Bolsa fecha em alta de 13,91%, mas acumula perda de 15,63% na semana

Bolsa fecha em alta de 13,91%, mas acumula perda de 15,63% na semana

Dólar terminou a sexta-feira em novo nível recorde, a R$ 4,81

AE

Os ativos brasileiros tiveram melhora nesta sexta, mas não o real

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Com variação acima de 11 mil pontos entre a mínima e a máxima do dia, o Ibovespa encerra esta inédita semana de quatro circuit breakers em alta de 13,91% no fechamento da sexta-feira, aos 82.677,91 pontos, mas ainda cedendo 15,63% na semana, o pior desempenho desde outubro de 2008, durante a crise global. Na mínima de hoje, o índice foi aos 72.621,49 pontos e, na máxima, aos 83.757,51 pontos. No mês, o principal índice da B3 perde 20,63% e, no ano, cede 28,51%. O giro financeiro totalizou R$ 42,6 bilhões nesta sexta-feira, bem superior ao do dia anterior, de R$ 30,2 bilhões, quando o Ibovespa havia fechado em queda de 14,78%, com duas interrupções dos negócios na mesma sessão.

Em Nova York, os três índices de referência fecharam a sessão desta sexta-feira com ganhos na casa de 9%, mas, na semana, acumularam perdas entre 8,1% e 10,3%.
Invertendo o padrão observado nas últimas sessões, os avanços se espalharam pela carteira do Ibovespa nesta sexta-feira, com todos os componentes do índice em terreno positivo no encerramento do pregão, à exceção de Yduqs (-5,49%). Liderando as altas do Ibovespa na sessão, BTG fechou em alta de 27,89% e B2W, de 27,40%, com Marfrig (+25,20%) e JBS (+24,60%) logo a seguir. Entre as blue chips, Petrobras PN ganhou 22,22% e a ON, 22,76%. Vale ON subiu 21,36% na sessão.

Até ontem, o Ibovespa acumulava perda de quase 40% nesse período de ajuste em relação ao pico histórico de fechamento de 23 de janeiro (119.527,63 pontos), em correção especialmente visível após o carnaval, período no qual a disseminação do coronavírus pelo mundo, reconhecida como pandemia anteontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS), derreteu os preços dos ativos de risco, aqui e no exterior. Nos 11 primeiros dias de março, a saída de recursos de estrangeiros da B3 chegou a R$ 12,5 bilhões, com o total de saques acumulados neste início de ano a R$ 52,6 bilhões - com folga, acima da soma observada ao longo de 2019.

"A experiência mostra que as perdas em períodos de recessão no Brasil ficam em torno de 35%. E, nas recessões globais, chegam a 50%", observa Matheus Soares, analista da Rico Investimentos. "O mercado teve agora uma grande queda em período curto, e o ajuste técnico que vimos hoje corrige em parte o exagero que ocorreu", acrescenta o analista. "Não dá para dizer que é um ponto de virada, é cedo para isso. Mas o fato é que ficou barato, favorecendo as compras, na medida em que muitas ações estão sendo negociadas abaixo do que se tem em caixa nas empresas, o que é uma distorção."

Com a contagem da doença sendo atualizada dia a dia, assim como a cascata de efeitos sobre o ritmo de atividade - suspensão de voos, cancelamento de eventos, interrupção temporária de serviços, como educação, e trabalhadores sendo colocados em 'home office'" -, os governos e respectivos BCs seguem se posicionando para reação anticíclica na economia, e fora dela, com medidas sanitárias mais rigorosas para conter a expansão do Covid-19.

"A expectativa era de que o presidente Donald Trump realmente declararia estado de emergência nos EUA, abrindo caminho para medidas mais restritivas de proteção sanitária, como fez a China, que é o caminho conhecido para impedir que a doença se espalhe ainda mais", diz Rafael Wynalda, analista da Toro Investimentos. Ele observa que, apesar de restrições causarem efeitos econômicos negativos em um primeiro momento, a contenção da doença compensaria tal perda de curto prazo, na medida em que favorece a normalização da situação econômica em horizonte mais favorável de tempo.

Dólar

Os ativos brasileiros tiveram melhora nesta sexta, mas não o real. O dólar teve o terceiro dia seguido de alta, acumulando valorização de 3,94% na semana por conta da tensão causada mundialmente pela pandemia do coronavírus. Foi a pior semana desde o início de novembro do ano passado, quando houve a frustração com o leilão do pré-sal. Desde que a crise gerada pela disseminação do coronavírus se intensificou, no final de fevereiro, o Banco Central já injetou quase US$ 18 bilhões no mercado de câmbio, por meio de diversos instrumentos.

