Dólar desacelera e encerra sessão cotado a R$ 5,18

Dólar desacelera e encerra sessão cotado a R$ 5,18

Moeda norte-americana recuou mais de 1% nesta sexta-feira, no entanto acumula avanço de 2,10% na semana

AE

Dólar fechou dia cotado a R$ 5,20

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Após três sessões consecutivas de alta, em que acumulou valorização de 4,07%, o dólar à vista recuou mais de 1% no pregão desta sexta-feira, e voltou a fechar abaixo de R$ 5,20. O mercado doméstico refletiu a baixa da moeda americana em relação a divisas emergentes e o tombo das taxas dos Treasuries, após a leitura do relatório de emprego (payroll) dos EUA em agosto abrir a porta para uma moderação da alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano).

Pela manhã, o payroll mostrou criação de 315 mil vagas de trabalho em agosto, acima da mediana de Projeções Broadcast (de 300 mil), mas bem abaixo de julho (revisado de 528 mil para 526 mil). Houve aumento da taxa de desemprego, de 3,5% para 3,7%, e arrefecimento do ritmo de alta do salário médio (0,31% ante expectativa de 0,40%) - dois indicadores que podem sugerir menos pressões inflacionárias à frente. Em reposta, o mercado tratou de aparar um pouco as apostas em alta de 75 pontos-base da taxa básica americana neste mês.

Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY chegou a se situar abaixo dos 109,000 pontos pela manhã. No fim do dia, contudo, já reduzia as perdas e operava na casa dos 109,500 pontos. A moeda europeia se recuperou nesta sexta na esteira da perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) tenha que ser mais agressivo no ajuste da política monetária. O índice de preços ao produtor (PPI) na zona do euro subiu 37,9% em julho (alta anual), acima do esperado (37%).

A tentativa de reação do dólar frente a pares fortes no fim do dia não abalou as moedas emergentes e de países exportadores de commodities, que seguiram em alta firme, com destaque para as três principais divisas latino-americanas (peso mexicano, chileno e real). A moedas da região são beneficiadas pela descida dos retornos dos Treasuries. A taxa da T-note de 2 anos, que abrange as apostas para os próximos passos do Fed, caiu cerca de 3%, passando a operar na casa de 3,40%, depois de ter superado 3,50% na quinta.

Por aqui, o dólar trabalhou em queda desde a abertura. No meio da tarde, chegou a romper pontualmente a linha R$ 5,16, ao registrar mínima a R$ 5,1585 (-1,52). No fim do dia, a divisa reduziu o ritmo de queda e fechou cotada a R$ 5,1848, em baixa de 1,02%. Apesar do refresco desta sexta, o dólar encerra a semana em alta de 2,10%. No ano, as perdas são de 7,01%.

"A semana foi pesada com pressão da questão dos juros nos Estados Unidos, lockdowns na China e a questão técnica da formação da ptax de agosto. Mas os fundamentos brasileiros sustentam a perspectiva de um dólar mais baixo, na casa de R$ 5,10 ou R$ 5,15", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice, Andre Rolha, ressaltando o diferencial de juros ainda elevado e o resultado expressivo do PIB no segundo trimestre. "Estamos crescendo na contramão do mundo e com a inflação sendo controlada. Não me surpreende o dólar ter beliscado R$ 5,15 hoje".

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, atribuiu o refresco na cotação do dólar por aqui nesta sexta sobretudo ao ambiente externo, na esteira da divulgação do payroll. "O mercado entendeu que o Banco Central americano poderá ser menos agressivo com o aumento dos juros por lá, embora a inflação siga incomodando. Isso está ajudando o dólar a cair aqui", afirma.

Monitoramento do CME Group mostra que a chance de alta dos juros em 75 pontos-base no próximo dia 21 caiu de 75% na quinta para 56% no fim da tarde desta sexta-feira, sob impacto do payroll. As atenções se voltam agora a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em agosto, no próximo dia 13.

Em relatório divulgado nesta sexta, o Bradesco prevê que o Fed desacelere o ritmo do aperto monetário e eleve os Fed Funds em 50 pontos-base. O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco, liderado por Fernando Honorato Barbosa, pondera, contudo, que o tom do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, "deixa a porta aberta" para outra alta de 75 pontos-base, dependendo da evolução dos dados. "De toda forma, qualquer que seja a decisão, o Fed dificilmente mudará a sua postura até que a inflação dê sinais claros de arrefecimento", afirma.

