Dólar fecha abaixo de R$ 5,10 com investidores à espera de CPI nos EUA

Dólar fecha abaixo de R$ 5,10 com investidores à espera de CPI nos EUA

Ibovespa subiu 0,98% nesta segunda-feira

AE

Moeda norte-americana encerrou a semana com ganhos de 2,11%

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O dólar abriu a semana em queda firme, abaixo da linha de R$ 5,10, em meio à continuidade do movimento de enfraquecimento global da moeda norte-americana e de valorização dos ativos de risco iniciado na última sexta-feira. Operadores nesta segunda-feira relataram ao longo da sessão fluxo de recursos estrangeiros para a bolsa doméstica e desmonte de posições defensivas no mercado futuro de câmbio.

Com a agenda de indicadores esvaziada, investidores operaram à espera da divulgação, na terça-feira, do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em agosto para balizar as apostas sobre o ritmo e magnitude da alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

A tese que embala a recuperação dos mercados de risco é a de que a inflação americana já atingiu seu pico e começará a dar sinais claros de arrefecimento. Isso facilitará o trabalho do Fed no controle das expectativas e abrirá caminho para um 'soft landing' da economia dos EUA. A perspectiva de alta dos Fed Funds em 75 pontos-base no próximo dia 21 já parece bem assimilada.

Mediana das estimativas de 27 analistas consultados pelo Projeções Broadcast é de recuo de 0,1% do CPI em agosto, com alta de 8% na comparação anual. Caso a estimativa se confirme, será a primeira deflação mensal do indicador desde maio de 2020. Pesquisa da distrital do Federal Reserve em Nova York, divulgada nesta segunda-feira, mostrou que a mediana das expectativas para o avanço dos preços daqui a um ano caiu de 6,2% em julho a 5,7% em agosto. No horizonte de três anos, a queda foi de 3,2% a 2,8%.

Após uma queda até certo ponto contida pela manhã, o dólar aprofundou a baixa ao longo da tarde e tocou mínima a R$ 5,0842 (-1,23%). No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 5,0974, recuo de 0,98% - o que fez o real ter uma das melhores performances entre moedas pares latino-americanas e de exportadores de commodities. Após as perdas nos três últimos pregões, o dólar passou a acumular queda de 2% no mercado doméstico em setembro.

"O dólar devolveu toda a gordura da semana passada. Ainda vejo fundamento para um real mais apreciado no curto prazo, com o dólar talvez testando novamente os R$ 5,05", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha.

Analistas também ressaltam que houve uma rodada muito forte de apreciação global da moeda americana nas semanas anteriores, tanto pela busca por segurança quanto pela fraqueza de pares fortes, como o euro e o iene. A mudança de discurso do Banco Central Europeu (BCE), que elevou a taxa da zona do euro em 75 pontos-base na semana passada e prometeu novas altas, diminuiu o desalinhamento entre as políticas monetárias europeia e americana, contribuindo para um movimento de realização da divisa dos EUA.

Termômetro desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, com predomínio do euro, o índice DXY - que havia superado os 110,000 pontos na semana passada, atingindo o maior patamar em 20 anos - agora opera pouco acima da linha dos 108,000 pontos. Entre as commodities, as cotações do petróleo apresentaram recuperação nesta segunda, com o tipo Brent para novembro, referência para a Petrobras, em alta de 1,25%, a US$ 94 o barril. Não houve negócios com minério de ferro em razão do feriado lunar chinês.

"A perspectiva é de que a inflação pode desacelerar nos EUA. As cadeias produtivas e de suprimentos, que provocaram escassez de produtos, estão se normalizando. E o petróleo, um dos grandes responsáveis pela aceleração da inflação, não está mais tão pressionado", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem o Fed poderia reduzir o ritmo de alta da taxa básica para 50 pontos-base já neste mês.

Em evento no período da tarde desta segunda, o ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirmou que o real não deve perder valor ante o dólar no próximo ano, uma vez que, mesmo com a alta dos juros nos países de menor risco, o diferencial das taxas que remuneram o investidor no Brasil seguirá elevado. Mansueto, nesse ponto, lembrou que se o Federal Reserve dá sinal de que não vai cortar os juros tão cedo, o Banco Central (BC) tampouco indica que vai fazer diferente.

