Dólar dispara e fecha a R$ 5,38 no maior nível desde o final de julho

Dólar dispara e fecha a R$ 5,38 no maior nível desde o final de julho

Moeda norte-americana chegou a ultrapassar o teto de 5,40 durante a sessão desta segunda-feira

AE

Dólar fechou o dia em R$ 5,14

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O dólar disparou no mercado doméstico de câmbio nesta segunda-feira, ultrapassou o teto de R$ 5,38 nos momentos de mais estresse e fechou no maior nível desde fins de julho, em meio a um ambiente global de liquidação de ativos de risco e busca por proteção na moeda norte-americana. Crescem os temores de que o mundo amargue uma recessão na esteira do aperto monetário nos países desenvolvidos e da crise de energia na Europa em razão de sanções à Rússia, que ameaça escalar a guerra na Ucrânia com uso de armas nucleares.

O caldo entornou ao longo da tarde à medida que investidores assimilavam declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) e a decisão do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) de não intervir no mercado de câmbio ou promover alta extraordinária dos juros para conter a queda livre da libra esterlina. Em nota, o BoE disse que "fará uma avaliação completa em sua próxima reunião".

Presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic afirmou que a reação negativa dos mercados ao plano fiscal no Reino Unido "aumenta a incerteza". Mesmo sem voto nas decisões de política monetária do Fed neste ano, ele engrossou o tom duro adotado recentemente por dirigentes do BC americano e disse que ainda há um "longo caminho" no processo de alta de juros.

Susan Collins, que assumiu a distrital do Fed em Boston, com direito a voto, focou seu primeiro discurso no combate à inflação e também na necessidade de apertar os juros. Já a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que espera aumentar ainda mais as taxas para "amortecer a demanda".

Taxas dos Treasuries escalaram, com a T-note de 10 anos, o ativo livre de risco do mundo, superando 3,90% na máxima. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - superou a linha dos 114,000 pontos e registrou máxima 114,527 pontos, com ganhos de mais de 1,5% da moeda americana frente a libra. Na outra ponta da gangorra, as commodities tombaram. O contrato do petróleo tipo Brent para dezembro, referência para a Petrobras, fechou em baixa de 2,55%, a US$ 82,86 o barril.

Por aqui, o dólar emendou sucessivas máximas e chegou a ser negociado pontualmente acima de R$ 5,41, tocando R$ 5,4171 (+3,21%). No fim do dia, a moeda avançava 2,53%, a R$ 5,3814 - maior valor de fechamento desde 22 de julho. Com isso, o dólar passa a apresentar ganhos de 3,46% em setembro, o que reduz a desvalorização acumulada neste ano a 3,49%.

Entre as divisas emergentes, o real foi o que mais apanhou, seguido pelo peso chileno. Operadores e analistas ressaltam que a moeda brasileira vem de um período de desempenho relativo superior a seus pares e que chegou até a se descolar, ao longo da semana passada, da tendência de valorização global do dólar - movimento atribuído à diminuição de risco fiscal após apoio formal do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial. Havia, portanto, espaço para recomposição de posições defensivas. Embora não tenha havido mudança no quadro eleitoral, analistas dizem que o clima de incertezas às vésperas do pleito aumenta a demanda por proteção no mercado de câmbio.

O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, observa que o tom duro do Federal Reserve, na semana passada, na esteira de uma leitura muito ruim da inflação ao consumidor nos EUA em agosto, deflagrou um novo episódio de aversão ao risco que castiga emergentes. A escalada das taxas dos títulos de longo prazo nos Estados Unidos e na Europa provoca a maior destruição de riqueza nos mercados de renda fixa de países desenvolvidos dos últimos 50 anos e detona um rearranjo global de portfólios, avalia Miraglia.

"Esses episódios de aversão ao risco vêm em ondas. O ambiente deve ser desafiador e volátil talvez até o primeiro trimestre do ano que vem", afirma o economista, que vê o plano do governo do Reino Unido de corte de impostos e aumento de gastos como um dos gatilhos para a degringolada dos últimos dias. "É uma receita que já vimos em mercados emergentes e que não dá certo. Temos também o recrudescimento da guerra na Ucrânia, com ameaça de uso de armas nucleares pela Rússia."

