Dólar à vista sobe pelo terceiro pregão seguido e alcança R$ 4,90

Dólar à vista sobe pelo terceiro pregão seguido e alcança R$ 4,90

Moeda norte-americana acumula ganhos de 3,71% no mês

AE

Moeda norte-americana fechou com recuo de R$ 0,048 (-0,91%)

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Após uma manhã de instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista se firmou em alta, embora modesta, ao longo da tarde e emendou nesta quarta-feira, 9, o terceiro pregão consecutivo de valorização no mercado doméstico de câmbio. Com oscilação de cerca de quatro centavos entre mínima (R$ 4,8748) e máxima (R$ 4,9162), a moeda encerrou cotada a R$ 4,9050, avanço de 0,15%. Com alta em seis dos sete pregões de agosto, o dólar acumula ganhos de 3,71% no mês, o que reduz as perdas no ano para 7,10%.

Segundo operadores, o ambiente é marcado por cautela e ajustes finos de posições, com investidores evitando apostas mais contundentes diante de um cenário externo mais incerto e de ausência de gatilhos locais que suportem uma nova rodada de valorização do real. Além do atraso na votação final do novo arcabouço fiscal, há dúvidas em torno do andamento dos trabalhos da reforma tributária no Senado e do cumprimento das metas fiscais.

No exterior, dados de deflação na China em julho lançam preocupações sobre o desempenho da segunda maior economia do mundo, em parte contrabalançadas pelas expectativas de adoção de mais estímulos por parte do governo chinês para estimular a atividade. Moedas de países emergentes e exportadores de commodities apresentaram sinais divergentes, incluindo pares do real, como peso mexicano e rand sul-africano.

Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY operou ao longo dia em leve queda, ao redor dos 102,500 pontos. Na quinta-feira sai o índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos referente a julho, o que pode mexer nas expectativas em torno da condução da política monetária americana.

"O real apresenta desempenho um pouco pior que outras moedas emergentes desde o início do mês, principalmente em comparação ao peso mexicano. Isso está muito ligado à China. As commodities tinham se recuperado bem, mas nas duas últimas semanas o minério de ferro e a soja caem na comparação com o mês passado", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, para quem a surpresa com a redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic pode ter contribuído para o escorregão do real. "O corte não me surpreendeu porque achava que 0,50 era o mínimo. Mas isso tende a tirar um pouco atratividade do real, embora o <i>carry trade</i> seja feito no dia a dia e a taxa ainda seja alta, de 13,25%."

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, observa que o ambiente externo de pouco apetite ao risco e a perda de fôlego das commodities aumentou a volatilidade entre as divisas emergentes e acabou castigando o real. Ele ressalta que, a despeito de anúncios de estímulos na China, a economia do gigante asiático não dá sinais de reação mais firme. Além disso, o Brasil acaba de embarcar em um ciclo de redução da taxa Selic, enquanto os Estados Unidos tendem a manter - ou aumentar residualmente - seus juros. Esse descompasso acaba levando investidores a ajustar suas posições em reais.

"Aqui dentro temos dúvidas sobre a aprovação da reforma tributária e o cumprimento das metas do arcabouço. Não vejo o dólar indo para R$ 5,00, mas também não acredito que retorne para o nível de R$ 4,70. É mais provável que opere ao redor de R$ 4,85 por um tempo", afirma Velloni.

Taxas de juros

Os juros futuros subiram nos vencimentos longos e encerraram estáveis na ponta curta. A curva a termo operou um pouco mais pressionada durante a tarde, quando entrou em cena uma tentativa de realização de lucros que colocou os vencimentos mais longos em trajetória altista.

As taxas na terça haviam caído de forma consistente e o mercado aparentemente buscou nesta quarta-feira alguma correção antes da agenda desta quinta-feira que contempla o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos EUA e o leilão de prefixados do Tesouro. Em meio aos dados de varejo pouco melhores que o esperado e de inflação mais baixa no Brasil, os juros curtos ficaram de lado.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,465% (máxima), de 12,448% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2025 encerrou em 10,42%, de 10,43%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,01% (9,97% na terça) e a do DI para janeiro de 2029 subiu de 10,43% para 10,51%.

O volume de contratos negociados foi limitado nesta quarta-feira, reflexo da ausência de vetores fortes para conduzir os negócios e do compasso de espera pela agenda dos próximos dias que, além do CPI na quinta-feira, inclui o IPCA de julho na sexta-feira. O DI para janeiro de 2024 não girava nem 500 mil contratos no horário acima.

