Dólar cai pela primeira vez na semana e fecha em R$ 4,10

Dólar cai pela primeira vez na semana e fecha em R$ 4,10

Apesar de queda, moeda encerra semana valorizada em quase 5%

AE

Leve correção indica persistente cautela de investidores

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Depois de uma sequência de altas que se estendeu por sete sessões consecutivas, o dólar passou por uma leve correção nesta sexta-feira sustentando-se no patamar acima dos R$ 4,10. A moeda chegou a cair mais de 1% pela manhã, beneficiada pelo cenário externo mais brando, mas voltou a ganhar fôlego à tarde, mostrando que a cautela do investidor não foi abandonada.

Ao final dos negócios, o dólar à vista foi negociado por R$ 4,1056, em baixa de 0,36%. Com o resultado desta sexta, terminou a semana com ganho de 4,89%. A sexta-feira foi de enfraquecimento generalizado do dólar ante moedas fortes e emergentes, por conta do discurso brando do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole. Houve um único sobressalto ao longo do dia, registrado à tarde, depois que o presidente Donald Trump afirmou no Twitter que orientou sua equipe a cancelar uma viagem à Coreia do Norte, justificando que não houve progresso suficiente para o fim das armas nucleares no país. O tuíte promoveu um fortalecimento pontual do dólar no exterior e a moeda chegou a subir 0,31%, na máxima de R$ 4,1330, para depois retomar a trajetória de baixa.

O cenário eleitoral doméstico teve poucas notícias, mas esteve no pano de fundo dos negócios. Pela manhã, ajudou na queda do dólar a repercussão de um levantamento eleitoral sinalizando menor transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Fernando Haddad que o esperado. À tarde, contudo, a cautela voltou a se instalar no mercado, voltando a restringir o movimento de queda.

A ausência do Banco Central diante da escalada recente do dólar continuou como um dos principais assuntos do dia. "Ao que tudo indica, o risco cambial ainda está controlado e o Banco Central não entrou no mercado porque não houve falta de liquidez. Mas se ele perceber que a cotação está alcançando patamares que coloquem em risco a inflação e os juros, então ele deve voltar a atuar", disse Alessandro Faganello, operador da Advanced Corretora. Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, a correção discreta registrada nesta sexta pelo dólar mostra que a cautela do investidor segue firme no mercado, que não está disposto a abrir mão das posições defensivas.

Para ele, o dólar acima de R$ 4 "é assustador", embora as condições do País sejam bem melhores hoje do que anos atrás. "Entendemos que o mercado fez ajustes hoje, alinhado ao mercado externo, mas ao mesmo tempo mostrando que não quer ficar exposto ao risco", disse. Bovespa O Ibovespa mostrou fôlego na sessão de negócios hoje empurrado pelos bons ventos que sopraram do exterior. Ao fechar com ganhos de 0,83%, aos 76.262,23 pontos, conseguiu recuperar perdas e encerrar a semana acumulando leve alta de 0,31%. No entanto, não teve forças para reverter a desvalorização de quase 4% no mês de agosto.

Em um dia de agenda esvaziada por aqui e sem novidades de peso sobre a corrida presidencial, os investidores se concentraram na ponta de compra, mas sem muita ênfase. Tanto que o giro financeiro foi baixo, chegando a R$ 7,8 bilhões. Os mercados acionários europeus e nos Estados Unidos encerraram seus pregões em alta, influenciados positivamente pelas declarações do presidente de Powell em Jackson Hole. Segundo ele, não está certo que a inflação nos EUA esteja acelerando para além dos 2% esperados e que vai fazer o que for preciso diante de uma crise ou de um choque inflacionário, ou seja, caso os índices de preços subam ou caiam demais.

Ajudou também no dia o avanço dos índices de ADRs de empresas brasileiras negociadas nos EUA e a valorização de um pouco mais de 1% das commodities, como petróleo e minério de ferro. As ações da Petrobras fecharam em alta de 0,57% (ON) e de 1,95% (PN) e da Vale ON, 1,50%. Ainda entre as blue chips, no bloco financeiro, Banco do Brasil ON avançou 1,37%, Bradesco, 0,89% e Itaú Unibanco, 0,75%. Já as Units do Santander recuaram 0,03%.

Com a valorização contínua da divisa americana nas negociações locais, o mercado acionário brasileiro segue atrativo aos olhos dos não-residentes. De acordo com a B3, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 290,593 milhões na quarta-feira, fazendo com que o saldo de recursos no mês acumulasse R$ 2,733 bilhões, reduzindo assim, o montante negativo apurado em 2018 para R$ 3,429 bilhões.

Para a semana que entra, analistas esperam que a volatilidade prossiga. Um suporte importante está por volta dos 75.100 pontos que, ao ser perdido, pode levar a perdas maiores. Juros Os juros futuros fecharam a sessão regular em queda, em mais um dia de sintonia com o câmbio. O discurso do presidente do Fed em Jackson Hole trouxe alívio aos investidores, enfraquecendo o dólar não somente ante divisas de países emergentes como também em relação às moedas principais, com reflexo na curva de juros doméstica, que devolveu prêmios.

No período da tarde, houve alguma volatilidade, e as taxas chegaram a inverter a queda e subir, na medida em que o câmbio também mostrou uma piora pontual. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 8,50%, de 8,57% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 9,76% para 9,68%. A taxa do DI para janeiro de 2023 encerrou em 11,27%, de 11,37% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 11,99% (mínima), de 12,11%.

Profissionais do mercado classificam o ajuste das taxas nesta sexta-feira como trégua, insuficiente para se contrapor à esticada dos prêmios da curva e da cotação do dólar nos últimos dias. Prevalece a percepção de que o quadro eleitoral incerto não autoriza grande exposição ao risco. "O dia é positivo lá fora, mas houve volatilidade a partir do meio do dia, com a piora das moedas que puxou junto o DI e Bolsa", disse o trader da Quantitas Asset Matheus Gallina.

Sem novidades nesta sexta no noticiário das eleições e agenda doméstica fraca, foi mesmo o exterior a conduzir os negócios por aqui. "As falas mais 'dovish' (mais leve) de Powell deram fôlego às bolsas globais e reduziram - ainda mais - a procura por dólar. Em nossa visão, o evento não trouxe grandes novidades", afirma a Guide Investimentos em relatório, complementando que havia forte expectativa com relação às possíveis sinalizações referentes à trajetória da redução dos balanços dos BCs e trajetória dos juros americanos.

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