Dólar encosta em R$ 5,60 com Covid na Europa e pacote de estímulos parado nos EUA

Dólar encosta em R$ 5,60 com Covid na Europa e pacote de estímulos parado nos EUA

Em dia de vencimento de opções, Ibovespa encerrou o dia em alta, aos 99.334,43 pontos

AE

Moeda norte-americana à vista encerrou o dia em alta de 0,36%, cotado em R$ 5,59

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O dólar firmou alta nos negócios da tarde, chegando a superar os R$ 5,60. Com a agenda doméstica esvaziada, mas as preocupações fiscais ainda no radar, foi o noticiário externo, em sua maioria negativo, que guiou o mercado de câmbio nesta quarta-feira, ajudando a ofuscar os dados positivos do setor de serviços e do fluxo cambial de outubro. Nos Estados Unidos, a Casa Branca admitiu publicamente a dificuldade de aprovar um pacote de estímulos antes das eleições de 3 de novembro. Do outro lado do Atlântico, com os casos de coronavírus em alta na Europa, a França começa um toque de recolher a partir de sábado, por quatro semanas.

Após cair a R$ 5,53 pela manhã, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,36%, cotado em R$ 5,5986. Na máxima, foi a R$ 5,60. No mercado futuro, o dólar para novembro subia 0,49% às 17h, em R$ 5,6020.

No mercado doméstico, a notícia positiva do dia foi o avanço de 2,9% do setor de serviços em agosto, terceiro mês seguido de crescimento. Mas no câmbio, o noticiário negativo externo acabou ofuscando o resultado do segmento e mesmo o fluxo cambial positivo nesta primeira metade de outubro, em US$ 234 milhões até o dia 9, segundo o Banco Central.

"Os mais importantes catalisadores para o mercado de moedas esta semana são as conversas sobre estímulo em Washington, as negociações do Brexit e as novas restrições na Europa", avalia a diretora de câmbio da gestora americana BK Asset Management, Kathy Lien. Ela ressalta que a Europa está em plena segunda onda de casos, com vários países adotando restrições, como Holanda e Espanha, enquanto no Congresso americano é cada vez menos provável um acordo antes das eleições.

Na tarde desta quarta, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, admitiu que os republicanos e democratas estão distantes de um acordo e um entendimento antes da eleição de novembro será "difícil". Neste momento, o dólar passou a ganhar força ante moedas fortes e emergentes.

Já no mercado local, o noticiário em Brasília segue esvaziado sobre as reformas e o ajuste fiscal. A agência de classificação de risco Moody's alertou que, em seu cenário-base para 2021, espera a retomada das reformas, sobretudo as de curto prazo, para melhorar o perfil de gastos públicos do País, como a PEC Emergencial, que estabelece controles para as despesas. "Já estamos em outubro, o importante é que reformas avancem neste ou no próximo ano", disse a vice-presidente e analista sênior do rating soberano do Brasil da Moody's Investors Service, Samar Maziad. A analista ressaltou que não há muito espaço dentro do teto para acomodar mais gastos sociais e que o mecanismo precisa ser mantido.

Ibovespa

Com variação de pouco mais de mil pontos entre a mínima e a máxima da sessão, o Ibovespa conseguiu recuperar a linha dos 99 mil pontos nesta quarta-feira, mantida no fechamento, apesar do desempenho negativo em Nova Iorque. Em dia de vencimento de opções e do índice futuro reforçando o volume, o Ibovespa encerrou em alta de 0,84%, aos 99.334,43 pontos, entre 98.501,44 e 99.570,80 pontos ao longo da sessão, com giro financeiro a R$ 45,7 bilhões. No mês, os ganhos chegam agora a 5%, com perdas no ano a 14,10%. Na semana, o desempenho do Ibovespa (+1,90%) supera até aqui o do melhor índice de Nova Iorque no período, o Nasdaq (+1,63%).

Novas declarações de autoridades americanas, à tarde, contribuíram para deixar Wall Street no vermelho nesta quarta-feira, pelo segundo dia. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que entendimento sobre novo pacote fiscal permanece distante, e difícil de alcançar antes da eleição de novembro, enquanto o presidente Donald Trump voltou a responsabilizar os adversários pela falta de avanço. "Os democratas apenas querem dinheiro para socorrer estados governados por eles", reiterou Trump.

Com as declarações, e a piora do humor em Nova Iorque, o Ibovespa oscilou para baixo dos 99 mil pontos, mas não demorou muito para recuperar a marca. O sentimento no exterior também se deteriorou com a adoção de novas restrições, como toque de recolher em cidades da França, em meio à segunda onda de Covid-19 na Europa.

Ao final, os ganhos na B3 se mostraram menos disseminados do que o observado mais cedo, com desempenho misto em commodities (Vale ON +1,38% e Petrobras PN -0,79%, apesar de alta de 2% no Brent) e bancos (Santander + 1,23% e Itaú PN -0,29%), o que não impediu que o índice fechasse não distante da máxima da sessão. Na ponta do Ibovespa, JBS subiu 9,20%, à frente de PetroRio (+8,02%) e de Rumo (+5,52%), enquanto, na face oposta, Hering cedeu hoje 2,22%, seguida por Lojas Americanas (-1,98%), Lojas Renner (-1,78%) e Magazine Luiza (-1,58%), que havia sido a segunda maior alta do dia anterior, com foco no desdobramento da ação, nesta quarta-feira.

