Após tocar R$ 4,94 pela manhã, dólar desacelera e fecha a R$ 4,89

Após tocar R$ 4,94 pela manhã, dólar desacelera e fecha a R$ 4,89

Moeda norte-americana valorizou pela quinta semana consecutiva

AE

Dólar acumulou alta de 2,11% na semana passada

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Após uma arrancada pela manhã desta terça-feira, quando se aproximou do nível de R$ 4,95 na máxima (R$ 4,9412), o dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde e chegou a operar pontualmente em terreno negativo, com mínima a R$ 4,8898. No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 4,8976, alta de apenas 0,06%. Foi o quinto pregão de valorização da moeda norte-americana nas seis primeiras sessões de agosto, o que leva a ganhos de 3,55% no mês.

Analistas atribuíram a reação do real ao longo da tarde a movimentos de ajustes de posições no segmento futuro, com realização parcial de lucros no intraday, em meio à virada dos preços do petróleo no mercado internacional, após quedas de mais de 2% pela manhã.

O contrato do tipo Brent para outubro fechou em alta de 0,79%, diante de revisão para cima na projeção do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos para o preços da commodity no segundo semestre de 2023. Operadores relataram também internalização de recursos por parte de exportadores no período vespertino, estimulada pelo dólar acima de R$ 4,90.

O real, que apanhou mais que seus pares nos últimos dias, marcados por uma depreciação de divisas latino-americanas, hoje apresentou o melhor desempenho entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes.

Lá fora, dados fracos da balança comercial chinesa em julho avivaram temores de desaceleração mais forte da economia global, deprimiram preços de commodities metálicas e agrícolas e levaram a uma busca pela moeda americana e pelos Treasuries, cujas taxas recuaram. Termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY voltou a superar a linha dos 102,500 pontos, com máxima aos 102.796 pontos.

Por aqui, o movimento comprador teria sido em parte acentuado pela manhã com a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que reforçou a perspectiva de cortes seguidos da taxa básica em 0,50 ponto porcentual. Uma ala dos analistas pontua, contudo, que esse primeiro impacto provado pelo documento se dissipou ao longo da tarde, dado que o nível de juro real ainda seguirá elevado, potencialmente atraindo investidores.

Para o analista de câmbio sênior Elson Gusmão, da corretora Ourominas, a ata do Copom não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio nesta terça-feira. Tirando o ambiente externo de pouco apetite por risco, o mercado parece mais atento, segundo ele, ao ruídos em torno da aprovação final do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, cujo adiamento pode sustentar um dólar mais alto no curto prazo. "Mas a tendência ainda é de queda do dólar. Temos juros ainda algo e o investidor estrangeiro pode voltar a trazer dinheiro para a bolsa", afirma Gusmão.

Em sua ata, o comitê repete a mensagem de que vai manter "uma política monetária contracionista" para promover a ancoragem das expectativas, que vê ainda como parcial, e levar a inflação à meta de 2%.

Os membros do comitê, diz o documento, "unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões", em referência a cortes de 0,50 ponto porcentual. Tal ritmo seria o "apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário". Há a ponderação de que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária.

Taxas de juros

O mercado de juros se ajustou em forte queda, repercutindo a ata do Copom e a dinâmica baixista das curvas no exterior. No documento, os diretores reforçaram a mensagem do comunicado, de que o ritmo de cortes da Selic em 0,50 ponto porcentual é apropriado para as próximas reuniões, mas ainda assim o mercado manteve as apostas na aceleração para 0,75 ponto no Copom de setembro e vê agora possibilidade de taxa terminal abaixo de 9%. Apesar disso, a curva perdeu inclinação com os vértices intermediários e, principalmente, longos mostrando queda mais acentuada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,460%, de 12,476% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu a 10,44%, de 10,53%. No miolo da curva até o DI janeiro de 2027, as taxas voltaram a operar na casa de apenas um dígito. A deste contrato projetava 9,98%, de 10,11% na terça. O DI para janeiro de 2029 cedeu a 10,44%, de 10,57%.

