Pare com isso, Moraes

Pare com isso, Moraes

Moraes, suas multas e bloqueios. De novo isso?

Guilherme Baumhardt

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Na quinta-feira, a manchete foi: “Moraes aplica nova multa a Silveira por descumprir medidas cautelares”. A mais recente é ainda pior: “Moraes decreta bloqueio de bens móveis e imóveis de Daniel Silveira”. De novo isso?

Eu poderia refrescar a memória de Moraes, escrevendo as seguintes linhas: “A questão do indulto, esse ato de clemência constitucional, é um ato privativo do presidente da República. Podemos gostar, ou não gostar. Assim como vários parlamentares também não gostam muito quando o STF declara a inconstitucionalidade de emendas, leis ou atos normativos”. Quem disse isso? Alexandre de Moraes, em 2017. O presidente à época era Michel Temer. Mudou o entendimento, Moraes?

O ilustre foi além: “Indulto, seja graça ou perdão presidencial, não faz parte da política criminal. É um mecanismo de exceção, contra aquilo que o presidente da República entender como excesso da política criminal”. Ou seja, o perdão a Daniel Silveira já foi concedido. Não vou nem entrar mais no mérito de que o ofendido é também denunciante e julgador. Que o réu, além de gozar da chamada imunidade parlamentar, foi condenado com base em uma lei revogada, algo que o STF de Banânia conseguiu produzir.

Como a lógica tem sido constantemente espancada e a memória de Moraes está perdida em local incerto e não sabido, desisto de apelar aqui para qualquer racionalidade, para uma argumentação sustentada em leis, fundamentada em princípios legais. Não, não farei isso. É tempo perdido. Vou partir mesmo para o apelo, para o emocional.

Moraes, por favor, pare com isso. As decisões do Ministro contra Daniel Silveira ultrapassaram toda e qualquer linha do ridículo. É um teatro de absurdos, mas que virou um filme repetitivo. É como aquele circo que chega na cidade, mas sem novidades. O público encontra a mesma mulher barbada, o mesmo malabarista, os mesmos truques batidos, produzidos pelo mesmo velho mágico cansado e deprimido. E, no centro do picadeiro, com uma flor gigante na lapela, o mesmo ator principal. Pare com isso, Moraes. Pare enquanto é tempo. Seus livros deixaram as estantes de bibliotecas e viraram peso de papel, escora para porta.

A não ser que o objetivo seja eleger Daniel Silveira senador. Aí, meu caro, retiro tudo o que escrevi acima e serei obrigado a tirar o chapéu. Nenhum outro marqueteiro político pensaria de maneira tão genial. Silveira tem grandes chances de ser um campeão de votos.

Do céu...

Tente segurar o riso, tente conter a gargalhada. Mas, acredite ou não, teve gente que produziu a seguinte manchete, após o encontro entre Jair Bolsonaro e Elon Musk: “Bolsonaro tenta privatizar a Amazônia e ameaça a soberania nacional”. A pérola acima não foi a única. Outros conseguiram enxergar um risco ainda maior. Um vereador, de baixa expressividade, em Porto Alegre, disse: “Elon Musk no Brasil, em encontro secreto com o presidente miliciano, na véspera das eleições, só pode significar uma coisa: GOLPE DE ESTADO”, assim mesmo, em maiúsculas.

... ao...

Em primeiro lugar, não há nada de secreto no encontro. Há uma tonelada e meia de fotos mostrando Musk e Bolsonaro juntos. Em segundo, sim, podem existir interesses que vão além do convênio que vai garantir, via Starlink (satélite da empresa de Musk) acesso à Internet para escolas da Amazônia, além do monitoramento espacial da região. Mas e daí? E a preocupação com a população carente? E a gritaria em função das queimadas e do desmatamento? Era sincera ou apenas retórica de militonto? Se as informações de Musk e seus equipamentos forem úteis, há motivos para comemoração, não o contrário.

... inferno

“Especialistas” (argh!) alertaram que o Brasil não precisa de satélites, mas de fiscalização. Segundo “especialistas” (argh!), já estamos bem servidos com informações do espaço. É curioso: a NASA, agência espacial norte-americana, com um orçamento de bilhões e bilhões de dólares, encontrou na SpaceX (que também pertence a Musk) uma parceira, que consegue fazer mais e melhor, a um custo mais baixo. Mas nós, em Banânia, acreditamos que podemos nos dar ao luxo de agradecer o sujeito que ajuda a NASA. Como já escrevi em outras oportunidades, Musk é mais uma prova de que não interessa o que alguém diz ou defende, mas sim de que lado ela está. Enquanto ele era o inovador, o sujeito que colocou o carro elétrico em condições de competir com veículos a combustão, era uma espécie de queridinho da esquerda. Quando entrou na briga pela liberdade de expressão, contrário à censura nas redes sociais, virou o capeta, da noite para o dia. Haja paciência.


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