Segundo profissionais nas mesas de renda fixa, o mercado teve um dia fraco, com as taxas oscilando entre margens estreitas e fatores técnicos preponderando na segunda etapa. "Com um volume assim fica difícil dizer que há mudança de cenário. Nesse contexto, operações às vezes isoladas acabam afetando a rota das taxas", afirma o economista Felipe Rodrigo de Oliveira, da MAG Investimentos.

A agenda do dia não foi suficiente para alterar a percepção de que a possibilidade de aceleração do ritmo de corte da Selic para 0,75 ponto porcentual segue em jogo, apesar da ata do Copom, cuja mensagem foi reforçada na terça pelo diretor de Política Monetária do Banco Central, Diogo Guillen. Na mesma linha da ata, Guillen na terça reiterou ser "pouco provável" a ampliação da dose, mas o fato de não ter rechaçado tal possibilidade já é suficiente para o mercado acreditar.

As vendas do varejo restrito ficaram estáveis em junho, na margem, ante consenso de queda de 0,2%, enquanto as do varejo ampliado, favorecidas pelos desoneração dos preços de automóveis, surpreenderam para cima, com alta de 1,20%, ante mediana das previsões de queda de 0,1%. As vendas de veículos saltaram 8,5% em relação a maio.

Por outro lado, a primeira prévia do IGP-M (-0,81%) de agosto continuou mostrando deflação, ainda que menor do que na mesma leitura de julho (-1,29%). A queda de 0,34% do IPC-Fipe na primeira quadrissemana de agosto também surpreendeu, acelerando em 20 pontos-base em relação ao recuo de 0,14% no fim de julho. O coordenador do índice, Guilherme Moreira, ampliou sua projeção de deflação para fechamento do mês, de 0,08% para 0,15%.

"A precificação de maior flexibilização da Selic no curto prazo é mais provável para dezembro e nosso cenário contempla um dígito já no segundo trimestre de 2024", comenta Eduardo Velho, sócio e economista-chefe da JF Trust.

Oliveira, da MAG, não descarta que, num dia esvaziado como nesta quarta, o mercado tenha sentido um certo incômodo com o cenário fiscal, diante da demora no avanço das reformas no Congresso e possibilidade de ajustes que enfraqueçam tanto o texto da tributária, que foi para o Senado, quanto do arcabouço fiscal, que voltou para a Câmara.

Bolsa

Em dia de agenda mais acomodada - com destaque para as vendas do varejo, divulgada de manhã pelo IBGE -, o Ibovespa colou na inércia que se impôs desde o início de agosto e emendou a sétima perda diária nesta quarta-feira, ainda sem experimentar o sabor de ganhos no mês. O grau de ajuste, contudo, mantém-se relativamente contido, com recuos sempre abaixo da marca de 1% a cada sessão, de forma que, no mês, o Ibovespa acumula agora perda de 2,90%, vindo de uma sequência vencedora, sem rupturas, entre abril e julho - com destaque para o avanço de 9% em junho. No ano, o Ibovespa ainda sobe 7,90%, contabilizando baixa, até aqui, de 0,92% na semana.

Nesta quarta, em dia de cautela moderada também em Nova York (Dow Jones -0,54%, S&P 500 -0,70%, Nasdaq -1,17%), o Ibovespa oscilou dos 117.901,04 aos 119.089,61 pontos, e fechou em baixa de 0,57%, aos 118.408,77, com giro a R$ 23,2 bilhões. As boas exceções ficaram por conta de Petrobras (ON +1,15%, PN +0,79%) - acompanhando alta do petróleo nesta quarta-feira - e do setor elétrico, com destaque para Eletrobras (ON +0,43%, PNB +0,70%), além de Copel (PNB +0,46%) e Cemig (PN +1,08%).

Na ponta do Ibovespa, Via (+3,28%), São Martinho (+3,22%) e Rumo (+2,32%), com CVC (-7,99%), Petz (-6,97%) e Azul (-5,36%) no lado oposto. Na B3, com preocupações sobre a economia chinesa ainda no radar, o dia foi mais uma vez negativo para Vale (ON -0,90%) e o setor metálico (Gerdau PN -4,04%, CSN ON -1,18%), com exposição ao país. Por sua vez, o setor de bancos seguiu em correção (Santander Unit -1,27%, Bradesco ON -0,72%, Itaú PN -0,36%), o que reforça o movimento defensivo no Ibovespa - o setor financeiro é o de maior peso no índice.

