Com situação fiscal do Brasil, dólar fecha em alta, em R$ 5,62

Com situação fiscal do Brasil, dólar fecha em alta, em R$ 5,62

Bolsa termina em leve baixa de 0,09%, aos 95.526,26 pontos, com foco em Brasília

AE

O real operou nesta quarta-feira descolado de outras moedas de países emergentes

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O real operou hoje descolado de outras moedas de países emergentes, em dia em que a influência do noticiário doméstico acabou ofuscando o exterior positivo. Com os investidores propensos a tomar risco no mercado internacional, o dólar caiu de forma generalizada, chegando a recuar mais de 1% no México, mas aqui o vai-e-vem sobre a situação fiscal do Brasil falou mais alto e a moeda americana acabou tendo novo dia de volatilidade, firmando alta na reta final dos negócios.

Após oscilar entre a mínima de R$ 5,55 e encostar em R$ 5,64, o dólar à vista fechou em alta de 0,53%, cotado em R$ 5,6250. No mercado futuro, o dólar com liquidação em novembro subia 0,57% às 17h, em R$ 5,6295.

O noticiário fiscal dominou as atenções das mesas de câmbio. Primeiro, o dólar foi às máximas do dia com a notícia do portal da revista Veja de que o governo estudava prorrogar o auxílio emergencial até junho de 2021. Pouco depois, o ministro da Economia, Paulo Guedes, negou esta intenção e o dólar caiu para as mínimas. Nos negócios da tarde, a moeda chegou a zerar a queda com a notícia publicada pelo Broadcast, com fonte do governo garantindo que a definição do financiamento do Renda Cidadã só sai mesmo após eleições, mas se não houver fonte de recursos dentro do teto, não haverá programa.

"Com o presidente Bolsonaro interessado em que a Renda Cidadã comece no início de 2021, as preocupações sobre a quebra do teto de gastos não vão diminuir", observa o economista para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, William Jackson. Na avaliação do economista, o novo programa social do governo já provocou uma "confusão" no país e a pressão para mais flexibilidade fiscal em Brasília vai persistir, estressando os investidores. Ele espera o dólar acima de R$ 5,00 ao menos até o final de 2021.

Os estrategistas do Citigroup em Nova Iorque ressaltam que essa montanha russa do noticiário fiscal nos últimos dias só contribui para aumentar a incerteza com o Brasil. O reflexo é a piora dos ativos, com o real perdendo força e a curva de juros a termo ficando mais inclinada. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à rádio Jovem Pan, admitiu que um dos fatores para a perda de valor do real é o "ruído todo que vem do fiscal".

Ibovespa

A incerteza sobre a situação fiscal doméstica descolou o Ibovespa do dia de recuperação em Nova Iorque, onde os ganhos desta quarta-feira, perto de 2%, reverteram as perdas da sessão anterior. A falta de definição sobre o Renda Cidadã, os rumores, ainda que desmentidos pelo ministro Paulo Guedes, de extensão do auxílio emergencial a meados do próximo ano e mesmo sinais de que o governo pode recorrer a novo orçamento de guerra na hipótese de segunda onda de Covid em 2021 justificam a cautela dos investidores observada na maior parte da sessão.

No meio da tarde, contudo, fontes ouvidas pelo Broadcast em Brasília apontaram haver entendimento "técnico" sobre o que deve ser feito e que a definição sobre o financiamento ao futuro auxílio respeitará o calendário eleitoral, ou seja, o "timing político". O Ibovespa, que até então mostrava perdas moderadas, voltou a terreno positivo e renovou máximas da sessão, mas acabou devolvendo os ganhos perto do fim, encerrando em leve baixa de 0,09%, aos 95.526,26 pontos, tendo oscilado entre piso de 94.880,65 e pico de 96.379,57, com giro financeiro a R$ 23,1 bilhões e abertura aos 95.615,82 pontos.

Na semana o índice avança 1,61% e, no mês, 0,98% - em 2020, cede 17,40%. As idas e vindas na costura do Renda Cidadã - que deve sair apenas depois das eleições municipais - e na discussão das fontes de financiamento ao futuro programa de auxílio contribuem, no entanto, para que o mercado engula com uma pitada de sal o recente compromisso do governo de construí-lo dentro do teto de gastos.