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em alta, em sessão marcada novamente pela tensão ante o risco para a atividade nos Estados Unidos e na Europa embutido nas perspectivas para aumentos nos juros globais. Entre os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), as taxas voltaram a subir com força a partir dos vértices intermediários, espelhando a abertura das curvas no exterior e também a força do dólar ante o real.

A taxa do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,822% no ajustes de sexta-feira para 12,95% no fim da sessão regular e a do DI para janeiro de 2025 fechou em 11,83%, de 11,621%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,69%, de 11,408%.

Embora a taxa do DI para janeiro de 2024 tenha voltado a se aproximar dos 13%, nesta segunda o que chamou mais a atenção foi avanço de quase 30 pontos-base da curva longa, com máximas especialmente depois que o dólar, também no pico da sessão, chegou a romper os R$ 5,40. No entanto, a trajetória foi ascendente desde a abertura, com o exterior no foco. Declarações na linha "<i>hawkish</i>" de dirigentes dos bancos centrais ampliaram o temor de recessão, reverberando nos ativos de forma generalizada.

Enquanto a economia norte-americana ainda tem algum estofo para aguentar pressão, a situação é mais crítica na Europa, pressionada adicionalmente pela guerra entre a Ucrânia e a Rússia e agora também com a extrema direita na Itália. No Reino Unido, o impacto do pacote fiscal com corte de impostos continuou tendo efeito pesado nos gilts e derrubando a libra.

Nos Treasuries, as taxas subiram, nesta segunda mais fortemente na ponta longa, mas ainda assim a inversão da curva entre as T-Note de dez e dois anos segue como indicativo de recessão para os Estados Unidos. Como o leilão de T-notes de 2 anos teve demanda abaixo da média recente, os retornos na ponta longa tiveram impulso. No fim da tarde, o yield da T-Note de dois anos apontava 4,30% e o da de 10 anos, 3,87%.

André Alírio, operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, vê mudança de postura das autoridades monetárias nas últimas semanas, que antes temiam a recessão e agora assumem o "modo Paul Volcker". O presidente do Federal Reserve entre o fim dos anos 70 e começo dos anos 80 promoveu um choque de juros em meio aos impactos inflacionários gerados pela crise do petróleo. "Deixaram para trás o medo da recessão e estão dispostos a assumir os riscos", disse.

Nos anos 80, a alta de juro nos EUA quebrou vários países da América Latina, incluindo o Brasil. Desta vez, os fundamentos domésticos são considerados positivos para amortecer o choque, mas, segundo Alírio, de todo modo seria prematuro abrir o ciclo de cortes da Selic nos próximos meses. "Se começar a cortar muito cedo, não haverá tempo hábil para a transmissão dos efeitos da política monetária", comentou.

Um quadro mais claro das intenções do BC com a Selic pode vir na terça-feira na ata do Copom e na quinta-feira, via Relatório Trimestral de Inflação (RTI). O mercado terá na terça ainda o IPCA-15 de setembro para digerir. A mediana das estimativas é de -0,20%, com a deflação perdendo força ante agosto (-0,73%), segundo pesquisa do Projeções Broadcast.

Bolsa

Após acumular ganho de 2,23% na semana passada na contramão da cautela externa, o Ibovespa se manteve em baixa nesta segunda-feira desde a abertura, mesmo nos momentos em que Nova York esboçava reação, devolvida ao longo da tarde. Assim, com dólar tendo chegado à faixa de R$ 5,41 na máxima do dia, a referência da B3 encerrou em queda de 2,33%, a 109.114,16 pontos, menor nível de fechamento desde 9 de agosto, então aos 108.651,05. Nesta segunda-feira, saiu de máxima na abertura a 111.712,70 e tocou na mínima 109.021,62 pontos, no fim da tarde, com giro a R$ 31,2 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa zera o avanço de setembro, cedendo agora 0,37% no intervalo e limitando o ganho do ano a 4,09%.

