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RS tem desafios econômicos, climáticos, educacionais e demográficos para o futuro, apontam especialistas

Desafios locais para o país e o estado diante do cenário global foram tema de debate da tradicional reunião-almoço Menu POA

MenuPOA aborda "O futuro do RS diante do novo cenário global" com a participação do vice-governador Gabriel Souza, do economista Aod Cunha
MenuPOA aborda "O futuro do RS diante do novo cenário global" com a participação do vice-governador Gabriel Souza, do economista Aod Cunha Foto : Pedro Piegas

Os desafios locais para o Brasil e o Rio Grande do Sul diante do cenário global foram tema de debate da tradicional reunião-almoço Menu POA, promovida pela Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) nesta terça-feira. Ainda que haja desafios globais, os convidados debateram desafios locais, como a maneira como o tarifaço – que foi tema de conversa entre o presidente Lula e o presidente americano Donald Trump nesta segunda-feira – traz impactos em diversas esferas para o Estado. Entre os convidados, esteve Gabriel Souza, vice-governador do RS; Aod Cunha de Moraes, economista, ex-secretário da Fazenda do RS e Anderson Trautmann Cardoso, sócio fundador do Souto Correa Advogados.

A presidente da ACPA, Suzana Vellinho Englert, destacou que o painel foi motivado pelos recentes acontecimentos entre os governos americano e o brasileiro, e que o antagonismo nessa relação traz incertezas e consequências, principalmente na economia. Para Englert, é necessário debater o cenário global e entender como a economia, a tecnologia, a sustentabilidade e as novas relações de trabalho remodelam a forma como produzimos, consumimos e nos debatemos. "O futuro do Rio Grande do Sul dependerá da nossa habilidade em dialogar com o mundo, bem como atrair investimento, valorizar a educação e a ciência, fortalecer a cooperação entre o setor público e o privado e sobretudo de acreditar no potencial de quem constrói diariamente o nosso estado", afirmou.

Aod Cunha tratou sobre como o cenário global afeta o Brasil e o Rio Grande do Sul, mas, também, o que é necessário o Estado olhar independentemente do cenário global, já que, na sua análise, os desafios são caminhos próprios de crescimento econômico. Na visão de Aod, o Rio Grande do Sul teve reformas positivas, organização no setor público e uma situação fiscal melhor, mas ainda tem desafios, como a qualidade da educação, enfrentamento de intempéries climáticas, as secas e a irrigação, que afetam o agronegócio e, indiretamente, a indústria, os comércios e serviços. O cenário demográfico, para ele, também é desfavorável, e por isso, o desafio está na necessidade de uma força de trabalho mais produtiva.

Na sua análise, a economia teve um crescimento significativo até a década de 80, com 3% ao ano, considerando a abertura ao comércio mundial e os custos mais baixos de produção, mas o Brasil não conseguiu aproveitar os recursos globais. "O Brasil cresceu, mas ao invés de crescer com três, seis e meio da média global, ou quatro, cinco dos países emergentes, ele cresceu no mais próximo de 2%", afirmou.

Em relação ao tarifaço, o economista reconhece os diálogos positivos entre as diplomacias e acredita que isso pode ajudar nas resoluções. Já olhando para um cenário macro sobre o PIB, na sua visão, os impactos não são tão significativos. "As estimativas que a gente tem Brasil é de -1 e 2% de crescimento, sobre um crescimento de 3%", analisa. Porém, reconhece que os impactos são grandes setorialmente, principalmente aos que ainda não foram isentados. "Os Estados Unidos tem um mercado relevante, com setor de couro, exportação de carnes, armamentos no caso do Rio Grande do Sul. Tem situações complicadas setorialmente para empresas de geração de emprego, mas tenho expectativa que agora nós vamos uma boa direção de negociações", afirma.

O vice-governador Gabriel Souza também relacionou as consequências empregatícias do tarifaço, e relacionou a imposição de tarifas dos EUA sobre o Brasil à “radicalização extremada” da política. Na sua visão, o processo de polarização no Brasil sempre existiu, foi intensificado nos processos eleitorais e começou a não se restringir ao período eleitoral, mas sim que a população passou a ficar presa em uma espécie de "Caverna do Dragão", ultrapassando a política e “encharcando” os demais as demais dimensões da vida humana.

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Souza lembrou que o Rio Grande do Sul tem 140 mil empregos ameaçados direta e indiretamente pelo tarifaço, e que, ainda que haja uma redução marginal no PIB, setores como coureiro, calçadista, armamento e pólo moveleiro poderá comprometer não só na política e na cultura mas na área econômica das casas de família, como consequências da “radicalização aprofundada” no mundo. "Não há outro jeito do ponto de vista da diplomacia que não conversar. Temos que colocar disputas, desavenças ideológicas abaixo das questões que realmente importam que é o interesse público", disse.