Câmbio puxa inflação, mas anima indústrias

Câmbio puxa inflação, mas anima indústrias

Taxa média do dólar deve fechar ano em R$ 2,91, 10% superior à de janeiro

Fernanda Pugliero

Moeda precisa trocar de patamar, onde ficou por 20 anos, diz economista

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A maior alta do dólar nas últimas duas décadas acendeu um sinal de alerta na economia brasileira. A desvalorização tem impactos negativos, mas também positivos. Enquanto um dos efeitos mais comentados pela população, que acostumou-se a planejar férias no exterior, é o aumento do custo de uma viagem internacional, a grande vilã da desvalorização do real frente ao dólar é a inflação. A expectativa dos economistas é que a taxa de câmbio média do dólar feche o ano a R$ 2,91 - 10% acima da média de janeiro, que foi de R$ 2,63. “Parte dessa desvalorização é repassada aos preços, disparando a inflação”, analisa o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Bruno Caldas.

Ele admite que a questão conjuntural beneficia o Brasil em termos de indústria e exportação em 2015. Por outro lado, se o governo não conseguir controlar a inflação, o que se estabeleceu como meta no Ministério da Fazenda, a diferença cambial não tornará o país mais competitivo no cenário internacional. “Esse ganho conjuntural é temporário e não conserta as perdas estruturais.” A desvalorização do real frente ao dólar não torna a indústria brasileira tão competitiva em relação a 2004 quando o dólar também alcançou o patamar de cerca de R$ 3 - devido ao diferencial inflacionário entre Brasil e Estados Unidos. Por lá, a inflação cresceu menos nos últimos 20 anos. “A desvalorização na taxa de câmbio ameniza, mas não resolve o problema estrutural de falta de competitividade da indústria brasileira”, disse
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Para o economista Luiz Augusto Faria, professor de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a alta do dólar diminui um pouco a imensa vantagem dos produtos importados, principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Sobre as importações da China, a vantagem é menor, pois a mão de obra segue mais barata em relação à brasileira. “O dólar precisava mudar de patamar, pois permaneceu muito barato durante 20 anos. É bom para cessar com essa orgia de importações que foi uma tragédia para a indústria brasileira”, argumentou.

Faria explica que a queda do dólar em relação ao real a partir da década de 1990 alterou profundamente a pauta industrial brasileira. O Brasil deixou de ser exportador e passou a importar. “Voltamos a ter uma pauta exportadora igual à da República Velha, de produtos primários, com exportação de pouca vantagem, pouco emprego e renda”, explicou.


Vantagens com a cotação em R$ 3

O professor Luiz Augusto Faria, que é economista aposentado da FEE, cita pelo menos três vantagens de ter o dólar a R$ 3: aumento da competitividade no mercado interno, aumento da exportação de produto industrializado e melhoria na balança de pagamento. “Teremos diminuição do déficit de serviços porque bancos e seguradoras brasileiras ficarão mais competitivos. A população também vai preferir viajar dentro do país do que para o exterior”, exemplifica.

Além da queda do déficit de serviços, a balança comercial também tende a ficar equilibrada se o Brasil passar a vender mais para o exterior do que comprar. O preço a pagar por esse efeito positivo, no entanto, é a alta dos preços, já que a maioria dos produtos são referenciados em dólar. “Economia é como um jogo de varetas, mexer em uma, afeta tudo”, compara.



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