Dólar acelera alta e vai a R$ 5,38 após Califórnia restringir comércio

Dólar acelera alta e vai a R$ 5,38 após Califórnia restringir comércio

Ibovespa perdeu a linha de 100 mil pontos, fechando aos 98.697,06

AE

A moeda norte-americana à vista fechou com valorização de 1,25% nesta segunda-feira

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O dólar operou em alta no Brasil nesta segunda-feira, após cair nos três últimos pregões. A moeda americana acelerou os ganhos perto do fechamento, com a notícia de que a Califórnia ordenou o fechamento de atividades internas em bares, restaurantes, academias e cinemas, entre outros, como estratégia para tentar conter os avanços do coronavírus. A decisão piorou os mercados rapidamente e fez o dólar ganhar força no exterior.

Até então, o dia havia sido marcado por otimismo no mercado internacional, por conta da aceleração do processo de análise por reguladores de duas vacinas contra a covid-19 nos Estados Unidos. Traders relataram ainda que contribuiu para pressionar o câmbio a continuidade da saída de capital externo da Bolsa, que já acumula retirada de R$ 4,1 bilhões este mês, até o dia 9. O dólar à vista fechou com valorização de 1,25%, cotado em R$ 5,3885, maior valor desde 30 de junho.

"Os casos de coronavírus estão se disseminando de forma alarmante nos Estados Unidos", ressalta o economista sênior do TD Bank, Sri Thanabalasingam, destacando que além da Califórnia, os outros dois estados mais críticos são Flórida e Texas. "O surto renovado de casos de coronavírus nos Estados do Sul e Oeste dos EUA apoia nossa previsão de que a economia dos EUA sofrerá uma recuperação muito mais lenta no segundo semestre", avaliam os analistas da inglesa Capital Economics.

O sócio da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga, ressalta que o fluxo de investidores estrangeiros na B3 tem sido de saída, e nesta segunda-feira não deve ter sido diferente, após o bom desempenho recente do Ibovespa. Esse movimento ajudou a pressionar o câmbio.

Para os analistas da consultoria inglesa TS Lombard, o mercado de ações brasileiro "será sustentado pelo investidor doméstico no médio prazo", na medida em que os juros vão continuar caindo e o estrangeiro tem reduzido exposição ao País.

As mesas de câmbio monitoraram ainda as discussões sobre a política ambiental do governo para a Amazônia, na medida em que fundos internacionais ameaçaram não mais comprar ativos brasileiros. "A primeira coisa é aceitar que passou do limite a questão do desmatamento", disse o vice-presidente Hamilton Mourão.

Entre os fundos, o tom ainda é de ceticismo. "Esperamos ver mais ações e planos concretos daqui para a frente", disse ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Eric Pedersen, responsável pela área de investimentos sustentáveis do grupo Nordea. Ele ressaltou que o banco não tem planos ainda de voltar a comprar títulos soberanos do governo brasileiro.

Bovespa

O Ibovespa foi do vinho para a água entre a manhã e o fim da tarde, cedendo não apenas a linha de 100 mil mas também a de 99 mil pontos no fechamento desta segunda-feira, com vendas que se acentuaram após as 16h50, quando a piora observada em Nova Iorque colocava o Nasdaq - que vinha de renovações de recordes históricos - em queda acima de 2% na sessão. Ao fim, o principal índice da B3 apontava perda de 1,33%, aos 98.697,06 pontos, na mínima do dia, após ter chegado a 100.857,68 pontos na máxima, pela manhã.

Mais cedo, com o bom humor externo em meio ao início da temporada de balanços do segundo trimestre nos EUA, o Ibovespa resistia acima dos 100 mil, mas, depois das 16h, perdeu de vez a linha em meio à piora observada em Nova Iorque, que colocou S&P 500 e Nasdaq em terreno negativo no fechamento do dia.

O sentimento mudou da manhã para o fim da tarde, com perda de desempenho nos mercados americanos após a notícia de que a Califórnia voltará a fechar atividades internas em bares, restaurantes e outros ambientes fechados. Assim, o índice da B3 se inclinou à realização de lucros.

Em dia negativo para os preços do petróleo, Petrobras PN cedeu 1,55% e a ON, 0,65%, contribuindo para o ajuste negativo do Ibovespa, assim como as ações de bancos, também com grande peso na composição do índice: Santander fechou em baixa de 2,20% e Bradesco ON, de 2,00%. Na ponta negativa do Ibovespa, Ambev cedeu 5,72%, seguida por Cyrela (-5,32%). No lado oposto, IRB subiu 5,65% e CSN, 3,92%. O giro financeiro totalizou R$ 28,1 bilhões e, no mês, o Ibovespa limita agora os ganhos a 3,83%, enquanto as perdas no ano vão a 14,66%.

