Baixo carbono: futura indústria de hidrogênio verde no Brasil é visada por investidores estrangeiros

Baixo carbono: futura indústria de hidrogênio verde no Brasil é visada por investidores estrangeiros

“Não vamos conseguir alcançar as metas do Acordo de Paris se não for o Brasil”, reiterou o embaixador dos Países Baixos em evento com representantes de setores industriais e energéticos

Vitória Miranda
O embaixador dos Países Baixos no Brasil, André Driessen, e a presidente do Sindienergia-RS, Daniela Cardeal, debateram sobre planos de investimentos em eólicas e hidrogênio no Brasil durante congresso em Porto Alegre

O embaixador dos Países Baixos no Brasil, André Driessen, e a presidente do Sindienergia-RS, Daniela Cardeal, debateram sobre planos de investimentos em eólicas e hidrogênio no Brasil durante congresso em Porto Alegre

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Apontada como o caminho “mais factível” para a descarbonização da indústria pesada, com aproveitamento em setores como fertilizantes, siderurgia, indústrias químicas e transportes pesados, a produção de hidrogênio verde, — obtido a partir da eletrólise da água com uso de energia elétrica renovável —, está em fase de estudos e complementação regulamentória no Brasil.

Com alguns gargalos a serem superados, dentre eles a ampliação das redes elétricas de transmissão, a nova indústria espera ter projetos estruturantes até 2030 e hubs de hidrogênio consolidados até 2035, conforme a Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (Abihv).

Em recente congresso promovido pelo Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS) em Porto Alegre, o embaixador dos Países Baixos no Brasil, André Driessen, destacou a parceria existente entre os dois países para o desenvolvimento da nova indústria e situou o país europeu como um dos futuros importadores do hidrogênio verde produzido no Brasil.

“Não vamos conseguir alcançar as metas do acordo de Paris se não for o Brasil. O Brasil tem recursos importantes, por isso estamos muito felizes com essa parceria. Na Holanda, o hidrogênio verde é muito importante para descarbonizar todos esses processos industriais mais pesados e, nesse momento, o hidrogênio verde é a alternativa mais factível. Para nossa trajetória para uma economia de carbono neutro precisamos ter acesso ao hidrogênio verde”, afirmou o embaixador dos Países Baixos no Brasil, André Driessen.

Os movimentos do setor mostram forte tendência de uma produção inicial para exportação ao mercado europeu, que possui metas agressivas de redução nas emissões de carbono. O Brasil, por sua vez, conforme apresentado na última COP29, tem a meta de reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2035, tomando como base os níveis de 2005.

Tal cenário e a demora no avanço da agenda do hidrogênio verde coloca em dúvida se a produção vai servir às metas brasileiras de 2035. Mas, de acordo com declarações da presidente da Abihv, Fernanda Delgado, a exportação pode ser um início positivo se a política pública orientar para o revertimento dos lucros na expansão da cadeia produtiva voltada ao consumo interno.

Demanda por energia elétrica

A produção de hidrogênio verde demandará a ampliação da capacidade nacional de geração elétrica, visto que os eletrolisadores, turbinas geradoras de hidrogênio, são “ultra-eletrointensivos”.

Nesse contexto, o avanço da regulação sobre energia eólica offshore (no mar) no Brasil é esperado pelos investidores, já que este tipo de empreendimento pode gerar até duas vezes a capacidade energética de um parque eólico onshore (na terra).

Segundo Daniela Cardeal, presidente do Sindienergia-RS, investimentos em eólicas offshore devem incentivar empreendimentos de hidrogênio verde, uma vez que os projetos previstos para o Brasil em ambos setores se localizam na costa marinha, nas regiões dos terminais portuários. Ou seja, um parque offshore pode vir a abastecer uma planta de hidrogênio.

Descarbonização no RS e no Brasil

O Brasil já tem cerca de 85% de sua matriz elétrica renovável, tendo sido o terceiro país que mais atraiu investimentos em energias renováveis em 2023, segundo o relatório Energy Transition Investment Trends 2024.

Mas o país ainda tem um caminho a percorrer no que tange à descarbonização do setor industrial. O país ficou em 12º lugar no quesito “economia de baixo carbono” no Ranking Competitividade Brasil (2023-2024) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que analisou indústrias de 18 países.

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Segundo Tiago Pereira, engenheiro ambiental e membro do Comitê da Indústria de Base Florestal e Moveleira (Combase) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), a federação prevê R$ 2,2 trilhões de investimento na agenda de baixo carbono até 2029.

De acordo com Tiago Pereira, o país tem indicadores positivos e precisa ampliar os diferenciais competitivos. Segundo ele, hoje o país tem cerca de 60% do alumínio produzido de material reciclado (baixo carbono), média de emissões de carbono na indústria de cimento 11% menor do que a média mundial e 12% do aço nacional produzido a partir de carbono vegetal.

“Para cada tonelada de aço produzido no Brasil, pelos indicadores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), emitimos em média 1,2 toneladas de carbono, aqui no RS chegamos a 80 kg por tonelada. É um diferencial competitivo grande, além de utilizar sucata no processo de produção. Papel/celulose e o setor químico e de vidro também tem destaque”, destacou Tiago Pereira.

“A indústria do RS é uma indústria que tem uma vocação enorme para contribuir para essa transição a uma economia de baixo carbono”, complementou Pereira.

“Abordamos a questão de ter os inventários corretos, para você descarbonizar, você tem que medir o que está carbonizando. Então, é importante ter consultorias que entendam o que o porto está poluindo, para zerar essa conta. Cada instituição tem a obrigação de fazer um inventário, a partir da medição se faz um plano de ação”, disse o gerente de Planejamento e Desenvolvimento da Portos RS e diretor de hidrogênio verde do Sindienergia-RS, Fernando Estima.

Fórum de Energias Renováveis 2025

As oportunidades do mercado offshore e de energias renováveis, incluindo a indústria do hidrogênio verde, estarão presentes nos debates do 5° Fórum de Energias Limpas e Renováveis, uma realização do Sindienergia-RS e do Correio do Povo.

O evento ocorrerá no dia 10 de junho, das 8h às 18h, no Teatro CIEE-RS, R. Dom Pedro II, 861 - São João, Porto Alegre - RS.


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