Dólar cai, mas não se sustenta abaixo de R$ 4 e Ibovespa sobe 0,35%

Dólar cai, mas não se sustenta abaixo de R$ 4 e Ibovespa sobe 0,35%

Moeda americana terminou na menor cotação em dois meses, em R$ 4,007

AE

No mês, o dólar já caiu 3,54% frente o real

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Pelo segundo dia consecutivo, o dólar tentou, mas não conseguiu se sustentar abaixo dos R$ 4. A divisa tocou os R$ 3,99 no início da tarde desta sexta-feira, na esteira de notícias de avanço na negociação entre Estados Unidos e China, mas rapidamente voltou ao nível anterior. Mesmo assim, terminou na menor cotação em mais de dois meses, desde 16 de agosto, e encerrou o pregão em R$ 4,0079, uma queda de 0,91%.

Na semana, marcada pela votação da reforma da Previdência, a perspectiva de um fluxo maciço de entrada de recursos no País, por oferta de ações, mas principalmente por conta do leilão do excedente da cessão onerosa, fez com que a divisa devolvesse quase R$ 0,12 desde a abertura de segunda-feira. A queda acumulada nos últimos cinco dias foi de 2,69%. No mês, o dólar já caiu 3,54% frente o real.

Para operadores ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o câmbio não tem suporte suficiente para se manter abaixo dos R$ 4 e, ao atingir esse patamar, atrai compradores. Segundo eles, a menos que algum novo noticiário surpreenda os investidores, a tendência é que o dólar permaneça resistente nesse nível até o leilão da cessão onerosa, marcado para 6 de novembro. A expectativa é que o leilão gire R$ 100 bilhões em investimentos.

O economista-chefe da Necton, André Perfeito, pondera que o evento da cessão onerosa é pontual e lembra que, globalmente, o dólar tem se valorizado. Colaboram para isso notícias melhores sobre o desempenho da economia americana em comparação com a Europa. Além disso, Perfeito aponta que "ruídos externos" acabam contaminando a confiança dos investidores. "A queda na taxa de juros também diminui a atratividade. Isso pressiona o dólar para cima", disse, acrescentando que a tendência é de que a moeda termine o ano ao menos um pouco acima do atual patamar.

Lá fora, o dólar tinha comportamento misto ante emergentes: subia ante Turquia, Chile e Argentina e caía frente México, Rússia e África do Sul, por exemplo. Se por um lado ajudam as notícias de algum avanço no acordo comercial negociado entre Estados Unidos e China, por outro, o noticiário europeu limita um apetite maior ao risco.

"O risco de um Brexit duro diminuiu, mas o apetite foi limitado pela insistência do primeiro-ministro Boris Johnson em convocar eleições antes do final do ano. O mercado não é fã de incerteza política e, embora o resultado possa ser a eliminação do Brexit da equação, a libra perdeu mais de um por cento em relação ao dólar nesta semana", apontou relatório da corretora Oanda Corporation.

A moeda mais penalizada nesta sexta-feira foi a argentina: o dólar subia quase 1% ante o peso no fim da tarde. Os investidores aguardam o resultado das eleições no país vizinho, marcadas para domingo. Nas prévias, realizadas em agosto, saiu na frente o nome que desagrada ao mercado: Alberto Fernández, candidato escolhido por Cristina Kirchner, que é vice na chapa. Na semana, o dólar acumulava alta de 3,02% ante o peso.

No Chile, que ainda tenta resolver as tensões sociais que estouraram de forma violenta no país na semana passada, a divisa americana acumulou alta de 2,16% nos últimos cinco dias.

Na semana que vem, a Wagner Investimentos ressalta em relatório que a agenda a partir de quarta-feira será "extrema", com impacto direto nos preços. O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a nova taxa básica de juros brasileira, bem como o Federal Reserve (Fed, banco central americano) o fará para os juros daquele país. Além disso, serão divulgados o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) americano e do payroll.

Ibovespa

As ações de Petrobras, Vale e bancos conduziram o Índice Bovespa de volta ao terreno positivo nesta sexta-feira, após breve realização de lucros na véspera. O índice encerrou o dia com ganho de 0,35%, aos 107.363,77 pontos, próximo da marca recorde registrada na quarta-feira. A alta foi sustentada pela combinação entre o otimismo com os resultados corporativos do terceiro trimestre, o cenário externo favorável e a expectativa de novo corte de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana.