Além dos receios associados à China, a cautela que deu o tom aos negócios nesta quarta-feira, aqui e no exterior, decorreu também da expectativa para os dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos, a serem divulgados na quinta-feira, observa Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, após "certo mau humor" do mercado diante da leitura sobre inflação divulgada no início do dia na China.

"A economia asiática se recupera muito lentamente - com o ritmo dos preços ao consumidor registrando queda no mês de julho. O movimento impactou negativamente nossa moeda, e o real operou em baixa nesta quarta-feira", acrescenta Rachel de Sá.

A fraca demanda dos consumidores e as crescentes preocupações econômicas colocaram a China em território deflacionário pela primeira vez em dois anos, o que tende a aumentar a pressão sobre o governo chinês para que atue com mais firmeza para impedir o agravamento das dificuldades, adotando estímulos que induzam a retomada do nível de atividade, apontam especialistas.

No contexto atual, menos propício à demanda doméstica na segunda maior economia do globo, a maior penetração de aço importado no Brasil, com parcela relevante vinda exatamente da China, causa preocupação à Gerdau, tendo afetado o resultado da companhia no segundo trimestre. O CEO da companhia, Gustavo Werneck, defendeu nesta quarta que medidas sejam adotadas pelas autoridades para que, em sua definição, a competição seja justa.

Assim, ponderando fatores externos e domésticos, o apetite por ativos de risco segue contido neste começo de mês, no Brasil. "Mais um dia de queda para o Ibovespa, a sétima seguida, algo não visto desde junho de 2022. O suporte dos 116,7 mil pontos é importante, e se vier a ser perdido, abre espaço para uma queda maior do índice, o que o levaria a buscar a região dos 110,5 mil - ou seja, mais de 6 mil pontos abaixo do nível de suporte a que nos referimos", diz Stefany Oliveira, head de análise de trade da Toro Investimentos. "Mas, a menos que venha a aparecer um catalisador significativo, o suporte dos 116,7 mil tende a se manter", acrescenta.

"A variação dos estoques nos Estados Unidos contribuiu para que os preços do petróleo subissem na sessão, induzindo movimento comprador nas ações de Petrobras, o que moderou o sinal negativo do Ibovespa, pelo peso desses papéis no índice", diz Stefany.

Segundo o Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês), os estoques de gasolina e de destilados tiveram queda além do esperado nos Estados Unidos na última semana, mas tal variação se fez acompanhar por avanço acima do projetado para os de petróleo.

"O Ibovespa tem se mostrado lateralizado, um comportamento que tem predominado há mais de um mês, o que o mantém, em geral, na faixa dos 118 aos 120 mil pontos. Os agentes têm mostrado cautela também com relação à temporada de resultados trimestrais, mistos. Há empresas reportando queda de lucro, queda de margem, o que é um reflexo ainda do cenário restritivo de política monetária", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, referindo-se ao efeito defasado entre o momento de elevação de juros e a sua transmissão para a atividade econômica.

"A queda de juros em curso vai demorar ainda um pouco para se refletir no balanço das companhias", acrescenta. Assim, "o mercado começa a se voltar para uma agenda mais micro, os fundamentos das empresas, após o movimento de recuperação do Ibovespa ter sido muito pautado por diminuição de percepção de risco, tanto político como macro e fiscal", diz Moura. "Isso ajuda a entender a cautela. O momento não é o de subir em bloco: algumas ações vão subir, outras não, muito em função das particularidades, dos fundamentos de cada empresa", conclui o analista.

Destaque da agenda econômica doméstica nesta quarta-feira, as vendas do varejo ficaram estáveis em junho na série com ajustes sazonais, após quedas nos dois meses anteriores. No primeiro semestre, as vendas tiveram alta de 1,3%, conforme a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.

"O resultado indica a tendência de arrefecimento do comércio varejista após o forte crescimento no início do ano, e é mais um dado a mostrar atividade econômica mais fraca nesse segundo trimestre", observa em nota o economista Rafael Perez, da Suno Research. "O cenário doméstico ainda desafiador deve impedir retomada mais robusta do setor, já que a perda de dinamismo do mercado de trabalho, e o elevado endividamento e inadimplência, tende a afetar o consumo e a demanda por crédito das famílias", acrescenta o economista, ressalvando que "o início do ciclo de queda das taxas de juros e a melhora na confiança dos consumidores podem beneficiar o varejo."


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