Com entrada de fluxo externo, dólar fecha em baixa, em R$ 5,15

Com entrada de fluxo externo, dólar fecha em baixa, em R$ 5,15

Com exterior e balanços, Ibovespa caiu 0,56%, mas sustentou nível de 105 mil pontos

AE

Dólar firmou-se em queda com o real operando na contramão de outras moedas emergentes

publicidade

O dólar firmou-se em queda nos negócios da tarde desta quinta, com o real operando na contramão de outras moedas emergentes. Para operadores, o recuo está ligado a entrada de fluxo externo, com investidores querendo participar de ofertas de ações, como a do Grupo Soma, que movimentou ontem R$ 1,8 bilhão. O encerramento do mês também leva a ajustes nas carteiras, além de começar a ganhar força a disputa pelo referencial Ptax, usado em contratos cambiais e balanços corporativos.

O dólar caminha para fechar julho com queda de 5%, que, se confirmada, deve ser a maior baixa mensal de 2020. Além disso, após meses de fraco desempenho, o real é em julho a divisa emergente que mais se valorizou ante o dólar. No México e na África do Sul, a moeda americana caiu ao redor de 3%.

Nesta quinta-feira, o dólar à vista fechou em baixa de 0,26%, cotado em R$ 5,1592. No mercado futuro, o dólar para agosto, que está sendo rolado para o próximo vencimento mais líquido, o de setembro, cedia 0,25% às 17h, para R$ 5,1560. O volume de negócios seguia abaixo da média, somando US$ 12,5 bilhões.

O dólar caiu hoje ante moedas fortes, mas operou em alta em países como México, África do Sul e Turquia. Balanços corporativos com resultados mistos, a forte queda do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA do segundo trimestre, que despencou 32,9% em termos anualizados, e novas declarações da Casa Branca contra a China provocaram um movimento de fuga de ativos de risco, que pressionou as moedas de emergentes. No México, a queda recorde do PIB no segundo trimestre, de 18,9% na comparação anual, fez o peso mexicano se enfraquecer ante o dólar.

"O PIB dos EUA mostrou a maior contratação em 75 anos, com chance de apenas uma limitada recuperação pela frente", afirma o economista do instituto The Conference Board, Erik Lundh, prevendo que a maior economia do mundo só vai retomar o nível pré-pandemia em 2021 ou após. A piora do PIB americano trouxe ainda renovadas preocupações sobre a economia mundial e as bolsas europeias caíram, em dia marcado também por retração da atividade econômica da Alemanha.

No mercado local, o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, observa que o real teve comportamento contrário hoje quando comparado a outros emergentes, em dia de liquidez mais fraca. "O mercado está se preparando para o fechamento do mês", destaca ele. Nesta sexta-feira pela manhã é a disputa pelo referencial Ptax de julho, por isso, a expectativa é de volatilidade e volume de negócios mais alto, com este fator técnico podendo predominar sobre o noticiário.

Ibovespa

Em dia de queda de 10% no PIB da Alemanha e de 32,9% na leitura anualizada para o PIB dos EUA no segundo trimestre, os mercados globais passaram por ajuste negativo nesta quinta-feira, mais moderado em São Paulo e Nova Iorque do que o observado na Europa, em sessão na qual a cautela também se ancorou em balanços mistos. Entre os números corporativos, destaque para queda de 40% no lucro do Bradesco no segundo trimestre, com aumento das provisões para inadimplência - ação ON do banco fechou em baixa de 2,54% e a PN, de 3,50%.

Dia negativo também para as ações de commodities, especialmente Vale ON (-2,67%), após a divulgação dos resultados da mineradora, que trouxe lucro de R$ 4,8 bilhões no segundo trimestre, acima da expectativa do mercado, com a melhora da demanda chinesa. Antecipado pelo mercado, o anúncio de que a empresa retomará a partir de setembro a distribuição de dividendos aos acionistas, suspensos desde a tragédia de Brumadinho (MG) em janeiro de 2019, acabou por resultar em um movimento de realização de lucros no papel. Antes da divulgação do balanço, depois do fechamento de hoje, as ações da Petrobras também tiveram ajuste, em baixa de 1,51% para a PN e de 2,14% para a ON, em dia ruim para os preços do petróleo.

Apesar do desempenho negativo em setores de grande peso, como commodities e bancos, o Ibovespa conseguiu encerrar o dia com perdas semelhantes às de Wall Street, em baixa de 0,56%, aos 105.008,70 pontos, sustentando a linha de 105 mil, reconquistada ontem pela primeira vez desde o início de março. Na mínima, foi hoje aos 103.919,94 pontos, saindo de máxima aos 105.606,79 pontos, com abertura a 105.605,17 pontos. O giro financeiro, semelhante ao das últimas sessões, totalizou R$ 29,0 bilhões. Na semana, o índice avança 2,57% e, no mês, 10,47%, cedendo agora 9,20% no ano.