"O diferencial de juros é grande, ninguém espera desvalorização do real no ano que vem. Os mais cautelosos esperam taxa de câmbio relativamente constante", afirmou Mansueto.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam em alta moderada nesta segunda-feira, em movimento que foi na contramão do câmbio e atribuído a uma recomposição de prêmios da curva, após o recuo das taxas na semana passada, estimulado principalmente pela expectativa com relação ao índice de inflação ao consumidor nos Estados Unidos, na terça-feira, que deve trazer núcleo pressionado. As taxas curtas fecharam em níveis acima do das longas, em dia de piora na mediana de IPCA para 2024 no Boletim Focus e a despeito do anúncio da redução do preço do gás de cozinha pela Petrobras.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou na máxima de 13,74%, de 13,72% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,92% para 12,99%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 11,72%, de 11,64%, e a do DI para janeiro de 2027 avançou a 11,32%, de 11,28%.

Os juros operaram o dia todo na contramão dos demais segmentos. O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, afirma que a segunda-feira não trouxe "drivers" para o mercado e o desenho da curva nesta segunda-feira parecia ser mais um ajuste antes do CPI. "Tivemos queda importante na semana passada, principalmente nos longos, o que abre espaço para uma correção, e ainda o petróleo subindo", comentou.

O tipo Brent fechou em alta de 1%, aos US$ 94 por barril. De um lado, a commodity vai deixando para trás a marca de US$ 90, mas de outro a fraqueza do dólar tem levado o barril novamente para perto de US$ 100. Os rendimentos dos Treasuries também subiram, com a taxa da T-Note de 10 anos em 3,351% e a de 2 anos, em 3,565%, perto das 17h, ante 3,32% e 3,56% no fim da tarde de sexta-feira.

O consenso das estimativas para o CPI na terça é de deflação marginal, -0,1%, no dado mensal de agosto, com a taxa anualizada a 8%. Porém, para o núcleo a expectativa é de que avance 0,3%, com a leitura anual chegando a 6,1%. Em julho, essas altas haviam sido de 0,3% e 5,9%, respectivamente.

No Podcast Diário Econômico, o economista-chefe do Banco Original, Marco Antonio Caruso, afirma que confirmadas as previsões para o núcleo, o cenário de alta de 75 pontos-base para o juro pelo Federal Reserve em setembro, atingindo 3,25%, pode se consolidar.

No front doméstico, a Petrobras anunciou esta tarde queda de 4,7% no preço do gás de cozinha (GLP) a partir da terça, mas as taxas futuras não tiveram reação, na medida em que um cenário desinflacionário nos próximos meses parece estar precificado. Até porque também o alívio no IPCA este ano é residual, entre 0,03 e 0,04 ponto porcentual, nos cálculos dos analistas.

Depois do alerta dado por dirigentes do Banco Central (BC) no começo da semana passada, o mercado reforçou as preocupações com as expectativas de inflação de longo prazo. O avanço da mediana para 2024, de 3,43% para 3,47%, na pesquisa Focus gerou desconforto e foi apontado por operadores como um dos fatores a pesar nesta segunda sobre a curva, à medida que vai distanciando da meta de 3,00% para 2024.

Na última terça-feira, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, admitiu durante evento organizado pela Bradesco Asset que as expectativas para 2024 o incomodam, com desancoragem para o centro e que é inconsistente o mercado projetar uma inflação acima do centro da meta em 2024 e discutir queda de juros em 2023.

Bolsa

Acompanhando o apetite por risco no exterior, na véspera da divulgação da inflação ao consumidor em agosto nos Estados Unidos - da qual se espera nova leitura em moderação -, o Ibovespa subiu nesta segunda-feira 0,98%, aos 113.406,55 pontos, com o terceiro ganho consecutivo colocando o índice no melhor nível de fechamento desde 25 de agosto (113.531,72). Nesta segunda-feira, oscilou entre mínima de 112.304,57 (quase igual à abertura, a 112.307,24) e máxima de 114.159,53 (maior nível intradia desde 18 de agosto), com giro financeiro a R$ 26,4 bilhões na sessão. Em setembro, o Ibovespa avança 3,55%, estendendo o ganho do ano a 8,19%.