"Setores associados à demanda por consumo, como carnes e varejo, têm mostrado bom desempenho, o que reflete um cenário de atividade mais favorável. Já se fala em falta de produtos, como geladeiras, para datas fortes do comércio, como a Black Friday", diz Ari Santos, operador de renda variável da Commcor. "Hoje, no vencimento do índice, teve uma virada de mão, com os comprados se sobrepondo aos vendidos. O Ibovespa saiu de 105 mil no melhor momento da recuperação, chegando aos 93 mil e, acima dos 95 mil, voltou a se ver disposição melhor para compras. Mas há muita indefinição ainda, sobre quando se terá vacina da Covid e, aqui, sobre a situação fiscal", aponta Santos.

A relativa tranquilidade no cenário doméstico, sem novos ruídos na política e na condução do fiscal, contribui para que os investidores voltem a mostrar algum apetite por ações, com definições essenciais, como o renda Cidadã, tendo sido adiadas para depois das eleições municipais. Assim, em alta pelo segundo dia, o Ibovespa manteve hoje o maior nível de fechamento desde 17 de setembro (100.097,83 pontos) e, no intradia, o melhor desde o dia 18 do mesmo mês (100.101,91).

"Pelo lado gráfico, o Ibovespa superou ontem uma importante marca, de 98,4 mil pontos, o que abre um canal de alta que pode levá-lo aos 101 mil ou mesmo aos 103 mil pontos. O mercado está muito concentrado no curto prazo e o retorno do estrangeiro em outubro, com ingressos líquidos de recursos na B3 nos dias 7, 8 e 9, contribui para alavancar este movimento", observa Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.

"Pelo lado dos fundamentos, os últimos dados sobre varejo e serviços contribuem para firmar percepção de uma retomada melhor do que se antevia, o que é reforçado pela flexibilização das medidas restritivas nos estados. Os dados contribuem também para uma boa expectativa para os balanços do terceiro trimestre, que começam a chegar amanhã, com CSN", acrescenta.

Juros

Os juros futuros fecharam o dia em baixa, mas em ritmo mais contido à tarde, em meio ao aumento da cautela nos mercados internacionais, que também acelerou a alta do dólar, além do início da movimentação em torno do leilão do Tesouro amanhã, para completarem a quarta sessão consecutiva em baixa. A ação coordenada do Banco Central e Tesouro iniciada no fim da semana passada ainda continua produzindo efeitos positivos na curva, dada a percepção de que as autoridades estão se mobilizando para aliviar a pressão no mercado de renda fixa. Embora o cenário fiscal se mantenha desafiador, a trégua dos ruídos políticos também contribuiu para acalmar os investidores.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou em 4,55%, voltando aos níveis do fechamento do mês passado, de 4,605% ontem no ajuste. O DI mais líquido, para janeiro de 2022, encerrou com taxa de 3,19%, de 3,234% ontem. A do DI para janeiro de 2025 terminou na máxima de 6,42% de 6,43%4 ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 7,384% para 7,36%.

As questões técnicas pautadas pelas mudanças nas operações compromissadas e nos prazos dos títulos a serem ofertados pelo Tesouro prevaleceram mais um dia, na medida em que também os representantes das autarquias têm comentado as medidas e se disposto a esclarecer alguns pontos.

Ontem, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em live da Genial Investimentos, negou demora da instituição em atuar diante da elevação dos prêmios de risco em papéis mais longos ou ter sido lenta ao corrigir distorções entre a curva das LFTs - que tem maior inércia - e a curva de outros papéis. "A abertura da curva foi muito rápida, mas acompanhamos de perto e não faltou diligência nem comunicação da parte do Tesouro", disse. Nesta quarta-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, negou que com as medidas da sexta-feira o BC esteja forçando os agentes a comprarem títulos. "Tudo que a gente fez foi pensando em reduzir os prazos de execução da política monetária de forma a não concorrer com a atuação do Tesouro Nacional, que por questões arbitrais tem sido mais curta", afirmou, em videoconferência da Renascença DTVM & Panamby Capital.

Para o mercado, os discursos estão corretos e as medidas, acertadas, dentro de um escopo restrito de atuação, mas, segundo um gestor, "todos sabemos" que a situação é mais grave do que o governo pode admitir publicamente.

De todo modo, ao menos o Tesouro parece estar conseguindo ganhar algum tempo com tais sinalizações e os efeitos no mercado de títulos, sobretudo LFT, já são perceptíveis, com melhora de demanda e desaceleração dos deságios no secundário. Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, afirma que a atuação conjunta deve diminuir a pressão de curto prazo, mas joga o problema mais à frente. "O BC e o Tesouro estão fazendo o que podem e o mercado está dando algum crédito de que vai se conseguir administrar o curto prazo. Mas o cenário tem apontado sempre para um dia pior do que o outro", afirmou, alertando para o risco elevado de se encurtar demais a dívida.


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