Aumento do nível do Arroio Feijó preocupa moradores da zona Norte de Porto Alegre e de Alvorada após chuva
Previsão de mais precipitações até o final dessa semana traz risco de transbordamento do arroio

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O aumento do nível do Arroio Feijó, que divide os municípios de Porto Alegre, Alvorada e Viamão, está causando apreensão em moradores da região ao redor após as fortes chuvas que caíram entre essa segunda e terça-feira. Apesar da diminuição da precipitação, a previsão de novas chuvas deve seguir até o final desta semana, preocupando a população residente próximo à ponte no bairro Santa Rosa de Lima, na zona Norte de Porto Alegre, e no bairro Americana, na divisa com Alvorada, região Metropolitana, próxima ao arroio.
“A chuva que deu não era para encher que nem está”, relata Roberto Lopes, morador da avenida Beira Rio, bairro Americana, há 10 anos. Ele teme que a água invada novamente a rua caso volte a chover.
“Ele [o arroio] geralmente está baixo, e antigamente demorava muito para subir o nível que está agora. Mas essa noite, só com essa chuva que deu, ele está em um nível bem alto. Se der mais uma chuvinha, ele transborda para fora. O perigo é entrar nas casas de novo, que nem foi o ano passado”, relata.
Ele conta que, após a enchente, houve novos transbordamentos e alagamentos na região. Se antigamente era necessário chover pelo menos por dois dias para ter algum alagamento, hoje qualquer chuva aumenta o nível rapidamente.
“Ano passado, todo mundo teve que sair daqui, porque não tinha como ficar dentro das casas. Foi até a metade das casas, perdemos tudo. Demorou um mês para baixar toda a água. A gente voltou e tivemos que limpar tudo, foi muita água”, conta Roberto.
Luciana Gonçalves, também moradora da avenida, não dormiu nessa noite, preocupada com a elevação da água e que precisasse levantar seus móveis caso invadisse sua casa. "Qualquer chuva aqui, já sobe [o nível do arroio]. Ninguém dormiu de noite, todo mundo cuidando para ver", relata. “E agora está prometendo muita chuva até sexta, então o pessoal vai ficar naquela apreensão”, acrescenta.
O acúmulo de lixo é evidente em vários pontos do arroio. Natasha Brasil, mãe de duas crianças, conta que uma árvore que caiu no arroio na enchente em maio de 2024 até hoje não foi retirada, e bloqueia a passagem de lixo, que está acumulado no local. “Ela está travando o lixo, e quando vem chuva forte ele vem amontoado todo pra lá”, ela aponta, em direção à ponte. Natasha também alega a falta de atenção da prefeitura na região. “É bem preocupante. Aqui é o primeiro lugar que alaga, e a gente é como um nada”, relata. “Ano passado, quando deu enchente, a gente não teve socorro. Aqui os próprios moradores tiveram que se ajudar”, diz.
Santa Rosa de Lima é um dos bairros associados a maior risco de desastres, segundo estudo divulgado em maio deste ano pelo Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A proximidade do Arroio Feijó e várzea do Rio Gravataí aponta possibilidade de inundação, enxurrada e alagamento.
Roberto conta que a avenida do bairro Americana não recebe limpeza há muito tempo. "Antigamente eles limpavam, tiravam bastante areia e o lixo com as máquinas, hoje em dia não estão fazendo mais", conta. Em março deste ano, o município foi uma das cidades contempladas pelo Programa Desassorear RS, promovido pelo Governo do Estado, contratado para realizar remoção de sedimentos e limpeza da área ao longo de 3,7 km do Arroio Feijó, principalmente nas áreas mais vulneráveis.
Chuva deve permanecer ao longo da semana
A MetSul Meteorologia alertou que Porto Alegre deve enfrentar novos episódios de chuva até sexta-feira, com perspectiva de volumes "muito altos que podem exceder a média histórica de precipitação de junho inteiro em poucos dias". Modelos indicam que a chuva entre hoje e sexta-feira deve passar de 100 mm na Capital, mas algumas simulações computadorizadas chegam a sugerir volumes entre 150 mm e 200 mm nesses dias.
O prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo, em entrevista coletiva durante evento de divulgação de campanha para cuidados com a limpeza urbana da cidade, afirmou que a chuva deve provocar transtornos, mas está monitorando as previsões. “De ontem até amanhã, tem previsão de chover quase o mês de junho, mas está tudo sob controle”, diz. Ele terá reunião com a Defesa Civil nesta tarde para verificar se deve ser emitido um novo alerta.
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