Dólar cai a R$ 5,08 com captações e melhora do cenário doméstico

Dólar cai a R$ 5,08 com captações e melhora do cenário doméstico

É o menor nível desde 18 de dezembro do ano passado

AE

Dólar fechou a quarta-feira em R$ 5,08

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Em novo dia de forte queda, o dólar fechou a quarta-feira em R$ 5,08, no menor nível desde 18 de dezembro do ano passado. Captações de empresas, incluindo a Petrobras, que superam US$ 2 bilhões nesta quarta-feira, e ainda a visão de atividade mais forte este ano e de números fiscais melhores, provocaram nova rodada de busca por ativos de risco no mercado doméstico, estimulando vendas da moeda americana e levando o Ibovespa para além dos 129 mil pontos.

O dólar à vista terminou o dia em queda de 1,20%, a R$ 5,0841. O dólar futuro para julho cedia 1,38%, a R$ 5,0915 às 17h40, depois de a S&P Global Ratings manter o rating soberano do Brasil com a perspectiva "estável". O dólar começou o dia em alta, com o real acompanhando seus pares no exterior, mas notícias de captações, que incluem Petrobras e Petrorio, e a CSN anunciando emissão externa de até US$ 1 bilhão, contribuíram para a moeda americana passar a cair.

Mesmo que algumas destas emissões seja para recompra de papéis lá fora, ou seja, sem dólar entrando no país, operadores contam que estimularam movimento de venda, na medida em que reafirmam o interesse de estrangeiros no país com a visão de melhora fiscal e da atividade econômica. A demanda pelos papéis da Petrobras superou US$ 9 bilhões, segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Houve também relatos de fluxo para a Bolsa, que nesta quarta atingiu pela primeira vez a marca dos 129 mil pontos. Dados da Fenabrave mostrando força nas vendas de veículos em maio ajudaram a reforçar a visão de economia mais aquecida no segundo trimestre. As vendas subiram 7,7% no mês passado ante abril.

O sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central, destaca que o cenário para economia brasileira teve mudança importante. "Você saiu de um ciclo vicioso, de piora contínua, para um ambiente de melhora. Houve uma certa descompressão", disse ao Broadcast. Como o cenário externo também se acalmou, os ativos brasileiros tiveram recuperação das perdas, que haviam sido muito maiores que seus pares nos últimos 12 a 18 meses.

Figueiredo ressalta que no começo de 2021, havia pessimismo forte com o cenário fiscal e a projeção era que a dívida bruta em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) poderia superar os 100%. As projeções de crescimento do PIB eram na casa dos 3% ou menos. Tudo isso em um ambiente de pandemia mostrando força na segunda onda, levando a fechamento de negócios, ressalta o gestor.

Mais recentemente, a pandemia deu mostras de estar mais controlada, enquanto indicadores da atividade passaram a mostrar números mais fortes do que o esperado. Com isso, várias casas passaram a projetar o PIB crescendo mais este ano, algumas acima de 5%, o que ajuda a melhorar o quadro fiscal, destaca Figueiredo. A Mauá subiu a previsão de crescimento do PIB de 4% para 4,6% e o gestor acha que há um viés de alta para este número.

Estrategistas do Citigroup em Nova York avaliam que o real ainda tem espaço para valorização e pode ter desempenho melhor que seus pares na América Latina. O banco americano montou estratégia em que está comprado no real ante o dólar, ou seja, apostando na valorização da moeda brasileira. Na região, está vendido em peso do Chile. "Em última análise, este ambiente continua propício para ter alguma exposição a risco no Brasil", afirmam nesta quarta-feira. "Continuamos a esperar bom desempenho do real."

Bovespa

Com dólar a R$ 5,06 na mínima da sessão, o Ibovespa seguiu renovando máximas históricas no período da tarde desta quarta-feira, estendendo a sequência de recordes pelo quarto dia, apesar da véspera de feriado no Brasil e do dia cauteloso em Nova York, com o Livro Bege, do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), chamando atenção para aumento de pressões sobre os preços nos Estados Unidos desde o sumário econômico anterior. Foi o sexto ganho consecutivo para o índice da B3, igualando sequência do intervalo entre 3 e 10 de novembro, que havia sido a mais longa desde a virada de maio para junho de 2020, quando ocorreram sete altas entre os dias 29 de maio e 8 de junho.

Nesta quarta, o índice da B3 fechou exatamente na nova máxima histórica, de 129.601,44 pontos, em alta de 1,04%, saindo de mínima na sessão a 128.166,64, com abertura aos 128.268,08 pontos. Reforçado pelo segundo dia, o giro financeiro chegou hoje a R$ 46,4 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 3,22%, elevando os ganhos do ano a 8,89% - e acumulando 2,68% nestas duas primeiras sessões de junho, de renovação de picos históricos tanto no intradia como no fechamento.

"O ano de 2021 está melhor do que 2020, não há duvidas, mas a comemoração tem que ser muito comedida. O Brasil segue com crescimento por fatores alheios aos seus próprios esforços - portanto, a maravilhosa volatilidade segue em jogo", diz a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, destacando que a sensação de recuperação econômica tirou pressão do câmbio, particularmente depois do PIB divulgado na terça, e o ajuste na moeda é alimentado também pela expectativa de forte fluxo por operações de captação de grandes empresas, como CSN e Petrobras, bem como pela relativa melhora do humor internacional.

