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Excesso de velocidade é apontado como a principal causa de acidentes nas alças da BR 448 e da nova ponte do Guaíba

Engenheiros e PRF apontam que trechos têm boa estrutura, mas exigem atenção redobrada dos motoristas

Acidentes recentes chamaram a atenção nas alças da BR 290 e da BR 448
Acidentes recentes chamaram a atenção nas alças da BR 290 e da BR 448 Foto : Ricardo Giusti

Os recentes acidentes registrados nas alças de acesso da BR 448 e na nova ponte do Guaíba reacenderam um alerta sobre a segurança viária nos principais corredores de entrada e saída da Região Metropolitana de Porto Alegre. Tombamentos de carretas, colisões e casos graves, como o de uma motorista soterrada por serragem após o tombamento de um caminhão no início do mês, chamam a atenção para o que parece ter se tornado parte da rotina em trechos curtos, mas perigosos.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os trechos não aparentam apresentar falhas estruturais e não têm índices de acidentes acima da média, a ponto de chamara a atenção para algo mais grave, no comparativo com trechos de outras rodovias no Estado.

O principal problema, segundo o assessor de comunicação institucional da corporação, Laudson Viegas, está no comportamento dos condutores. “Geralmente, em alças de acesso, os acidentes são causados por velocidade incompatível com o permitido para a via. Nestes dois trechos, a característica é que os motoristas vêm a mais de 100 km/h e precisam reduzir para 50 km/h. Se o veículo chega na velocidade indicada, ele consegue fazer a curva sem nenhum problema”, explica.

Viegas afirma que as vias apresentam sinalização viária correta e que o policiamento é constante, justamente para que a presença policial reforce a necessidade, para os condutores, de redução da velocidade. “O trecho está bem sinalizado, mas o motorista tem que estar atento. Se ele respeitar e reduzir a velocidade, dificilmente terá problemas. A PRF reforça o patrulhamento nessas rodovias, dada a importância delas para o Estado”, completou.

Projetos seguros, mas que exigem prudência

O professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Feevale, Glauber Silveira, também afasta a hipótese de falhas de projeto. Segundo ele, as alças de acesso são trechos naturalmente críticos, onde forças físicas atuam sobre o veículo e exigem atenção redobrada.

“Qualquer veículo ao fazer uma curva fica sujeito à força que o empurra para fora do alinhamento. Quanto maior a velocidade, maior será esta força que, tecnicamente, é o que pode causar a perda de controle do veículo e seu tombamento”, explica Por isso, segundo o engenheiro, essas interseções são projetadas com superelevação e largura extra nas faixas para garantir segurança.

Silveira destaca que o projeto geométrico das interseções da BR 448 com a BR 290 foi elaborado conforme as normas técnicas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e passou por todas as etapas de aprovação. “Muito difícil que existam erros de projeto. É mais provável que os acidentes estejam ocorrendo por excesso de velocidade. Sob este aspecto, talvez, o projeto de sinalização possa ser revisto ou melhorado, assim como avaliada a possibilidade de colocação de radares para o controle de velocidade”, observa.

O professor da Feevale reforça que existem normas e manuais de projeto específicas para o Projeto de Interseções. O DNIT, por exemplo, tem manual próprio, assim como vários órgãos rodoviários estaduais. “A partir de estudos prévios de tráfego, que incluem o tipo e quantidade de veículos que vão passar na interseção, são elaborados projetos geométricos que consideram as tipologias e dimensões dos veículos”, detalha.

Além dos estudos, computadores são utilizados para simular a movimentação dos veículos, possibilitando a identificação de eventuais ajustes a serem realizados nas condições geométricas e de conforto dos usuários. “Sempre com o intuito de propiciar a máxima segurança viária possível”, completa Silveira.

DNIT reforça sinalização

Questionado sobre a situação nos dois acessos, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que, na alça da nova ponte do Guaíba, no sentido Interior-Litoral, foi implantada uma sinalização mais ostensiva. O reforço incluiu novas placas e redutores de velocidade no pavimento, além das sinalizações já existentes.

Conforme o órgão, as medidas visam melhorar a segurança dos motoristas que acessam a Capital por esse trecho. Com relação à BR 448, o DNIT informou que a rodovia está sob a administração da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

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Campanha do Setcergs reduz mais de 60% os acidentes

Com maior incidência entre os acidentes registrados em pontos como as alças de acesso à BR 448 e à nova ponte do Guaíba, o setor de transportes tem trabalhado para a conscientização dos motoristas, incentivamento a direção defensiva. Um dos exemplos é o Programa de Segurança Viária (PSVS), do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs).

Atualmente em sua quarta edição, a iniciativa tem o intuito de reforçar o compromisso do setor com a segurança nas rodovias, assim como a gestão responsável das operações. Conforme a entidade, a iniciativa já conseguiu transformar a cultura das transportadoras e apresentar resultados considerados expressivos entre as empresas participantes. Como destaque está a redução de 62% nos acidentes por milhão de quilômetros rodados.

Além disso, o Setcergs também já conseguiu, após a realização das campanhas, uma diminuição de 43% nos picos de velocidade e um aumento de 59% para 81% no cumprimento dos planos de manutenção preventiva. “O avanço de 74% no nível de maturidade em gestão de segurança viária reforça que investir em práticas estruturadas fortalece a sustentabilidade, a eficiência e a competitividade das transportadoras gaúchas”, destacou, em nota, a entidade.

Acidentes

Apesar de os números absolutos de acidentes não serem superiores aos de outras rodovias, a proximidade com áreas urbanas faz com que os impactos sejam mais perceptíveis e causem grandes transtornos no trânsito.

No dia 7 de outubro, uma mulher identificada como Eduarda Rosa Corrêa, de 23 anos, ficou soterrada por uma carga de serragem em um sinistro que envolveu o seu carro e um caminhão. O veículo pesado tombou sobre o outro na alça de acesso para a BR 448, próximo da Arena do Grêmio. O material levado pelo caminhão cobriu o carro, mas, felizmente, a jovem sobreviveu e foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros.

Além do ocorrido recente, diversos outros acidentes já aconteceram nas duas alças. Em julho deste ano, um caminhão-cegonha que transportava sete carros tombou sobre a nova ponte do Guaíba, no acesso à BR 290. Um dos carros que era transportado se desprendeu e caiu sobre a rua Voluntários da Pátria.

Veículos menores também já foram vítimas do trecho, inclusive em acidentes com óbito. Um dos casos de maior repercussão ocorreu em março de 2014, quando um motociclista de 24 anos colidiu contra a mureta de proteção e despencou de cima da rodovia, na altura da alça de acesso à BR 290, próximo à Arena do Grêmio.