Paradoxo, ironia e simulacro

Paradoxo, ironia e simulacro

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Jean Baudillard morreu há dez anos.

Imortalizou-se pela ironia e pelos paradoxos.

Escreveu o monumental Simulacros e simulação.

O Brasil não para de atualizá-lo.

Simular é tornar o irreal mais real do que o real.

O sorteio do ministro Fachin para a relatoria da Lava-Jato é Baudrillard na veia.

Foi escolhido o melhor. Pelo método pior. O falso sorteio. Um simulacro.

Se eu conheço os parâmetros do sistema e introduzo nele um elemento externo que lhe corresponda, condiciono o resultado. Se Fachin não correspondesse ao padrão estabelecido no algoritmo, não teria sido mudado de turma.

O sorteio foi uma simulação de impessoalidade.

O STF é assim: ora decide pela regra escrita, ora pela conveniência, chamada de entendimento.

Nada na regra escrita permitiria dar a Rodrigo Maia o direito de concorrer novamente à presidência da Câmara.

Bastou o entendimento do decano Celso de Mello. A ironia é que seu entendimento se torna indiscutível por ele ser decano.

Força da experiência. Mitologia das palavras?

No Brasil baudrillardiano a justiça e as ruas impediram Dilma de dar foro privilegiado a Lula. Mas nada fizeram para impedir que Temer fizesse o mesmo com Moreira Franco, citado 34 vezes em delação da Lava-Jato.

As ruas são como o STF: decidem pela conveniência.

No Brasil nem o algoritmo pode ser levado a sério.

Afinal, ele segue a voz do dono.

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