Dólar começa julho em queda, aos R$ 5,31

Dólar começa julho em queda, aos R$ 5,31

Bolsa fechou em alta de 1,21%, com foco em vacina e dados dos EUA

AE

Apesar de começar segundo semestre em queda, avaliação dos economistas para o real é de cautela

publicidade

O dólar começou julho em queda, em parte um movimento de ajuste após as altas recentes, em parte refletindo o enfraquecimento da moeda americana no exterior nesta quarta-feira. Otimismo com o desenvolvimento de uma vacina para combater o coronavírus, desta vez da Pfizer com a BioNTech, e indicadores melhores que o esperado nos Estados Unidos, Europa e Brasil ajudaram a estimular a busca por ativos de risco. O dólar à vista fechou em queda de 2,24%, cotado em R$ 5,3181. No mercado futuro, o dólar para agosto recuava 2,64% às 17h, em R$ 5,3190.

Apesar de começar o segundo semestre em queda, a avaliação dos economistas para o real é de cautela. "O quadro está muito volátil. Nossa expectativa de final de ano é R$ 5,35, mas a incerteza é grande", afirma o economista da Tendências, Silvio Campos Neto. Ele avalia que há espaço para um dólar mais baixo, conforme a pandemia for superada. "Mas os riscos fiscais internos são significativos", disse ele, ao justificar sua visão mais conservadora para a moeda brasileira.

Campos Neto vê uma mudança de patamar que "parece mais definitiva" no câmbio, com o dólar deixando de operar próximo a R$ 4,00 antes da crise para algo próximo a R$ 5,00 a partir de agora.

No exterior, o dólar teve queda generalizada hoje, após os indicadores da indústria, incluindo o relatório dos gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês), mostrarem recuperação da atividade. Também ajudou o relatório ADP, que mede o emprego no setor privado nos EUA, surpreender, não pela criação de 2,4 milhões de vagas em junho, mas com revisão para cima nos números de maio.

O estrategista do banco canadense BMO Capital Markets, Ben Jeffery, ressalta que estes indicadores positivos ajudaram a aumentar ainda mais a expectativa pelo relatório oficial mensal de emprego (chamado de payroll), que teve divulgação antecipada para amanhã por conta do feriado na sexta nos EUA. Após a surpresa com as 10 milhões de vagas criadas em maio, a dúvida é se haverá revisões neste dado e se o número de junho também será forte, embora Jeffery reconheça que está difícil agora nova surpresa como no relatório de maio.

Na ata do Federal Reserve divulgada na tarde de hoje, que não chegou a ter impacto no mercado de moedas, o BC americano reafirmou o comprometimento de usar todas as ferramentas necessárias para lidar com os efeitos da pandemia. Já o presidente Donald Trump prometeu anunciar mais medidas de estímulo, desta vez para os salários.

Em meio a liquidez elevada no mercado internacional, o fluxo de capital para o emergentes bateu em US$ 32 bilhões em junho, de US$ 3,5 bilhões em maio, de acordo com dados preliminares do Instituto Internacional de Finanças (IIF). O Brasil, porém, seguiu perdendo recursos. Pelo canal financeiro, houve saídas líquidas de US$ 4,007 bilhões no mês recém-terminado, até o dia 26, segundo dados do Banco Central.

Ibovespa

O Ibovespa iniciou o novo mês com desempenho superior ao de Nova Iorque, estendendo o padrão diário de idas e vindas que tem essencialmente trancado o índice na faixa estreita de 95-96 mil pontos desde a segunda quinzena de junho, nos melhores momentos chegando a superar a marca de 97 mil no intradia, mas sem conseguir sustentá-la nos fechamentos - isoladamente, no último dia 8, foi aos 97.644,67 naquele encerramento, o melhor desde 6 de março (97.996,77 pontos). Ainda assim, mesmo com a perda de fôlego observada nas últimas semanas, foi o melhor mês de junho desde o ano 2000, quando o Ibovespa registrou ganho de 11,84% no período.

Nesta quarta-feira, com nova rodada de otimismo sobre a possibilidade de vacina contra Covid-19 e de recepção positiva a novos dados de emprego nos EUA, o Ibovespa fechou em alta de 1,21%, aos 96.203,20 pontos, tendo oscilado entre mínima de 95.061,62 e máxima de 96.851,75 pontos, com giro financeiro a R$ 28,1 bilhões. Na semana, avança agora 2,52% e limita as perdas do ano a 16,81%. O dia foi de retomada do apetite por risco, com o dólar spot em baixa de 2,24% no fechamento e o CDS de cinco anos do Brasil no menor nível desde 10 de junho, no começo da tarde.

Após ganhos de 8,76% em junho, de 8,57% em maio e de 10,25% em abril, a extensão da retomada desde o tombo de 29,90% em março segue como questão-chave para os investidores, em um contexto de disponibilidade de liquidez no mundo e de Selic em mínima histórica no Brasil - como pano de fundo, incerteza quanto ao grau de retomada da atividade em meio à possibilidade de uma segunda onda do novo coronavírus.