Taxas de juros

Em sequência ao rali dos últimos dias, os juros futuros completaram quatro sessões seguidas de baixa nesta sexta-feira, ainda embalados pela entrada de fluxo estrangeiro, mas a queda desta sexta já foi menos robusta que as anteriores. O movimento teve respaldo da volta do apetite pelo risco global, apoiada na leitura do payroll norte-americano de agosto que freou o avanço das apostas de ação mais agressiva do Federal Reserve. As taxas dos Treasuries tiveram alívio e o dólar teve queda generalizada. No balanço da semana, a curva recuou praticamente em bloco, com pouca mudança nos níveis de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,84%, de 12,87% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,75% para 11,71%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,47%, de 11,54%. Na semana, as taxas em geral tiveram alívio entre 25 e 30 pontos-base, ante os níveis da última sexta-feira.

Após três sessões de recuo consecutivo, havia até espaço nesta sexta para alguma correção na curva, mas o mercado acabou adiando eventual ajuste, na esteira da reação ao relatório de emprego nos Estados Unidos. A criação de vagas em agosto, de 315 mil, veio pouco acima do consenso (300 mil), mas a alta dos salários não subiu como o esperado e a taxa de desemprego avançou, ante previsão de estabilidade. Ainda que economistas ponderem ser necessário esperar pela inflação ao consumidor de agosto, que sai só dia 13, os números desta sexta esfriaram a aposta de nova elevação de 75 pontos-base no encontro do Fed deste mês.

Nos Treasuries, a taxa da T-Note de dez anos chegava ao fim da tarde em 3,19%, de 3,26% na quinta, mas a que mais caía era a da T-Note de dois anos, de 3,51% para 3,40%, que melhor reflete as perspectivas para o juro americano no curto prazo. O Índice Bloomberg Global Aggregate Total Return mostra que o mercado de títulos dos Estados Unidos entrou em seu primeiro bear market - caracterizado por queda de ao menos 20% ante o pico mais recente - em mais de 30 anos.

Nesse contexto, o operador de renda fixa da Mirae Asset Paulo Nepomuceno explica que o Brasil se torna naturalmente um destino atrativo ao fluxo de capital, ao combinar juros elevados e melhora recente dos fundamentos econômicos. "Há poucas opções hoje para se alocar recursos, sobretudo entre emergentes. Rússia? Chile?", questiona, lembrando que o país do leste europeu está em guerra e que o vizinho latino passa por turbulências políticas. "Sobrou o Brasil, que tem prêmios de risco atrativos e um mercado de derivativos que segura bem a conversibilidade da moeda", disse.

Em relatório, o Banco Inter ressalta que a curva de juros teve forte fechamento em agosto, com os sinais de queda da inflação e consolidação da aposta de fim do ciclo de alta da Selic. "O mercado precifica a primeira redução da Selic em março de 2023, mas a queda esperada ainda é bastante modesta perto do possível movimento de afrouxamento monetário ao longo do próximo ano, considerando uma expectativa de inflação caindo para abaixo de 5% no ano que vem", afirmam os economistas no relatório assinado pela economista-chefe, Rafael Vitória.

Bolsa

Segundo dia de setembro e segundo ganho para o Ibovespa, mesmo com o sinal negativo de Nova York, onde as perdas chegaram a 1,31% nesta sexta-feira, no Nasdaq. Aqui, a referência da B3 fechou o dia em leve alta de 0,42%, a 110.864,24 pontos, entre mínima de 110.408,92, da abertura, e máxima de 112.264,17 pontos, com giro reforçado a R$ 37,8 bilhões na sessão.

As duas altas seguidas, contudo, não foram o suficiente para apagar as perdas da semana, vindo o Ibovespa de queda de 0,82% na quarta e de 1,68% na terça, após um início praticamente estável (+0,02%), na segunda-feira. Assim, com a correção nas últimas sessões de agosto, esta semana de transição para setembro viu perda de 1,28%, que reverteu o ganho de 0,72% do intervalo anterior. No ano, o Ibovespa sobe 5,76% e, em setembro, avança 1,22%.