Entre as blue chips, apenas Vale (ON -0,83% no fechamento) conseguiu se descolar da correção em parte do dia, especialmente forte no setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, com perdas que chegaram a 4,62% (BB ON) entre os grandes bancos no encerramento. Na contramão inclusive do ajuste em siderurgia (Gerdau PN -4,69%, Usiminas PNA -4,60%, CSN ON -3,98%), Vale chegou a figurar como quarta maior alta do Ibovespa, mas virou para o negativo em direção ao fechamento.

Na ponta perdedora, destaque para 3R Petroleum (-6,83%), Petz (-6,63%), Magazine Luiza (-6,26%), Natura (-6,18%) e BTG (-5,87%). No lado oposto, São Martinho (+0,60%), Qualicorp (+0,22%) e Klabin (+0,17%), os únicos três componentes do Ibovespa que conseguiram sustentar alta, ainda que leve, no fechamento do dia.

Assim como para as ações expostas à economia doméstica, o dia foi negativo também para o petróleo, com o Brent em queda superior a 2%, negociado abaixo de US$ 85 por barril. Na B3, Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 0,79% e 1,60%, contribuindo para recuo de 2,09% no índice de materiais básicos (IMAT), inferior porém ao do ICON, o índice de consumo (-2,89%).

"As bolsas no mundo todo estenderam hoje o mau humor de sexta-feira, com um cenário de 'sell off' nos mercados", aponta Álvaro Feris, especialista da Rico Investimentos. Ele destaca a preocupação em torno de "potencial inflação descontrolada no Reino Unido", na esteira de "pacotes de estímulo econômico e de cortes de impostos para evitar uma recessão por lá".

Com as dúvidas sobre o Reino Unido, os custos de empréstimo no médio prazo para o país sofreram um salto, ficando acima de dois membros considerados entre os mais fracos da zona do euro, Itália e Grécia. O retorno do bônus de 5 anos do Reino Unido avançava a 4,535% nesta segunda-feira, segundo a Tradeweb, enquanto o yield para papéis com mesmo vencimento de Itália e Grécia seguia abaixo de 4%.

"O movimento segue a piora do sentimento local após o anúncio de corte de impostos e aumento de gastos no Reino Unido mesmo com uma situação fiscal frágil, o que elevou as taxas de juros futuras e gerou especulações de que o BC inglês terá de realizar ação emergencial para conter a desvalorização da moeda", observa a Guide Investimentos em nota, ressaltando a queda acentuada da libra, "atingindo valor próximo à paridade, em mínima a US$ 1,03 nesta manhã".

"O temor é de que esses pacotes de estímulos causem ainda mais problemas com relação à inflação, e por isso os investidores buscaram porto seguro no dólar fazendo com que a libra se desvalorizasse bastante no dia de hoje", diz Leonardo Neves, especialista em renda variável da Blue3, ressaltando também o impacto dos receios quanto a uma recessão global nos preços de commodities como o minério e o petróleo, com efeito direto sobre o Ibovespa nesta segunda-feira.

"Continua o estresse nos mercados globais, mais um dia complicado depois de semana que já havia sido difícil para a bolsa americana, com recuo de 5% e o S&P 500 vindo abaixo de 3.700 pontos. O Brasil se segurou na semana passada, e a Bolsa brasileira ainda é um dos destaques do ano em relação às globais. Mas o clima lá fora ainda é de temor de recessão global, com notícias problemáticas como a crise energética na zona do euro, choque de juros nos Estados Unidos e falta de sinais de melhora no conflito do Leste Europeu", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Apesar da relativa resiliência mostrada pelas ações brasileiras frente ao mal-estar externo, o cenário doméstico nesta semana que antecede o primeiro turno das eleições é também desafiador, pelo que ainda conserva de incerteza para o próximo ano. "Os desafios do próximo presidente serão muitos: PIB fraco, juros altos, inflação resistente, possível piora do desemprego e aumento da dívida pública", diz Rodrigo Simões, professor da FAC-SP, especialista em finanças e economia.

Nesta segunda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a taxa Selic este ano é "freio de mão puxado", mas estimou que o PIB pode ter crescimento de até 3%, mesmo com a política de aperto monetário. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica em 13,75%, interrompendo o ciclo de 12 altas seguidas da taxa.


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