha não é corrupto. Nem tem contas na Suíça. É um trust.

– Trust?

– Ele não mentiu.

Sentindo-se um traste, sem trust na Suíça, Candoca recolheu-se ao conforto do seu pelego. Sonhou com um golpe. Acordou e ficou sabendo que é impeachment. Na frente do espelho, treina: agora, vai!

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