"Os 100 mil eram uma importante linha divisória entre compra e venda, de forma que é natural que falte força para o índice neste momento. Muita coisa que constituía boa oportunidade já andou bem. O momento volta a ser de seletividade para o investidor", diz Márcio Gomes, analista da Necton.

"O início de semana já era cauteloso, mais devagar com o Ibovespa a 100 mil e ante fatores que podem fazer preço nos próximos dias", diz um operador, reiterando como muitos que fluxo doméstico, mais do que fundamentos, reconduziu o Ibovespa ao nível de seis dígitos - pela sexta vez desde que a marca foi alcançada pela primeira vez, em 19 de junho de 2019, e que havia sido cedida pela última vez em 6 de março.

Aqui, a semana reserva na terça-feira o IBC-Br, indicador antecedente sobre o PIB, que ajuda o mercado a auscultar o estado da economia. A expectativa para a leitura desta terça-feira é que confirme o início da recuperação econômica em maio, quando começaram a surgir sinais de afrouxamento do distanciamento social, implementado no início do mês seguinte em boa parte do país.

No exterior, além do início da temporada de balanços americanos com os números da PepsiCo - trazendo lucro ajustado acima do esperado -, houve nesta terça-feira notícia positiva sobre a Covid-19: Pfizer e BioNTech anunciaram que duas de quatro possíveis vacinas que estão desenvolvendo contra o novo coronavírus receberam status de "fast track" da FDA, a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos.

Nesta segunda-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reiterou que o epicentro do vírus continua nas Américas. No domingo, a OMS havia informado que, de 230 mil novos casos de cornavírus reportados, 80% ocorreram em 10 países - o que mostra que a pandemia está se concentrando em certos pontos.

Nos EUA, o presidente do Fed de Dallas, Robert Kaplan, disse que a proliferação de casos de Covid-19 no país está diminuindo o ritmo da recuperação econômica. Ele estima que a taxa de desemprego deve terminar 2020 entre 9% e 10%, e, ao final de 2021, deve cair para a faixa de 7% a 8% - ainda alta pelo padrão americano.

Juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira perto da estabilidade. Um viés de baixa prevaleceu nos vencimentos mais longos durante boa parte do dia, mas se apagou nos minutos finais da sessão regular, em linha com a piora generalizada nos demais segmentos. As taxas curtas também pouco se mexeram nesta segunda-feira de volume fraco de contratos, refletindo a ausência de vetores para conduzir os negócios.

O mercado segue dividido em relação às apostas para o Copom de agosto, se haverá novo corte ou manutenção da Selic, à espera de gatilhos que possam fazer esse pêndulo andar e dar algum impulso à curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 3,03%, de 3,022% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2021 passou de 2,064% para 2,065%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 5,57%, de 5,563% no ajuste anterior, e a do DI para 2027 passou de 6,37% para 6,39%.

Nos longos, as taxas vinham caindo de forma quase ininterrupta desde o começo o mês, o que deixou os prêmios mais magros e, com isso, é natural haver uma acomodação, na medida em que não se tem novidades no quadro fiscal.

Durante boa parte do dia, chegaram a testar níveis ainda mais baixos, mas na reta final zeraram a queda discreta para fechar com viés de alta, após a informação de que o governo da Califórnia já está revendo protocolos de funcionamento do comércio em meio ao avanço da pandemia. Até então, os mercados internacionais tinham bom desempenho, amparados em notícias de avanços para o lançamento de vacinas contra o coronavírus, mas o fato é que os casos e mortes não param de crescer no mundo, sobretudo no Brasil e nos Estados Unidos.

Enquanto isso, os vencimentos curtos seguem na dependência de informações que possam levar a um consenso sobre o que deve fazer o Copom nesta reta final de ajuste da política monetária.

Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria, as apostas para corte devem ser reduzidas gradualmente na medida em que os dados sigam mostrando recuperação da atividade, considerando também que as mensagens do Banco Central têm tido um viés mais otimista sobre a retomada. "O resultado do varejo trouxe uma visão positiva e temos sinais de aceleração da inflação. Hoje a pesquisa Focus já mostrou alta na previsão do IPCA", disse.

A mediana das estimativas para a inflação este ano no Boletim Focus subiu de 1,63% para 1,72% - ainda distante do piso da meta de 2,5% - e para o PIB subiu de -6,5% para -6,1%.


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