"Chegamos a ter hoje uma leve alta, nada muito consistente, em cima de uma ação ou outra de peso, como Vale (+2,64% no fechamento) e Ambev (+1,42%). O mercado ainda não está muito convencido, então os movimentos seguem bem contidos, ainda em razão de incertezas como a eleição americana e a situação fiscal no Brasil. A fala do Guedes chegou a animar um pouco, mas o que se tem é volatilidade até que surjam definições", diz Márcio Gomes, analista da Necton Investimentos.

"O mercado aguarda coesão, uma posição em direção única: ainda se percebe desgaste da equipe econômica, alguma perda de credibilidade com a pressão por gastos a partir da ala política, inclusive dentro do governo. O mercado não está comprador nesta situação atual, que favorece posições curtas, na falta de direcional - até junho, julho, estava pagando para que desse certo, mas já no início de agosto veio a luz amarela", diz Thomás Gibertoni, especialista em investimentos da Portofino Multi Family Office.

Entre as empresas e setores, além de Vale e Ambev, destaque nesta quarta-feira para siderurgia, em especial Usiminas (+2,62%) e Gerdau PN (+3,23%), maior alta do Ibovespa na sessão, após melhora de recomendação - logo atrás veio Gerdau Metalúrgica, em alta de 3,19% no fechamento, e Vale ON (+2,64%). No lado oposto do Ibovespa, IRB teve novo dia de perda acentuada, hoje de 10,18%, seguido por CVC (-5,76%) e Cielo (-5,13%).

Juros

A quarta-feira foi marcada por volatilidade nos juros, que alternaram movimentos de alta e baixa ao sabor do noticiário em torno do cenário fiscal e político. No fechamento, tinham viés de queda até o miolo da curva e de alta nas demais. A trajetória indefinida das taxas ao longo do dia e o encerramento próximo aos ajustes anteriores ilustram bem o grau de incerteza que vem marcando os negócios, com o mercado bastante suscetível ao vaivém de declarações e especulações em torno do Renda Cidadã. Com o foco concentrado nos eventos domésticos, a ata do Federal Reserve, destaque da agenda, não chegou a mexer com a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 3,27%, de 3,355% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 4,825% para 4,77%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa estável em 6,66% e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 7,58%, de 7,554%.

A sessão começou com declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alertando sobre a questão fiscal, o que já trouxe pressão de alta às taxas na abertura, que ainda de manhã acentuou com informações de bastidor trazidas pelo site da Revista Veja, de que o governo estaria estudando prorrogar o pagamento do auxílio-emergencial até junho de 2021. No começo da tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, desmentiu a informação.

Já perto da última hora da sessão regular, os DIs passaram a cair com informações vindas de Brasília, em torno do compromisso fiscal do governo. Segundo fontes, integrantes do governo garantem estar descartada qualquer solução para o Renda Cidadã que fure o teto de gastos. O próprio presidente Jair Bolsonaro já teria comunicado a equipe que sem solução dentro do teto o programa não sairá. Diante da costura política difícil, uma definição, porém, deverá ocorrer só uma semana após as eleições municipais, segundo a previsão da equipe econômica.

As taxas passaram a cair, mas reduziram o ritmo no fechamento da sessão regular. Profissionais afirmam que para um movimento consistente de alívio nos prêmios é necessário haver ações concretas que vão além de declarações e defesa mais contundente do rigor fiscal que venha da área política e não só da econômica. "(Alívio nos prêmios) sustentável mesmo só se o presidente Bolsonaro defender o fiscal como tem defendido os programas sociais", disse a gestora de renda fixa da MAG Investimentos, Patricia Pereira.

No Banco Inter, a avaliação é de que embora os prêmios atuais da curva sugiram oportunidades, o risco é elevado, em meio às tentativas de flexibilizar a âncora fiscal e da falta de avanços de reformas. "Mesmo que o governo volte atrás com a proposta da Renda Cidadã, não acreditamos em um fechamento imediato da curva", afirma Fabiano Ferrari, da área de Estratégias e Pesquisas Econômicas. "Acreditamos que os juros longos poderão ter queda caso a agenda de reformas avance, de fato, revertendo a trajetória da dívida pública. Mas com eleições se aproximando e cenário político conturbado, a volatilidade e os elevados prêmios devem prevalecer", disse.


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