Na ponta do Ibovespa, Localiza fechou em alta de 10,85%, e, no lado oposto, Pão de Açúcar cedeu 6,27%, seguida por Ambev, em baixa de 3,96%.

"O dia foi até tranquilo perto do que poderia ter sido, com a forte retração da economia americana. A leitura foi muito ruim, mas se temia algo ainda pior, com projeções que chegavam a 40% de queda anualizada. Assim, o mercado resistiu em Nova York e aqui também, com os 104 mil aparecendo como suporte importante para o Ibovespa", aponta Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, chamando atenção também para o quadro doméstico mais acomodado, com a retomada da reforma tributária e um cenário político e governamental menos estridente.

"A expectativa pela aprovação no Congresso dos EUA de novo pacote de suporte direto ao consumo é outro fator que contribui para sustentar os preços dos ativos, que ontem refletiam positivamente os sinais do Fed de que continuará dando apoio total à recuperação da economia", acrescenta o estrategista.

A progressão acumulada pelo Ibovespa desde o tombo de 29,90% em março, que coloca o índice entre abril e julho a caminho de seus maiores ganhos desde 2003 em intervalo de quatro meses, mantém em aberto a questão sobre a extensão do rali, em um contexto no qual os investidores estrangeiros acumulam saques na B3 e o doméstico, migrando recursos da renda fixa para a variável, tem sustentado o fluxo que impulsiona os preços dos ativos.

"Há espaço para uma realização mais forte, basta olhar para o descasamento dos preços de ativos de crédito privado, mesmo os de empresas de primeira linha, que refletem uma recuperação econômica aqui no Brasil que será muito mais complicada. O que tem segurado a B3 é o investidor brasileiro, por falta de opção", observa Eduardo Levy, fundador e diretor de investimento da Kilima Gestão de Recursos. "À medida que a economia for reabrindo, será importante olhar para cada setor e conferir como está se comportando", acrescenta Levy, destacando o trabalho muito bom feito pelo BC na condução de juros a patamares até bem pouco tempo "inimagináveis" no Brasil.

Taxas de Juros

Os juros futuros encerraram a quinta-feira com queda firme e de forma generalizada entre os principais vencimentos e renovação de mínimas históricas de fechamento. Pela manhã, já exibiam alívio em meio à oferta do Tesouro em prefixados, menor em termos de risco em relação à última semana, mas ampliaram a queda à tarde após a operação, com destaque para os contratos do miolo e ponta longa da curva.

O quadro de apostas para a decisão do Copom na semana que vem segue mostrando cerca de 80% de chance de corte de 0,25 ponto porcentual na Selic, mas hoje cresceram um pouco as apostas para queda também no Copom de setembro e ainda a percepção de que o juro básico deve demorar mais para subir. Por fim, a perspectiva de que a fraqueza das economias vai sustentar os estímulos monetários por um longo período no Brasil e no mundo, e uma melhora na expectativa para a agenda de reformas no Brasil serviram de pano de fundo para posições mais arriscadas, mesmo num dia de agenda negativa para indicadores domésticos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caiu de 2,742% para 2,63% e a do DI para janeiro de 2023 fechou na mínima de 3,65%, de 3,803% nesta quinta, 29. O DI para janeiro de 2024 fechou na mínima de 4,58%, de 4,763% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 passou de 5,383% para 5,20% e a do DI para janeiro de 2027, de 6,293% para 6,11%.

Após abrirem um pouco pressionadas, as taxas passaram a recuar ainda pela manhã, com demanda menor por papéis prefixados no leilão do Tesouro, o que levou a uma redução da oferta ante a operação da semana passada, de 12% em termos de DV01, que representa o risco dos papéis, segundo a Renascença DTVM.

O movimento de recuo dos DIs deu mesmo a despeito da disparada do IGP-M de julho e do forte aumento no déficit do governo central. Enquanto o índice subiu 2,23% e ficou acima da mediana das estimativas, de 2,14%, o saldo negativo do Governo Central, de R$ 194,734 bilhões em junho, veio bem pior do que apontava a mediana de déficit de R$ 163,5 bilhões.

Segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos, a precificação da curva para as apostas de corte de 0,25 ponto para a Selic no Copom da semana que vem mostra 81% de probabilidade, ante 29% de chance de manutenção. Mas aumentaram de 25% ontem para 30% hoje as chances de uma queda de igual magnitude no Copom de setembro.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895