Rebanho gaúcho voltou a crescer em 2022

Rebanho gaúcho voltou a crescer em 2022

Carne “made in RS” representou apenas 53% da proteína consumida no Estado, evidenciando a alta dependência da produção de outras regiões

Patrícia Feiten

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Com 11,9 milhões de cabeças, o rebanho total declarado de bovinos do Rio Grande do Sul aumentou 9% em 2022, confirmando a tendência de recuperação esboçada no ano anterior. No período, houve também um crescimento de 2,1% nos abates, que chegaram a 1,824 milhão de animais, impulsionados pelo declínio dos preços pagos ao produtor – a cotação do boi gordo recuou 17% e a do terneiro caiu 24% no ano. Os dados são da Carta Conjuntural divulgada nesta sexta-feira (3) pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro).

Segundo o professor Julio Barcellos, coordenador do NESPro, a expansão do rebanho gaúcho ocorreu em ritmo lento, após um cenário de preços altos, redução de abates e consequente retenção de matrizes verificado em 2021. “Isso fez com que ocorressem investimentos na cria e aumentou a produtividade de maneira geral. Em 2022, principalmente no segundo semestre, houve uma queda muito acentuada nos preços e isso fez com que o produtor encaminhasse mais gado para o abate”, explica.

Apesar da ampliação do rebanho, o estudo do NESPro destaca que o Rio Grande do Sul está distante da autossuficiência em termos de abastecimento interno. No ano passado, o Estado produziu 425 mil toneladas de carne bovina, volume considerado pequeno frente à população de mais de 11 milhões de habitantes. “Mesmo com crescimento na produtividade, principalmente pela redução da idade de abate, o peso de carcaça ainda é relativamente baixo. Além disso, o Rio Grande do Sul exportou em torno de 40 mil toneladas (em 2022) e também vende carne para outros estados”, diz Barcellos.

O descompasso entre produção e demanda fica evidenciado na alta dependência dos frigoríficos da carne bovina in natura produzida fora do Estado, aponta o estudo do NESPro. Em 2022, apenas 53% da proteína consumida no Rio Grande do Sul foi procedente de rebanhos gaúchos e o restante veio de outras regiões brasileiras. “Os frigoríficos, em torno de 200 plantas, todos operam com capacidade ociosa”, observa Barcellos, explicando que o déficit se acentua na entressafra, de maio a julho.

Após um período de queda de cotações do boi gordo em 2022, a tendência para o primeiro semestre deste ano, segundo o professor, é de preços estáveis em torno de R$ 9 o quilo vivo. Barcellos também projeta um aumento de 10% nos abates, o que deverá frear a expansão do rebanho. “O produtor entra em 2023 um pouco descapitalizado. Em virtude da seca, houve represamento de gado e esse gado irá para o abate a partir de maio. Essa oferta vai segurar o preço”, prevê.


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