Cálculo regionalizado dos créditos de carbono

Cálculo regionalizado dos créditos de carbono

Sistema demonstrado na feira Universo Pecuária, em Lavras do Sul, no início de novembro, promete precisão nas estimativas de emissões e sequestro de CO2 em propriedades gaúchas com foco na produção de gado de corte

Por
Lucas Keske*

Apresentada no evento Universo Pecuária, no início de novembro, uma ferramenta desenvolvida por técnicos do Rio Grande do Sul permite inventariar, com cálculo preciso, a quantidade de gás carbônico (CO2) que uma propriedade rural movimenta. A calculadora é resultado do projeto piloto realizado pela Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA), juntamente com o Clube de Integração e Troca de Experiências 27 (Cite 27), de Lavras do Sul. Foram estudadas 16 propriedades do Estado que, juntas, ultrapassam 12 mil hectares de terra. 

De acordo com os pesquisadores, essas propriedades alcançaram um resultado de menos 1,35 toneladas de CO2 por hectare ao ano no balanço de emissões, enquanto a média de linha de base variava entre 3,8 e 4,8 toneladas de CO2 por hectare ao ano, dependendo do sistema de produção.

Como funciona o balanço de carbono?

Em resumo, a chamada “calculadora de carbono”, usa como base dados científicos, além de características e informações obtidas nas próprias fazendas, para estabelecer a métrica que define as quantidades de CO2 que uma propriedade libera na atmosfera, e aquilo que consegue absorver. Para ilustrar o funcionamento, um exemplo é o de uma propriedade que trabalhe com duas criações: se uma das criações absorver mais gás carbônico que a outra libera, haverá uma balanço positivo das emissões. Mas se a soma das duas, por sua vez, liberarem mais do que conseguem absorver, o balanço será negativo.

Segundo Gustavo Heissler, assistente da diretoria da SIA, um ponto muito importante sobre essa questão são as métricas iniciais que permitem os cálculos. Até o momento, a maioria dos estudos sobre a emissão de carbono têm como base a realidade do Hemisfério Norte. A ferramenta da SIA estabelece novos parâmetros, a partir das condições que caracterizam a pecuária de corte na região do Pampa do Rio Grande do Sul.

O diretor da Agrocarbono e head de Agro da Future Carbon, Sávio Sardinha, disse que a intenção é encontrar os melhores indicadores e potenciais de remoção de carbono na pecuária, com foco para o Sul. “E transformar isso em métricas ajustadas e suficientemente auditáveis para um futuro próximo que é desenvolver a geração de crédito de carbono”, frisou. O executivo estima que o produtor pode receber créditos entre R$ 150,00 e R$ 230,00 por hectare ao ano.

O que são créditos de carbono?

Os créditos de carbono são unidades de medida que correspondem, cada uma, à uma tonelada de dióxido de carbono equivalente. Essas medidas servem para calcular a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) e seu possível valor de comercialização, considerando a quantidade de carbono absorvida por uma propriedade com balanço positivo.

“A gente ainda não tem uma metodologia de projeto de crédito de carbono no Brasil, mas o inventário é um dos passos dessa metodologia”, afirma a gerente de projetos e sustentabilidade da SIA, Helen Estima Lazzari, que vê a regulamentação da prática em um futuro próximo. Segundo Helen, “A iniciativa está se adiantando ao mercado”, completou.

*Sob supervisão de Nereida Vergara.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895