Alessandro Barcellos: ‘É muito mais difícil do que parece’

Alessandro Barcellos: ‘É muito mais difícil do que parece’

Por
Fabrício Falkowski

CAPÍTULO 11 – ENTREVISTA COM ALESSANDRO BARCELLOS

Barcellos assumiu o Inter em janeiro de 2021, num momento de consolidação da hegemonia de Palmeiras e Flamengo. Com planos ambiciosos, buscou equilibrar as contas e ampliar receitas — entre elas, a antecipação de receitas de TV por 50 anos com a Liga Forte União. Teve superávits modestos nos primeiros anos, mas, em 2024, mesmo com recorde em venda de jogadores, encerrou a temporada com um déficit de R$ 34,4 Confira o especial completo "Acabou a grandeza?"milhões, reflexo de investimentos maiores no futebol. Ele evita declarar apoio à transformação em SAF, mas admite a necessidade de encontrar novas soluções.

Confira o especial completo "Acabou a grandeza?"

Acabou a grandeza do Inter?

Não. O Inter é muito grande e seguirá sendo. Temos uma história fantástica, uma torcida apaixonada e um patrimônio valioso, incluindo o Beira-Rio. Mas o futebol mudou. Hoje, a gestão exige outra lógica. O clube precisa se adaptar a essa nova realidade. Primeiro, para sobreviver. Depois, para voltar a competir por grandes títulos. Estamos nesse caminho, mas é muito mais difícil do que parece.

Por que Flamengo e Palmeiras deixaram a Dupla para trás?

Porque são clubes que estavam em mercados subaproveitados até pouco tempo. Inclusive, Inter e Grêmio tinham receitas maiores do que eles há alguns anos. Mas eles souberam explorar todo o potencial de seus mercados. Nós também crescemos, mas em um mercado menor.

Como enfrentar uma dívida que pode chegar a R$ 1 bilhão?

É o maior problema do clube. Só em juros, perdemos entre R$ 80 e R$ 100 milhões por ano. Se tivéssemos esse dinheiro disponível, tudo seria diferente. O Inter hoje tem um funcionamento operacional positivo. Se não fosse o custo da dívida, teríamos superávit. Por isso, estamos reduzindo despesas e aumentando receitas. Profissionalizamos o clube, adotamos boas práticas de governança, mas tudo isso pouco aparece porque a dívida nos consome.

O senhor é a favor de o Inter virar SAF?

O Inter precisa de novos recursos. Pode ser que não venham via SAF, mas será preciso encontrar uma nova forma de financiamento. Acredito muito na construção de um “modelo Inter”. Estamos trabalhando nisso. É um tema que encontra resistência, mas o debate será inevitável em algum momento, seja por urgência, seja por oportunidade concreta de proposta.

O Inter já foi procurado por investidores?

Não. Nunca houve nenhuma proposta.

Recuperação judicial pode ser uma saída?

Na minha opinião, não. Ela fecha portas no mercado e tem efeitos mais negativos que positivos. Diminui o tamanho do clube. Falo com base na realidade atual. É impossível prever o que pode ocorrer nos próximos dois ou três anos.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895