Melhora genética veloz multiplica ganhos em rebanhos de raças puras

Melhora genética veloz multiplica ganhos em rebanhos de raças puras

Estratégia de reprodução com uso de embriões selecionados pode aumentar a oferta de animais de alta qualidade

Por
Nereida Vergara

O uso da embriologia na reprodução não é algo novo, sendo a prática adotada há muitos anos pelas cabanhas para melhoramento de seus animais. Mas a utilização de embriões de alta genética é um caminho que a pecuária começou a trilhar recentemente e que pode ser o diferencial de estabelecimentos voltadas à multiplicação de rebanhos de raças puras, aumentando sua rentabilidagadode com muito mais rapidez. O advogado e empreendedor rural Raphael Houayek, diretor da Fazenda Esperança, de Alegrete, começou a utilizar a embriologia há 10 anos e há três passou a disponibilizar sua estratégia para produtores interessados em ter um plantel Braford de grande qualidade e valorização. 

A base do rebanho da Fazenda Esperança foi feita com gado Nelore e animais do Grupo Pitangueira, de Itaqui, que venceu o Ranking Brasileiro de Criadores de Braford por 10 anos consecutivos. Mas a fazenda não faz restrições ao uso de genética de fora do país e também recorre a linhagens de genética australiana e reprodutores aprovados da Argentina. A propriedade tem seu próprio banco de embriões e tem trabalhado para garantir a oferta de embriões de alta genética (em parceria com o laboratório Prófertil, de São Grabriel) por meio de coletas de doadoras comprovadas e acasalamentos planejados.

No dia 21 de agosto, a cabanha realiza seu leilão de embriões oferecendo pacotes que contém 36 embriões selecionados, com garantia de 12 crias. A taxa de prenhez das vacas gira em torno de 30% dos embriões implantado. Houayek que há seis anos assumiu a administração da fazenda depois da morte da mãe, conseguiu ampliar o faturamento da propriedade em 400%, mudando o foco da venda de gado para terminação para o de touros. O pecuarista cruza vacas puras Braford com touros de genética renomada da mesma raça. Os embriões são feitos a partir da aspiração dos oócitos (os óvulos) das fêmeas e fecundados em laboratório. Depois de parir as crias, novamente as fêmeas são separadas e os machos criados para serem reprodutores. "Com esta estratégia, os bois que vendíamos antes a R$ 2,5 mil, foram substituídos por touros de raça pura cujo valor médio é de R$ 20 mil, mas que pode chegar até R$ 200 mil", calcula o pecuarista.

O pacote vendido por Raphael custa R$ 35 mil e, segundo ele, é a chave para conseguir em três anos o melhoramento genético que uma cabanha convencional levaria 30 para alcançar. No dia 17 de julho, no evento Dia do Embrião, o empresário e equipe reuniram produtores para explicar o sistema, numa preparação para os compradores no leilão de agosto. "As pessoas geralmente querem investir em um negócio quando ele já está dando certo e, consequentemente, mais caro”, compara Houayek, que acredita que o pecuarista está no melhor momento para investir, com base em análises que apontam para a valorização dos preços na pecuária de corte a partir de 2025. “Ele pode chegar lá com uma oferta de gado muito mais consistente e rentável”, complementa.

Matrizes da raça Braford, na Fazenda dos Pinheiros, em Encruzilhada do Sul | Foto: FAZENDA DOS PINHEIROS / DIVULGAÇÃO / CP.

Dois produtores, um de Encruzilhada do Sul e outro de Realeza, no Paraná, já apuram na prática os resultados da experiência da Fazenda Esperança. Francisco Freitas, da Fazenda dos Pinheiros, no município de Encruzilhada, iniciou a reprodução de Braford com embriões de alta genética há três anos. Comprou um pacote de embriões da Esperança e teve um grau de prenhez de 52% das vacas onde o material foi implantado, 12% acima da média, segundo ele. Hoje, Freitas tem 31 machos, 26 fêmeas e 30 animais nascidos do processo. Sua meta é ter pelo menos 30 touros por ano para vender. "Eu vendia um terneiro por R$ 3 mil e agora consigo R$ 15 mil por touros que têm a genética renomada de touros argentinos, por exemplo", comemora. O pecuarista também está investindo na produção dos próprios embriões, na propriedade cuja administração divide com com o pai, Ediney Francisco Machado de Freitas, de 68 anos, e o avô, Nilo Rogério Silveira Freitas, de 90 anos, ainda ativo na fazenda.

Douglas Donadel, de Realeza, no sudoeste do Paraná, também iniciou o sistema há três anos. Tem hoje 28 matrizes e 10 touros já nascidos da embriologia de alta genética. A primeira venda de Donadel, realizada no ano passado, trouxe satisfação a ele e aos dois sócios da Fazenda Santo Ofício, Luan Pompermeier e Linor Fillipin. “Conseguimos R$ 15 mil por touro”, festeja o empresário. A meta da fazenda é chegar a 2025 com pelo menos 20 reprodutores para a venda por ano. “O método encurta muito o tempo de qualificação do rebanho e a gente trabalha menos”, encerra Douglas.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895