Aguardada há 30 anos, dragagem do Guaíba entra no raio de atenção de governos e iniciativa privada

Aguardada há 30 anos, dragagem do Guaíba entra no raio de atenção de governos e iniciativa privada

Emergência da enchente pôs urgência na pauta pelo risco de paralisação da navegação

Felipe Faleiro

Canais do Guaíba e Jacuí escoam grande parte da produção do Rio Grande do Sul

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É consenso que a necessidade da dragagem no Guaíba, em Porto Alegre, que era considerada emergencial, passou a ser crítica depois das enchentes de maio. Na última segunda-feira, a Federação das Indústrias do RS (Fiergs) chegou a alertar para a possibilidade de paralisação do Polo Petroquímico de Triunfo em 30 dias, caso nada fosse feito imediatamente. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), por sua vez, liberou R$ 18,5 milhões para a realização da batimetria.

A confirmação da verba foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). “As empresas finalizaram as propostas para realização dos trabalhos, e os contratos deverão estar assinados em setembro”, afirma o superintendente regional do Dnit no RS, Hiratan Pinheiro da Silva. Ele ainda afirma não haver relação entre a nota da entidade e o investimento federal. “Era algo que já estava planejado. Inclusive, não entendemos o posicionamento da Fiergs como uma crítica, mas a entidade como auxiliadora em ações emergenciais”, complementa.

| Foto: Leandro Maciel / CP

A batimetria, ou seja, medição dos canais do curso d’água, etapa anterior ao desassoreamento dos sedimentos trazidos pela enchente, é um primeiro passo. A Portos RS, por sua vez, afirma que apenas para a dragagem, são necessários em torno de R$ 500 milhões, mas os valores só serão fechados após a batimetria em si. Já a Fiergs, procurada para comentar sobre a liberação dos valores, ainda não se manifestou.

Segundo a entidade, há três canais cujas necessidades de retirada da areia e sedimentos são imediatas, sendo que apenas um está efetivamente em Porto Alegre: o das Pedras Brancas, entre o bairro Vila Assunção e o Centro de Guaíba. Os outros dois são o Furadinho, de acesso ao Polo, e o da Feitoria, ao sul da Lagoa dos Patos, na região de Pelotas. O diretor da Praticagem RS, o comandante Geraldo Almeida, acrescenta ainda dois locais, o Canal do Leitão, em frente ao canal de acesso à CMPC, em Guaíba, e o de Itapuan, junto à Ponta de Itapuã, em Viamão.

“Toda a hidrovia foi afetada por ocasião das enchentes. Nestes quatro canais, existem pontos em que, se não houve uma ação rápida para dragar, os navios não poderão passar quando a cota do Guaíba chegar a um metro. Isto deve acontecer antes de outubro. Na semana passada, chegamos nesta altura, e impediu que um navio saísse do Polo Petroquímico por dez dias”, comentou ele, prático entre Rio Grande e Porto Alegre há mais de 25 anos.

Embora a maioria da areia e demais materiais tenham se depositado sob o leito do Guaíba, parte do problema tornou-se visível há algumas semanas, quando uma “nova ilha” formou-se junto às Balseiras, no sentido em direção ao Estádio Beira-Rio. Neste ponto, a profundidade natural é de cerca de 90 centímetros, reduzida com a deposição de sedimentos. O presidente da Associação Hidrovias do RS (Hidrovias RS), Wilen Manteli, afirma que o problema da dragagem é “grave” e é discutido há cerca de 30 anos, sem uma solução definitiva.

“Há, ao menos, 17 empresas médias e grandes que dependem desta navegação. As companhias deixam de receber seus insumos e exportar, afetando o comércio internacional nestas áreas. Estamos em regime de guerra, e me preocupam as promessas de Brasília quanto a isto. A pressão precisa ser diária da sociedade, pensar rápido, porque as pessoas estão sendo duramente atingidas. Se não for feita a dragagem, será paralisado um modal fundamental de transporte”, diz ele.

Para Manteli, é preciso contemplar a dragagem em 350 quilômetros de hidrovias onde há transporte de carga e passageiros. Tanto a Fiergs, em manifestação anterior, quanto a Hidrovias RS, disseram acreditar que o material a ser retirado pode ser usado para aterros e insumos, inclusive nas construções civil e pesada. “A areia a ser retirada tem valor comercial, e estamos em um estado empobrecido”, comenta o presidente da Hidrovias RS. Também para ele, é preciso remover também as novas ilhas eventualmente criadas, pela possível ação do vento que poderá carregar ainda mais sedimentos para os canais, ampliando o problema. “Há 30 anos, se houvesse sido feito algo, este desastre seria reduzido”, avaliou Manteli.


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