"O mercado está otimista com a questão da vacina e a retomada da economia, mas deve seguir volátil até que haja mais clareza quanto a uma segunda onda, ou não, de Covid, e o efeito que poderá ter sobre a reabertura das economias", diz Márcio Gomes, analista da Necton. "O viés é de alta, mas no curto prazo o índice deve permanecer entre os 93 e 98 mil, em uma faixa de volatilidade de 4,5%, até que surja uma novidade mais forte, seja para subir ou para corrigir", acrescenta.

Chegando aos 98 mil, o passo seguinte seria atingir a linha de 100 mil, perdida no início de março - um desdobramento mais concreto sobre eventual vacina seria um bom indutor, aponta Gomes. Por outro lado, caso a segunda onda de Covid-19 se materialize, o Ibovespa tenderia para o suporte de 90 mil pontos que, uma vez perdido, encaminharia o índice da B3 para os 85 mil, observa o analista da Necton.

Em meio à busca dos investidores por retorno, em um cenário global de juros negativos ou de taxas reais próximas a zero, o Instituto Internacional de Finanças (IIF) informou hoje que o fluxo de capital externo para emergentes bateu em US$ 32 bilhões em junho, de US$ 3,5 bilhões em maio, na mais recente indicação de que o pior da aversão a risco pode ter ficado para trás. Outro desdobramento positivo foi a notícia de que a vacina experimental contra o novo coronavírus desenvolvida pela Pfizer em parceria com a BioNTech apresentou importantes respostas imunes em adultos saudáveis entre 18 e 55 anos.

Desde o exterior, o mercado também reagiu bem aos dados sobre o emprego no setor privado dos EUA em junho - na quinta-feira, será a vez dos dados oficiais sobre a geração de vagas e a taxa de desemprego na economia americana. De acordo com pesquisa mensal da ADP, foram criadas 2,369 milhões de vagas no setor privado em junho, um pouco abaixo do consenso, de 2,5 milhões. Mas o dado de maio foi muito revisado, de fechamento de 2,76 milhões de vagas para abertura de 3,065 milhões, o que animou os investidores.

Na B3, após o desempenho negativo do segmento no dia anterior, as ações de bancos tiveram recuperação nesta quarta-feira, liderada por Banco do Brasil ON (+2,86%). As ações de commodities tiveram desempenho misto, com Petrobras PN em alta de 0,74% e a ON, praticamente estável (+0,09%), enquanto Vale ON cedeu 2,47%. Na ponta do Ibovespa, destaque para Cyrela (+7,53%), Cosan (+5,67%) e Ecorodovias (+5,63%). No lado oposto, IRB cedeu 7,18%, BRF, 3,57%, e Gerdau PN, 3,31%.

Juros

Os juros futuros de longo prazo completaram nesta quarta-feira a terceira sessão seguida de queda, ainda sustentada pela melhora do apetite por ativos de risco no exterior e percepção de que os piores efeitos da pandemia sobre a economia ficaram para trás. A ata do Federal Reserve, destaque da agenda da quarta-feira, não chegou a influenciar diretamente as taxas locais. Os vencimentos de curto prazo, também a exemplo das últimas sessões, pouco se moveram, sem noticiário ou agenda domésticos que pudessem mexer com as apostas para a Selic.

Algumas taxas renovaram mínimas históricas no fechamento. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 vem se sustentando abaixo dos 3% desde meados da semana passada e, desde então, renovando os pisos históricos, fechando hoje em 2,89%, de 2,922% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 5,683% para 5,61%, novo piso histórico. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 6,54%, nível mais baixo desde 5 de março (6,53%), de 6,613% ontem.

A quarta-feira não teve fatores decisivos que pudessem explicar o comportamento mais tranquilo do mercado, que é atribuído a um sentimento geral de acomodação, proporcionado pelos recentes indicadores de atividade, que vêm surpreendendo, mesmo em meio ao crescimento do número de casos de Covid pelo mundo. O noticiário em torno do lançamento de vacinas em vários países contra a doença contribui para a melhora do humor e, internamente, a crise política parece ter dado trégua. Por fim, a queda do dólar hoje abriu espaço à continuidade do alívio dos prêmios, mas, dada a volatilidade que o câmbio tem mostrado, o movimento não é tido como confiável e a cotação acima de R$ 5,30 ainda é considerada muito elevada.

Para Vitor Carvalho, sócio-gestor da LAIC-HFM, a perda de inclinação já deveria ter sido engatada desde o pós-Copom, na medida em que o Banco Central deixou claro que o espaço para novo corte da Selic é residual. "O DI longo já deveria vir caindo desde a ata, mas o mercado está insistindo na chance de queda da Selic em função da pandemia e da inflação bem comportada projetada para 2021", disse, lembrando que algumas casas já estão com Selic perto de 1,5% no fim do ano e retração do PIB próxima a 10%.

Os vencimentos curtos continuam engessados, com oscilações de um ou dois pontos para cima e para baixo esta semana. "Este trecho não tem quase nada para cair. Temos sinais de melhora na atividade e uma política monetária já no modo superestimulativo. A única dúvida é mesmo quando será a virada da economia", afirmou o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895