MP aponta dívida “suposta e misteriosa” paga pelo Inter em 2016
Clube destinou R$ 1,6 milhão ao Sindiclubes, dos quais uma parte foi para empresa ligada ao ex-vice jurídico
publicidade
Não bastasse o valor exorbitante, o MP encontrou evidências de que parte dele voltou para a Argos do Brasil Consultoria, que, segundo a apuração do Gaeco, está ligada ao ex-vice-presidente jurídico do clube, Marcelo Castro, que é um dos ex-dirigentes da gestão de Piffero investigados pelo MP. De acordo com a investigação, o Inter pagou a suposta dívida com seis cheques, todos no valor de R$ 266.646,61, com vencimentos entre 26 de fevereiro e 29 de julho daquele ano.
Cinco cheques foram depositados na conta do Sindiclubes. O sexto, porém, foi endossado e depositado diretamente na conta da Argos. Além disso, a entidade repassou à Argos, por meio de três transferências bancárias, um outro montante de R$ 272.656.63. Ou seja, a Argos, ao final de tudo, ficou com R$ 539.303,24 do valor total pago pelo Inter ao Sindiclubes.
O Correio do Povo entrou em contato com a entidade na tarde desta sexta-feira. Em uma primeira conversa, às 15h, o presidente do Sindiclubes, César Cabral, disse que consultaria outros colegas de diretoria para saber o que motivara o pagamento. Depois, em novo contato, às 19h, Cabral disse que os valores eram devidos pelo Inter. “Não tem mistério nenhum. É o valor de um ano de associação, de acordo com a lei”, afirmou. Segundo ele, o montante do valor é calculado a partir do tamanho da folha de pagamento do clube.
Cabral também informou que o Inter não efetuou novos pagamentos. Ou seja, faltam os valores referentes a 2017 e 2018. Ele não soube precisar, porém, de quanto seria esse valor agora. O CP consultou o Inter sobre o assunto e os atuais dirigentes afirmaram que o valor de R$ 1,6 milhão é “absurdo”.
Para justificar o repasse de R$ 539.303,24 para a Argos, o presidente do Sindiclubes explica que a empresa era credora da entidade. Ou seja, o sindicato teria pedido dinheiro emprestado a Marcelo Castro. “Quando eu assumi o sindicato, fizemos uma nova sede, com projeto de arquitetura, uma rádio web, uma série de promoções para os associados. Ele (Marcelo Castro) antecipou um valor para a gente fazer essas coisas”, afirmou, na noite desta sexta, César Cabral. E por que o ex-dirigente faria esse empréstimo? “Ele era um diretor do Sindiclubes indicado pelo Inter. Por isso, emprestou”.
Há indícios fortes de que Castro era ou é ligado ao Sindiclubes, pois no início da gestão de Marcelo Medeiros, em 2017, Castro foi ao Beira-Rio com a intenção de negociar outros repasses do clube ao sindicato. Os novos dirigentes não aceitaram fazer os novos pagamentos.
Além do envolvimento da Argos com o Sindiclubes, o MP investiga outros atos de Marcelo Castro enquanto ele foi vice jurídico do Inter, entre janeiro e agosto de 2015. Um deles trata de acordos realizados entre ex-jogadores e o clube na Justiça do Trabalho com repasse de parte das indenizações a Castro.