No exterior, o dado mais aguardado do dia, o relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano em agosto - com a geração de vagas, a taxa de desemprego e a evolução da renda salarial - manteve a porta aberta para que o Federal Reserve possa ajustar o ritmo e imprimir um grau talvez menos agressivo de elevação dos juros em setembro, na avaliação de mercado. Na B3, os ganhos observados no setor financeiro (B3 +4,46%, Itaú PN +1,37%) foram o contraponto à baixa em Petrobras (ON -1,45%, PN -1,27%) e Vale (ON -1,52%, na mínima do dia no encerramento).

Na ponta do índice, empresas do segmento imobiliário como Eztec (+8,42%), JHSF (+8,28%), MRV (+8,14%) e Cyrela (+7,86%) - setor que já vinha em destaque na quinta com a queda dos DIs e a extensão dos prazos de financiamento dos contratos do Casa Verde e Amarela, observa Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos - tiveram desempenho à frente nesta sexta-feira de Braskem (+6,84%) e WEG (+6,45%). No lado oposto, IRB (-12,86%), Petz (-3,88%) e Via (-3,13%).

"Houve espera pelo payroll, dados que contribuem para uma 'clareada' sobre o Fed e que podem ser chave para a decisão, para a magnitude do aumento de juros na próxima reunião", diz Harada, da Blackbird, acrescentando que o mercado de trabalho nos Estados Unidos tem se mantido aquecido mesmo com as elevações de juros efetivadas nos últimos meses, o que vinha contribuindo para consenso em torno de aumento de 75 pontos-base para a taxa de juros do Federal Reserve em setembro.

Ele chama atenção também para a inflação ao produtor (PPI) na zona do euro (+4%), acima do esperado (+3%) em julho ante junho, o que reforça a visão de que o Banco Central Europeu (BCE) precisará ser mais agressivo na próxima reunião, no dia 8 de setembro, com uma elevação de 0,75 ponto porcentual nos juros de referência. Na comparação de julho com o mesmo mês do ano passado, o PPI na zona do euro acumula variação de 37,9%, em aceleração frente ao ritmo de 35,8% observado em junho.

Nos Estados Unidos, "o payroll veio misto porque, ao mesmo tempo que criou mais vagas do que o previsto, houve aumento da taxa de desemprego, de 3,5% para 3,7%, e, principalmente se olharmos dentro dos grupos, houve aumento entre os que sofrem mais, os menos escolarizados, onde a taxa subiu de 5,9% para 6,2%", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, observando também que entre os mais escolarizados, com ao menos uma graduação, a taxa de desemprego caiu de 2% para 1,9% em agosto.

Ele acrescenta que o ganho salarial médio teve leve alteração no mês, embora ainda em patamar elevado especialmente na comparação anual, em alta de 5,2%. "A estimativa do mercado é de que, na comparação anual, esta alta deveria estar em 3,5% para que não estivesse pressionando tanto a inflação", observa Cruz.

"Há um caminho a ser percorrido pelo Fed. Ainda não é o suficiente para uma (alta menor), de meio ponto porcentual, na taxa de juros dos Estados Unidos, mas caso a inflação desacelere muito, talvez ganhe força essa expectativa no mercado", conclui o estrategista, antecipando divisão nas projeções, embora com o call de 0,75 p.p. ainda predominando para setembro.

Apesar da sensação de que não se terá como passar incólume ao processo de ajuste nas políticas monetárias nas maiores economias, e no momento em que outra ponta do tripé, a China, também mostra menos vigor econômico, o Ibovespa tem sustentado algum descolamento, mesmo nos dias desfavoráveis em Nova York, como esta sexta.

Com os temores fiscais adiados para 2023, a boa recuperação do PIB, a moderação de ritmo da inflação nas últimas leituras mensais sob efeito dos ajustes já promovidos pelo BC na Selic - e muito antecipado ao ora promovido nos juros das economias centrais -, redespertou-se o interesse por ativos brasileiros, o que se reflete também no câmbio, apesar da volatilidade vista nesta semana.

Apesar das incertezas externas e da volatilidade que pode vir à frente, neste mês que falta para o primeiro turno da eleição, as expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo ficaram ligeiramente mais otimistas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a fatia dos que esperam ganhos para o Ibovespa na próxima semana subiu de 50,00% na pesquisa passada para 60,00%, enquanto a previsão de queda recuou de 30,00% para 20,00%. A parcela dos que acreditam em variação neutra manteve-se em 20,00%.


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