Operando em alta desde a abertura, o principal índice de ações da B3 chegou a renovar máxima histórica intraday pela manhã, atingindo 108.083,26 pontos (+1,03%). Pesaram positivamente as blue chips de Vale e Petrobras, que divulgaram resultados trimestrais que confirmaram a expectativa positiva do mercado. Petrobras ON e PN subiram 2,92% e 3,28%, enquanto Vale ON ganhou 3,87%.

Mas os ganhos foram limitados por papéis também importantes na carteira do índice, como Ambev ON, que tombou 8,29%, liderando o ranking de perdas do Ibovespa. A gigante de bebidas apresentou resultado considerado mais fraco que o previsto pelo Goldman Sachs, que apontou decepção nos números da operação brasileira.

Com o resultado desta sexta, o Ibovespa encerrou a semana com valorização acumulada de 2,50% na semana, que foi a terceira consecutiva de avanço. Nesse período de 15 pregões, a alta é de 4,69%. Segundo Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, o resultado do Ibovespa no acumulado da semana reflete uma série de fatores, que contaram não apenas com a conclusão da reforma da Previdência e a divulgação de dois dos balanços financeiros mais importantes do mercado.

"O fechamento da curva de juros foi um combustível bastante significativo para o mercado de ações. A redução da taxa Selic e a percepção de que já há sinais de melhora na economia são fatores que também incentivaram a alta da bolsa", disse o economista, citando ainda o ambiente mais aberto à tomada de risco no exterior, diante de indicativos de menor risco na relação EUA x China.

Taxas de juros

O movimento do câmbio, a exemplo de quinta-feira, manteve-se nesta sexta-feira como principal vetor para orientar os juros futuros. Com a moeda descendo ao nível dos R$ 4, e até abaixo disso nas mínimas do dia, as taxas fecharam em queda ante os ajustes anteriores, aos pisos históricos, acumulando na semana ligeiro alívio entre 4 e 7 pontos-base nos principais contratos. A forte apreciação do câmbio nos últimos dias reforçou a expectativa para a decisão do Copom na próxima semana, para a qual o consenso de apostas é de corte de 50 pontos-base na Selic, mas há uma precificação residual, para uma redução mais agressiva, de 75 pontos. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,400%, de 4,457% no ajuste de quinta, a do DI para janeiro de 2023 caiu de 5,480% para 5,41%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 6,07%, de 6,151%.

Mauricio Patini, gestor de renda fixa da Absolute Investimentos, destaca que, ao contrário da última reunião do Copom, quando o dólar rodava nos R$ 4,10, mantendo-se acima deste patamar até o começo de outubro, desta vez o "humor" do investidor com o câmbio está bem melhor, o que dá conforto para o mercado "operar o Copom". "Nas últimas vezes, o pessoal ia com tudo para apostar na Selic mas com o câmbio pressionado", disse.

Nas contas do economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano, a curva projeta 53 pontos-base de corte da atual Selic de 5,50%, na quarta-feira, o que representa entre 85% e 90% de chance de queda de 50 pontos e entre 10% e 15% de possibilidade de recuo de 75 pontos. Para o fim do ciclo, no começo de 2020, a precificação é de taxa básica em 4,30% o que, na prática, indica chance maior de que a taxa esteja em 4,25%.

Nesta tarde, a Aneel anunciou bandeira tarifária vermelha patamar 1 para novembro nas contas de luz. Com isso, a taxa extra será de R$ 4,169 a cada 100 quilowatts-hora consumidos (kWh). Em outubro, vigorou a bandeira amarela, com taxa menor. Nos cálculos de Serrano, do Haitong, o impacto sobre o IPCA do mês será de 0,19 ponto porcentual.

No pano de fundo, o otimismo com as reformas e a agenda microeconômica também continuou dando sustentação à devolução dos prêmios, num dia de apetite ao risco no exterior. O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, aponta um cenário de melhora no crescimento econômico, mas que não é explosivo e sim de fechamento gradual do hiato do produto. E, ainda, o dólar permite que se reduza a Selic e que esta se mantenha por algum tempo no pisos histórico.

"O Congresso tem se mostrado determinado e convicto sobre a necessidade de continuidade da agenda e os dados econômicos têm vindo positivos", disse, citando como exemplo os números de crédito que saíram nesta quinta, que mostraram crescimento nas concessões e queda de juros em algumas modalidades.


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