De forma geral, o mercado viu a ata com um tom mais <i>hawkish</i> do que o comunicado, o que, no entanto, não foi suficiente para fazer refluírem as apostas de que o ritmo pode ser acelerado nos próximos encontros. No meio da tarde, a curva precificava entre 30% e 35% de chances de redução de 0,75%, contra entre 70% e 65% de probabilidade de que se repita 0,50, quadro semelhante ao de segunda-feira (32% a 68%). Para o fim do ano, a projeção é de 11,50% e para o fim de 2024 já há apostas na taxa abaixo de 9% (entre 9% e 8,75%).

Para aqueles que sentiram falta de uma explicação mais técnica para a opção pelo corte de 0,5 ponto em detrimento do 0,25, o Copom argumentou na ata melhora do quadro inflacionário aliada à queda das expectativas em prazos mais longos. "Esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", disse o BC no comunicado e na ata.

Ante a desconfiança de que depois da entrada dos dois novos diretores (Gabriel Galípolo e Ailton Aquino) com votos mais <i>"dovish"</i> o colegiado poderia ficar ainda menos ortodoxo no futuro, dada a expiração de mandato de dois membros chamados de "mais técnicos" (Fernanda Guardado e Mauricio Moura) no fim do ano, a ata disse que o colegiado teve entendimento "unânime" de que deve-se garantir a credibilidade e a reputação do BC em qualquer formação da diretoria. "Foi unânime o entendimento de que, independentemente da composição da diretoria colegiada ao longo do tempo, deve-se garantir a credibilidade e a reputação da instituição", diz a ata.

"Depois da virada de mão do Copom, o mercado está testando os limites do BC", afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, para explicar o comportamento dos DIs.

Para Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, o fechamento da curva foi na contramão do que mostrou a ata, e o cenário para os próximos cortes está agora ainda mais dependente dos dados. "É esperado que a inflação vai voltar a subir e ainda há o risco para combustíveis", afirmou, referindo-se à defasagem entre preços internos e externos.

Borsoi, da Nova Futura, destaca ainda que a reação da curva à ata foi potencializada pelo ambiente de queda global de juros, após a frustração com a balança comercial de julho na China, que pesou bastante no setor de commodities, embora o petróleo tenha virado para cima no meio da sessão. Além da China, receios com o setor bancário nos Estados Unidos agravaram a aversão ao risco, provocando uma corrida para a segurança dos Treasuries.

A taxa da T-Note de dez anos, referência global, chegou a cair abaixo de 4% pela manhã, mas no fim da tarde estava em 4,02%, de 4,08% no fim da tarde da segunda-feira.

Bolsa

Mais cedo, o Ibovespa contava nesta terça-feira com tímido apoio de Petrobras, retirado em direção ao fechamento (ON -0,06%, PN +0,10%), e ajuda ainda menor do setor bancário - destaque no encerramento apenas para a recuperação parcial de Bradesco (ON -0,36%, PN +0,46%) -, sem conseguir, dessa forma, quebrar a série negativa deste começo de agosto, com perdas para o índice em todas as seis primeiras sessões do mês, ainda que em grau leve de correção.

Nesta abertura de mês, a referência da B3 cede 2,34% e, na semana, cai 0,35%. Nesta terça, chegou a esboçar leve ganho no melhor momento da tarde, mas ainda fechou em baixa, de 0,24%, aos 119.090,24 pontos. Apesar do modesto ajuste neste começo de agosto, as seis perdas são a mais longa sequência negativa do Ibovespa desde junho do ano passado, quando emendou oito baixas entre os dias 3 e 14 daquele mês.

No pior momento da sessão, resvalou nesta terça nos 117.491,95, o menor nível intradia desde 20 de julho, e na máxima desta terça-feira chegou aos 119.552,69 pontos, em leve alta de 0,15% no meio da tarde. As máximas se correlacionaram aos movimentos do dólar, que tocou na mínima do dia a marca de R$ 4,8898, em leve baixa de 0,10%, tendo se mantido em viés de alta na maior parte da sessão, com pico a R$ 4,9412 e fechamento perto da estabilidade (+0,06%), a R$ 4,8976. Na B3, o giro financeiro desta terça-feira ficou em R$ 22,0 bilhões.

Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para Petz (-6,10%), Dexco (-5,36%) e Méliuz (-3,39%), com Hapvida (+6,08%), Yduqs (+3,99%) e Alpargatas (+3,28%) no lado oposto. Itaú, que divulgou balanço do segundo trimestre após o fechamento de segunda-feira, encerrou nesta terça-feira com leve perda de 0,22% (PN), em dia mais uma vez negativo para os grandes bancos, em especial Santander (Unit -1,26%).

Fatores como a fraca leitura sobre o comércio exterior da China em julho - afetando em especial as ações do setor metálico (Vale ON -0,65%, Gerdau PN -2,99%), com exposição ao país asiático - e a ata do Copom, ponto alto da agenda doméstica, divulgada de manhã, contribuíram para a cautela e os movimentos contidos observados ao longo da sessão.

"A ata do Copom não trouxe visão muito clara com relação às próximas quedas da Selic. Uma parte do mercado considera que os próximos ajustes possam ser mais incisivos, com a ancoragem das expectativas de inflação - mas outra parte se mostra mais conservadora. Diante dessa divisão, há um certo tom cauteloso, o que deixa o mercado meio de lado. Lá fora, a inflação continua em patamares elevados, é motivo de alerta ainda, com efeito também para o Brasil", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

Ele ressalta que fatores externos permanecem em pauta, apesar da visão prevalecente, otimista, quanto à inflação doméstica e a trajetória da Selic, ambas convergindo para baixo no momento, apesar de o setor de serviços ser ainda motivo de atenção.

"A tendência global hoje foi de aversão a risco, com apreciação do dólar e queda das bolsas, desde a manhã. Dados da China sobre a balança comercial desapontaram. E a Moody's rebaixou as notas de dez bancos americanos. Na Europa, houve anúncio, na Itália, de aumento de imposto sobre lucro de instituições financeiras. Aqui, o Ibovespa chegou a virar para o positivo, mas, mesmo que não tenha conseguido sustentar a alta no fechamento, mostrou perdas menores do que as vistas lá fora", diz Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.

"A ata do Copom, na nossa opinião, veio mais dura. Apesar da decisão dividida sobre o corte de 0,25 ponto e da desconfiança sobre o ritmo de queda de meio ponto porcentual para a Selic, definição que foi tomada por unanimidade, a barra para um corte de juros mais intenso do que isso foi elevada, com o BC preocupado com a reancoragem de expectativas. Os juros futuros recuaram, refletindo a cautela externa também, mas os vencimentos longos mostraram uma retração maior, hoje, com desinclinação da curva", acrescenta a economista.

Para Alex Carvalho, analista da CM Capital, o cenário externo tem se mostrado mais volátil, com a China trazendo números econômicos que não têm agradado aos investidores, o que se combinou nesta terça, para a cautela global, com a elevação de tributação sobre bancos na Itália e, especialmente, ao rebaixamento pela Moody's da nota de crédito de alguns pequenos e médios bancos americanos, na semana seguinte ao corte do rating dos Estados Unidos pela Fitch.

"Tudo isso, lá fora, acontecendo no momento em que a Selic começa a ser cortada", observa o analista, destacando, por outro lado, que os investidores devem manter atenção aos resultados trimestrais das empresas brasileiras, em busca de oportunidades em ações cujo desempenho possa ter ficado para trás no primeiro semestre.

Após a divulgação de resultados de nomes como Petrobras, Vale, Santander, Bradesco e, de segunda para esta terça, Itaú e Eletrobras, o mercado conhecerá amanhã os números trimestrais do BTG, antes da abertura, e do Banco do Brasil, depois do fechamento da B3. Com os números divulgados nesta terça, antes da abertura, Eletrobras ON e PNB subiram, respectivamente, 1,96% e 0,90% nesta terça-feira.

"A tendência para o Ibovespa ainda é positiva, mas não deve buscar de imediato o nível dos 123 mil pontos, com que chegou a flertar recentemente. O índice fez 'fundo ali pela região dos 116,5 mil pontos, no fim de junho e em meados de julho no intradia, um suporte importante que, caso venha a ser rompido, poderia levá-lo em direção aos 110 mil pontos", acrescenta o analista.


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