"A gente ainda vê espaço para as commodities continuarem acima da média histórica - e o temor de inflação no mundo inteiro, inclusive, é positivo para as commodities, a correlação entre inflação e alta de commodities, historicamente, é bastante positiva. Isso acaba pesando mais no mercado, hoje, do que o dado (negativo) sobre a produção industrial", diz Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.

Assim, o minério de ferro volta a ser negociado acima de US$ 200 por tonelada na China - nesta quarta-feira, em leve alta de 0,25%, a US$ 209,19, em Qingdao -, enquanto os futuros do Brent buscam se firmar acima de US$ 70 por barril. Nesta quarta, Petrobras ON fechou em alta de 4,96%, a PN, de 2,82%, e Vale ON, de 1,41%, perto de R$ 115 (nesta quarta, a R$ 114,80).

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Petrobras ON, à frente de Braskem (+4,82%) e de BRF (+4,11%) no fechamento. No lado oposto, B3 cedeu 3,90%, Sul América, 3,35%, e Locaweb, 3,16%. Os bancos tiveram dia positivo, com ganhos de até 3,92% (Bradesco PN), assim como as utilities, embora moderados (Eletrobras ON +0,38%). As siderúrgicas encerraram a sessão em baixa, com Usiminas à frente (-2,78%).

Em nova leitura sobre a atividade doméstica, dados divulgados nesta quarta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a produção industrial caiu 1,3% em abril, a terceira queda consecutiva, acumulando perda de 4,4% no intervalo de três meses. "Estes dados vêm se contrapor aos do PIB do primeiro trimestre, divulgados ontem, e apontam que a recuperação econômica ainda é incipiente, de certa forma", avalia em nota o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

Contudo, a leitura sobre a atividade industrial passou longe de arranhar o entusiasmo do mercado, que tem mostrado recentemente disposição bem mais favorável com relação à situação econômica e fiscal do País, após os mais recentes dados sobre arrecadação federal, contas públicas e o PIB - revisado desde a terça por diversas casas, para em torno ou acima de 5% de expansão no ano.

A percepção de que, mesmo com o risco de uma terceira onda de Covid-19 nesta metade do ano, o pior dos efeitos econômicos da pandemia ficou para trás é reforçada pela expectativa de que a vacinação se acelere no segundo semestre. Nesta quarta, contribuiu para o apetite por risco em véspera de feriado a promessa do governador de São Paulo, João Doria, de que toda a população adulta do Estado será vacinada até o fim de outubro.

"O PIB em conjunto com a virada nas contas públicas, de déficit para superávit primário, causou um entusiasmo, talvez exagerado porque estamos vindo de uma base de crescimento muito ruim mesmo quando comparada a outros emergentes. De qualquer forma, atraiu capital de fora, fluxo externo, o que tende a ser estimulado também pela expectativa de que possamos finalizar a vacinação ainda este ano", diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Juros

A redução forte das taxas de longo prazo, na esteira do dólar fraco e do otimismo com a situação fiscal do País, causaram nesta quarta-feira desinclinação firme da curva de juros. O diferencial entre os vencimentos de 2022 e 2027 cedeu a 323 pontos-base, o menor desde março de 2020. Como pano de fundo do movimento está também as apostas de que o Banco Central vai retirar, no comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de daqui duas semanas, a menção à "normalização parcial" da Selic. Os rendimentos tiveram recuo adicional na sessão estendida, após a S&P Global reafirmar o rating do Brasil, chancelando as apostas em crescimento mais sólido.

A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 recuou de 5,132% na terça-feira a 5,11% nesta quarta-feira. O contrato janeiro 2023 passou de 6,759% a 6,705%. O janeiro 2025 cedeu de 7,925% a 7,80%. E o janeiro 2027 caiu de 8,444% a 8,34%. O diferencial entre as taxas de janeiro 2022 e janeiro 2027, um indicativo da inclinação da curva, recuou a 323 pontos-base. Este é o menor valor desde 26 de março de 2020 (321 pontos-base).

O otimismo com ativos domésticos nas últimas sessões alimentou essa forte desinclinação da curva de juros nas últimas sessões. Nesta quarta, em especial, captações e um novo recorde nominal do Ibovespa voltam a comprovar o apetite do investidor estrangeiro com o País. Nos juros, o cenário de alívio já vem sendo sentido há duas semanas. Dia a dia, novos indicadores reforçaram a aposta de que a atividade econômica tem se mostrado resiliente na segunda onda da covid-19, o que se reflete em arrecadação recorde e consequente melhora de perspectiva para as contas públicas. O impacto foi sentido nos vencimentos médios e longos.

Nos curtos, por sua vez, um ajuste para cima decorreu de leituras mais fortes de índices de preços, contratando inflação resistente adiante, além das surpresas com a atividade econômica, o que sugere uma reação mais forte do Banco Central. O salto de 1,2% do PIB no primeiro trimestre, divulgado na terça, foi o gatilho para que muitos analistas trabalhassem com o cenário de retirada do termo 'normalização parcial' da comunicação do Copom.

Todo este cenário acabou sendo coroado com a decisão da S&P Global de manter o rating BB- do Brasil, no final da tarde. Embora note desafios fiscais, a agência reafirmou a perspectiva estável e pontuou que espera uma "redução gradual" do déficit fiscal, bem como o "desempenho externo sólido" do Brasil.


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