No final da tarde desta sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou "emergência nacional" no país e o dólar foi às máximas do dia, a R$ 4,88, com o real acompanhando outras divisas emergentes, que perderam valor em meio ao fortalecimento do dólar. No mercado à vista, o dólar terminou a sexta-feira em novo nível recorde, a R$ 4,8163. No ano, acumula alta de 20% no Brasil, o segundo pior desempenho em uma cesta de 34 moedas, atrás apenas da Colômbia, onde sobe 22%.

Em sessão marcada por volatilidade, o dólar chegou a cair pela manhã e no começo da tarde, batendo na mínima de R$ 4,64, mas o movimento perdeu força perto do fechamento. O responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagen, ressalta que além das declarações de Trump sobre a emergência nacional, que fortaleceram o dólar mundialmente, a tradicional "cautela antes do final de semana" ajudou a pressionar o câmbio no final da tarde, especialmente em meio ao noticiário negativo sobre o coronavírus. Para ele, apesar do clima de pânico no mercado, a atuação do BC hoje e nos últimos dias tem ajudado a conter uma disparada ainda maior do dólar e fazer o real andar em linha com outras moedas emergentes.

O Banco Central injetou US$ 2 bilhões hoje por meio de leilão de linha (venda de dólar no mercado à vista com compromisso de recompra). Desde 27 de fevereiro, foram injetados US$ 17,8 bilhões em vendas quase diárias de swap cambial (venda de dólar no mercado futuro), ou dólar à vista ou leilão linha. Desse total, US$ 10 bilhões foram somente esta semana, marcada pelo dólar batendo em R$ 5,00.

O estrategista em Nova York do banco Natixis para América Latina, Benito Berber, acredita que o BC vai prosseguir com esta estratégia, especialmente se houver problemas de liquidez. Para Berber, o BC deve cortar os juros na semana que vem para 4%, mas não se pode descartar que a taxa básica, a Selic, caia abaixo deste nível, fator que pode pressionar o câmbio, pois deixa o Brasil ainda menos atrativo para estrangeiros. Ele não prevê o dólar abaixo de R$ 4,00 nos próximos 18 meses.

Juros

A melhora do humor nos mercados internacionais prevaleceu sobre as preocupações fiscais e a alta do dólar para levar os juros futuros a fecharem em baixa, mais expressiva nos vértices intermediários, cujo alívio foi em torno de 100 pontos-base no fechamento da regular. O movimento é visto pelos profissionais da renda fixa como uma correção de parte dos prêmios acumulados nos últimos dias de grande tensão, mas que está longe de representar uma tendência. De todo modo, o alívio permitiu resgate das apostas de queda de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom da semana que vem.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,26%, de 4,954% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 caiu de 6,205% para 5,31%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,85%, de 8,883%. A despeito do recuo de hoje, as taxas fecharam a semana com forte acúmulo de prêmios ante a sexta-feira anterior. Na ponta curta, de cerca de 40 pontos-base e nos trechos médio e longo entre 80 e 130 pontos.

A manhã foi tumultuada no mercado de juros, com as taxas batendo nos limites de baixa por duas vezes, refletindo a perspectiva de ampliação das medidas por parte das autoridades para estancar a epidemia do coronavírus. Com isso, a B3 teve de fazer ajustes nestas marcas. As taxas continuaram em queda à tarde, mesmo com o dólar renovando máximas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu anunciar medidas em menos de 48 horas. Lá fora, no intervalo entre a sessão regular e a estendida, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou situação de emergência nacional, o que permitirá a liberação de US$ 50 bilhões para lidar com o coronavírus. Com isso, as taxas na etapa estendida ampliaram o recuo.

Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, nem considera a trajetória das taxas hoje como "melhora". "É apenas uma devolução parcial do que subiu nos dias anteriores, com muito prêmio acumulado. Não é melhora, é um ajuste", resumiu. E, segundo ele, o pré descolou do câmbio porque a piora dos DIs nos últimos dias foi mais acentuada do que o avanço do dólar.

Outros profissionais veem o câmbio também pressionado pelo aumento das apostas de corte da Selic em março. Segundo o Haitong Banco de Investimentos, a precificação na curva a termo hoje ficou em -19 pontos-base, ou 75% de possibilidade de corte de 0,25 ponto porcentual e 25% de possibilidade de manutenção.

Com o foco das atenções no exterior, o temor com a área fiscal, em meio aos riscos de mudança no teto do gastos, o aumento do limite do BPC e possível mudança da meta fiscal, ficou um pouco de lado. "A mudança de meta seria muito ruim, com o governo voltando a práticas antigas, e isso poderia justificar mais prêmios de risco na curva", diz Freitas Filho.


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