Morango com qualidade, mas safra menor
Condições climáticas adversas, como alta umidade relativa do ar e baixa insolação, prejudicam a produção do alimento, cujo volume colhido neste ano deve ficar por volta das 30 mil toneladas, conforme a Emater/RS-Ascar
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No auge da colheita no Rio Grande do Sul a produção gaúcha de morango poderá registrar queda no volume obtido em comparação com 2023. Enfrentando condições climáticas adversas, como alta umidade relativa do ar e baixa insolação, os resultados da cultura são divergentes entre os produtores. Enquanto alguns se dizem insatisfeitos com o que estão obtendo, outros consideram a safra de acordo ou mesmo um pouco acima do colhido no ano passado. Os preços, igualmente, apresentam variações. De acordo com o Informativo Conjuntural da Emater-RS/Ascar publicado no dia 10 de outubro, o quilo era comercializado entre R$ 30 e R$ 35 em São Gabriel, e entre R$ 12 e R$ 25 em Caxias do Sul, por exemplo. Em Bom Princípio, o mínimo era de R$ 13, atingindo, eventualmente, R$ 20.
“De maneira geral, o preço está baixo”, diz Thomas Schwartz, que mantém uma plantação de morango, em estufa com cerca de um hectare, em Nova Petrópolis. Schwartz, que cultiva a fruta há 14 anos, está entre aqueles que avaliam a produção como “dentro do normal”. Ele espera fechar o ano com uma colheita de cem toneladas.
Conforme o coordenador técnico estadual de olericultura da Emater-RS/Ascar, Gervásio Paulus, cerca de 2,6 mil agricultores dedicam-se à cultura no Rio Grande do Sul. Os canteiros ocupam uma área total de 555 hectares, com uma produção anual de 29 mil toneladas. “Este ano deve ficar em torno de 30 mil toneladas”, prevê Paulus.
De acordo com o coordenador, ainda que os produtores tenham enfrentado problemas fitossanitários, muita chuva e pouca insolação, “podemos dizer que a colheita está melhor se compararmos com o mesmo período do ano passado”. Conforme Paulus, as condições climáticas das últimas semanas foram mais favoráveis. “Quando a planta entrou em floração, o tempo ajudou mais”, acrescenta. Paulus explica que a colheita começou a partir da metade do inverno, em julho. “Tem variedades mais precoces, outras mais tardias. Mas o principal da colheita é neste período [de setembro a meados de outubro]. As tardias, até início de dezembro”, detalha.
Em Bom Princípio, município conhecido como a “Capital do Morango” e cujo pórtico de entrada da cidade é uma representação gigante da fruta, o presidente da Associação dos Produtores de Morango, Fabio Flach, tem um parecer oposto ao de Paulus em relação ao andamento da lavoura neste ano. “A safra não engrenou ainda por causa dos fatores climáticos. Atrasou tudo, exceto o plantio. Pegamos maio todo com chuva. Morango quer frio e, nesse inverno, tivemos dias, às vezes, com 40ºC. Isso estressa a planta, que não consegue se habituar com o clima”, afirma. “Vamos ter uma queda de 30% neste ano”, acrescenta o presidente da entidade, que reúne 35 famílias.
Além do excesso de umidade e da fraca insolação, Flach manifesta suspeita de que a composição química da água da chuva está contribuindo para piorar a situação. “Essa chuva que está dando aí é puro ácido, em razão da fumaça que tem no céu [proveniente das queimadas na região Sudeste do país, no Cerrado e na Amazônia]. Parece uma chuva química. Eu acho que é isso. Chove um pouco e metade do morango fica podre”, relata.
Outro fator para ampliar a dificuldade, de acordo com Flach, estaria no manejo adotado pelos produtores da região. “Em Bom Princípio, a maioria está trabalhando 80% no biológico, usando tratamento biológico, que demora mais tempo para fazer efeito. A turma tá colhendo, mas bem abaixo do esperado”, afirma.
Em Pelotas, Rodrigo Prestes, extensionista da Emater-RS/Ascar, diz que, a exemplo do que ocorreu com hortaliças e outras frutíferas, a lavoura de morango “foi bastante afetada pelas condições ambientais, principalmente no último mês, quando tivemos uma chuva bem superior à média histórica no período e, aliado a isso, baixa luminosidade”. Prestes salienta “a redução bastante significativa da oferta, de uma semana para outra, quando começou essa condição bem desfavorável à cultura”. As observações apresentadas por Prestes foram confirmadas na edição do Informativo Conjuntural do dia 3 de outubro. “Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Pelotas, a cultura está em plena produção, mas ainda abaixo da expectativa em razão das condições climáticas adversas e do atraso no desenvolvimento das mudas. O período foi novamente prejudicial à cultura devido à alta umidade relativa do ar e à baixa insolação, favorecendo o surgimento de doenças e exigindo a intensificação dos cuidados por parte dos produtores”, diz o texto. Em Canguçu, conforme o documento, “houve relatos de problemas com ventos fortes e ocorrência de granizo, que causaram danos às estruturas de proteção dos cultivos de morango (estufas)”.
Estufas, aliás, são destacadas por Paulus com um dos principais avanços na cultura do morango no Estado, ao lado dos canteiros sobre bancadas elevadas e com uso de bioinsumos. “Mais de 90% da produção do Estado migrou do solo para a bancada, em estufa”, explica o coordenador.
De acordo com Paulus, na região de Caxias do Sul, uma das três de maior destaque no RS quando se trata de morangos, junto com as de Lajeado e a de Pelotas, o sistema foi implantado em praticamente todas as propriedades dedicadas à cultura. “Isso facilita o manejo. Por ser em estufa, o excesso de chuva em si não foi tão prejudicial. O problema maior foi falta de luz”, pondera. “A migração do solo para a bancada é também uma questão de ergonomia. O produtor não precisa se abaixar”, acrescenta.
Paulus indica ainda o surgimento de novas variedades da planta como um incremento à cultura no Estado. “As mudas de morango, tradicionalmente eram importadas e precisavam passar por um período de frio intenso. Muitas mudas vinham da Patagônia, do Chile e da Espanha. Precisavam passar por um período de hibernação”, detalha. Investimentos em pesquisa resultaram na criação de mudas nacionais. “A Embrapa lançou uma no ano passado, a Fênix, lembra o coordenador.