O dia foi de avanço distribuído, com ganhos desde o setor de commodities (Vale ON +0,86%) - em sessão marcada por enfraquecimento global para o dólar - a bancos (BB ON +1,26%, Bradesco ON +1,31%, Itaú PN +1,20%) e ações do varejo, com destaque para Magazine Luiza (+9,13%), na ponta do Ibovespa no encerramento, à frente de Ecorodovias (+7,03%) e de Positivo (+4,95%).

No lado oposto, Assaí (-1,86%), Iguatemi (-1,80%) e PetroRio (-1,68%). Apesar do ganho de pouco mais de 1% para o petróleo, Petrobras mudou de sinal no fim da tarde e caiu 0,59%, na mínima do dia no fechamento da ON, e 0,66% (PN), limitando o avanço do Ibovespa.

"Projeções melhores para inflação e PIB em 2022, que têm vindo no boletim Focus, ajudaram hoje o setor de varejo e também bancos, com exposição à economia doméstica. Lá fora, a expectativa favorável para o CPI nos Estados Unidos, amanhã, traz de volta a estimativa de um aumento menor, de 50 e não de 75 pontos-base, para a taxa de juros americana na decisão do Federal Reserve do próximo dia 21", diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

Ele acrescenta que fatores de risco ainda pendentes sobre o cenário, como a crise energética na Europa, a possibilidade de uma recessão global em 2023 e a indefinição sobre a política econômica doméstica no pós-eleição, especialmente pelo lado fiscal, recomendam cautela aos investidores. "Há margem para correção", observa.

"O Ibovespa acompanhou hoje o movimento dos mercados internacionais, que têm encontrado espaço para recuperação depois de um período de depreciação com a expectativa de uma forte elevação de juros principalmente nos Estados Unidos. Na ausência de novidades que estressem o cenário, e na véspera do CPI, os investidores estão na expectativa por desaceleração na leitura sobre o ritmo de alta dos preços ao consumidor, de 8,5% para 8%, em agosto", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, referindo-se à expectativa de deflação mensal, ao redor de 0,1%, que resultaria em desaceleração da inflação em 12 meses.

"Há recuperação das commodities, que contribui para a devolução da Bolsa a patamar não visto desde (meados de) agosto, retomada favorecida também por enfraquecimento global do dólar e avanço das moedas de emergentes", acrescenta a economista.

Ela destaca também o corte de preço no gás de cozinha, que favorece o movimento do mercado de correção, para baixo, nas expectativas de inflação para 2022, "já visto no Focus de hoje e que deve se intensificar". "Espera-se também novo corte de preço da gasolina", observa Camila, ressaltando o efeito de inflação mais comportada para ações de setores como os de consumo e construção.

Para Letícia Sanches, especialista em renda variável da Blue3, a queda nas projeções do IPCA e o aumento nas estimativas para o PIB, visíveis no Boletim Focus desta segunda-feira, foram essenciais para que o Ibovespa encontrasse fôlego e desse sequência, nesta segunda, ao rali do fim da semana passada, beneficiando em especial os segmentos de varejo e construção.

"As bolsas de Nova York interromperam, na sexta-feira, uma sequência de três semanas negativas, com crescimento da demanda por ações que ficaram descontadas nessas quedas recentes", diz Letícia, destacando também a expectativa do mercado para a leitura de terça-feira sobre o CPI e o efeito positivo, visto nesta segunda nos mercados da Europa, da queda de preço do gás natural - em dia de fraca leitura sobre a produção industrial no velho continente, em retração acima do esperado.

"Com mais um dia de euro para cima e dólar para baixo, tivemos na Europa as maiores altas do dia, à frente de nosso índice Bovespa", diz Álvaro Feris, especialista da Rico Investimentos. "A expectativa é de que a inflação tenha arrefecido (nos Estados Unidos), mas se esse dado não vier conforme o esperado, os ânimos podem reverter esse apetite a risco que vemos no mercado", acrescenta.


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