Placas de aluguel e venda se espalham por casas da zona Sul de Porto Alegre
Moradores novos e antigos contam porque resolveram viver na área, mesmo com o risco de enchentes

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A zona Sul de Porto Alegre, apesar de suas obras de infraestrutura em andamento, a exemplo da revitalização da orla da praia de Ipanema e de consertos em antigas tubulações, obras estas do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), apresenta, em muitas de suas diversas ruas, um estado de abandono visível, com diversas placas de aluguel e venda em casas não apenas de padrão mais alto, como aquelas localizadas no próprio bairro de Ipanema, além do Guarujá, entre outros da redondeza.
Não é incomum transitar pela área e visualizar uma quantidade tal de anúncios de imobiliárias que denota a sensação de que houve uma saída generalizada de habitantes, especialmente depois das enchentes de maio do ano passado, e cujo inicio completa 13 meses neste começo de junho. Já desde 2024, os relatos davam conta de que residências de até três andares estavam sendo comercializadas por valores até 90% menores, pela intenção dos antigos moradores de deixar o passado tomado pela água para trás.
Mas há também quem optou ficar, seja por ainda relativas sensações de segurança e tranquilidade, ou seja, mais qualidade de vida. É o caso das vizinhas Irma Ávila e Izolete Rodrigues, ambas professoras, e que vivem no mesmo condomínio no Guarujá há mais de 20 anos, e que não tem vista para o Guaíba. Na manhã da última segunda-feira, ambas caminhavam pela margem do curso d’água em meio ao frio intenso. A água das inundações históricas não atingiu as residências delas, um dos fatores para que elas não deixassem os locais, porém o susto foi muito grande.
“Alguns ficaram com medo, já eu não saí. É muito difícil você sair de casa e já enxergar o Guaíba”, comentou Irma. “Depois que a água baixou, conseguimos ver a destruição. E as pessoas arrumando muito, e depois ainda a quantidade de cartazes”, complementou Izolete. “Aqui é um bairro bastante tranquilo, dá para observar o parque, tem espaço para caminhar, não é em toda a cidade que tem”, completou.
Transitar pela área é ainda garantia de visualizar placas informando de que a comunidade está vigiando quem circula por ali, recado este especialmente direcionado a possíveis infratores da lei. Também professora, Calhandra Pinter se mudou em março do ano passado, dois meses antes das enchentes, do Menino Deus, onde vivia com o marido e dois filhos, para o Guarujá, um pouco mais próximo do Guaíba.
“Lá começaram a ter muitas questões com pessoas em situação de rua, o que realmente é um problema social. Mexiam naqueles contêineres, então ficava muita sujeira na rua, e a administração pública não dava conta. Pensamos nos nossos filhos. Para nós foi muito bom, aqui é todo um outro estilo de vida, ali nos bairros mais centrais é muito corrido, tem muito barulho, e até a poluição a gente vê que é muito diferente”, afirmou ela. Ao contrário de Irma e Izolete, no entanto, a casa de Calhandra foi invadida por cerca de 70 centímetros de água, o que fez a família sair de casa por mais de 20 dias, levantando os móveis e retirando veículos antes disto. No outro lado da mesma rua, permanece o assombro da marca da água das enchentes na residência em frente.
“Quando eu comprei, de fato havia bastante oferta de imóveis. Vejo que, hoje, têm muitas placas de vende-se porque as pessoas têm medo do que aconteça, mesmo porque segue o assoreamento do Guaíba. Quando chove bastante, o nível aumenta mais. As pessoas das ruas mais próximas têm mais medo do que nós”, salientou ela. A casa nova tem garagem e, principalmente, espaço em frente para os filhos andarem de bicicleta, o que, de certa maneira, para ela, compensa os possíveis riscos. “Eu não trocaria aqui por outro lugar”.