Leilões de máquinas usadas ganham força

Leilões de máquinas usadas ganham força

Baixa capitalização, limitações de financiamento ou mesmo necessidade de fazer os equipamentos girarem para dar suporte a novas aquisições têm movimentado o mercado de remates de veículos agrícolas de boa qualidade

Por
Thaíse Teixeira

Depois de cultivar as lavouras dos três últimos verões sob severas estiagens, investir em maquinário para as propriedades ainda é uma realidade distante de boa parcela dos agricultores familiares gaúchos. Afinal, a prioridade para quem perdeu parte ou todo o investimento na produção de grãos nas safras 2021, 2022 e 2023, certamente, deve estar em regularizar a situação com os credores bancários. Até mesmo a recente redução na taxa de juros subsidiada para a compra de máquinas e implementos agrícolas, de 6% ao ano para 5% ao ano, via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mais Alimentos, não deve se fazer muito atrativa para o produtor endividado.

Uma saída que vem se desenhando para que o agricultor possa atualizar sua frota ou suprir a necessidade de equipamentos agrícolas é o mercado de máquinas usadas. Empresas especializadas em venda direta e leilões de máquinas e implementos agrícolas destacam-se como uma alternativa aos que dispõem de outras fontes de renda ou de alguma estratégia de compra conjunta ou ainda têm crédito em instituição bancária privada. “Viemos operando independentemente de cenários econômicos há mais de 20 anos”, relara Marcelo Bartolomei Pinheiro, diretor técnico da Superbid Exchange, plataforma voltada à intermediação de ativos usados.

Canais de venda como esse também têm sido buscados como forma de renovar veículos e implementos cuja tecnologia anda em alta velocidade. “Nos últimos anos, com a evolução de modelos e a rápida modernização, vemos produtos melhores. Antigamente, os equipamentos somente vinham para cá (plataforma) depois de terem seu uso esgotado”, analisa Pinheiro. A mudança, segundo o empresário, é verificada de cinco anos para cá, desde quando passaram a integrar o portfólio produtos capazes de alinhar a produção do campo ao sistema de gestão das propriedades, com GPS e alta capacidade de comunicação.

Com as peças e os equipamentos funcionando a pleno, o maquinário ofertado é acessado virtualmente e acaba servindo também como opção ainda para os que buscam peças não mais disponíveis no mercado. “A máquina agrícola em si trouxe para dentro de um ambiente de leilões tanto a possibilidade de sua recolocação imediata quanto um baixo custo para a reposição de peças, atraindo um mercado, até então, inexplorado”, comenta Pinheiro. A procura pelos itens chamou a atenção durante a pandemia, quando houve muita escassez de peças e dificuldades para obtenção de insumos para a indústria metalmecânica. “Tenho alguns clientes que compram máquinas sucateadas para aproveitar peças e componentes. Isso é reuso, economia circular do equipamento”, detalha.

A oferta do maquinário agrícola colocado em leilão ou vendido diretamente nas plataformas virtuais provém, frequentemente, de agricultores que renovam a frota, dada a área produtiva extensa ou os altos índices de produtividade. É o caso de grandes empresas agrícolas e de cooperativas. No entanto, pequenos agricultores podem fazer uso da ferramenta caso queiram monetizar o equipamento antigo com o objetivo de adquirir um novo direto de fábrica. No caso da Superbid Exchange, os produtos custam entre R$ 15 mil e R$ 500 mil, dependendo do ano de fabricação, do tempo de uso no campo, das condições de operação ou da necessidade de reparos. Para não arcar com o custo do frete, o comprador pode selecionar a região e até a cidade onde quer comprar. A venda é feita para empresas e pessoas físicas. “É uma venda de oportunidade, não tenho equipamento de repetição, tenho pacote de lotes, com marcas e modelos com distintas condições”, comenta Pinheiro. Os tratores agrícolas são os itens mais procurados e vendidos, representando 27% do total de vendas na categoria pela plataforma. Implementos especiais (15%) e transbordos (9%) também se destacam, além de caminhões, ônibus e veículos utilitários. 

Fetag reconhece dificuldades

O assessor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Kaliton Prestes, reconhece a dificuldade dos agricultores familiares em contrair novos financiamentos para a compra de máquinas. De acordo com o agrônomo, os produtores endividados não conseguem mais financiar nesta safra, em consequência dos pedidos de prorrogação de dívidas oriundas justamente dos períodos de estiagem, quando os prejuízos foram altos. “Mas para os que têm crédito disponível, as taxas anunciadas no Plano Safra 2023/2024 entusiasmaram”, comenta. A Fetag espera que sejam disponibilizados recursos para equalizar a safra, diz ele, pois nos últimos quatro anos as contratações acabaram interrompidas na metade do exercício.

Prestes explica que, atualmente, as máquinas usadas pela agricultura familiar contam com alta tecnologia, sendo de modelos muito próximos ou mesmo iguais aos usados pela agricultura empresarial. “O uso destas máquinas de alta tecnologia é muito vantajoso para os agricultores porque permite que consigam suprir a mão de obra, que é cada vez mais escassa, e reduzir a penosidade do trabalho”, pontua. O agrônomo destaca que a volta do Programa Mais Alimentos, no Plano Safra atual, promoverá o intercâmbio de tecnologias usadas por agricultores familiares chineses para serem adaptadas para o Brasil. “O agricultor que tiver condições e que precisar fazer um investimento, financiado através do Pronaf, terá uma condição muito boa”, conclui.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895