Dólar fecha abaixo de R$ 5,15 com apetite ao risco após sinais do Fed

Dólar fecha abaixo de R$ 5,15 com apetite ao risco após sinais do Fed

Divisa termina a semana com perdas de 3,28%

AE

Dólar fechou em baixa nesta quarta-feira

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Com aprofundamento das perdas ao longo da tarde, em sintonia com o comportamento da moeda norte-americana lá fora, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, em queda de 1,33%, cotado a R$ 5,1480 - menor valor de fechamento desde 22 de setembro e perto da mínima da sessão (R$ 5,1411), registrada na última hora de negócios. Com isso, a divisa termina a semana com perdas de 3,28% e passa a acumular desvalorização de 4,57% em outubro.

Analistas atribuíram a rodada de apreciação do real nesta sexta sobretudo à recuperação dos ativos de risco no exterior, após sinais de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) pode moderar o ritmo de alta de juros a partir de dezembro. Haveria também certa influência do quadro eleitoral no desempenho dos ativos brasileiros, dada a aposta do mercado em chances de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), depois de algumas pesquisas apontarem empate técnico entre o atual presidente da República e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Afora uma alta na primeira de negócios, também em linha com o exterior, o dólar trabalhou em baixa durante o restante do pregão. A onda vendedora começou sob o impacto de reportagem do Wall Street Journal, assinada por jornalista visto como "porta-voz" informal do Fed, de que, após uma provável elevação da taxa básica em 75 pontos-base em novembro, o BC norte-americano deve optar por aumento de 50 pontos-base em dezembro.

O apetite ao risco no exterior se intensificou à tarde com declarações de dirigentes do Fed corroborando reportagem do Wall Street Journal. Primeiro, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que é preciso evitar um aperto "excessivo" da política monetária que prejudique desnecessariamente a economia. Em evento na Universidade de Berkeley, Daly disse que agora é o momento de o Fed "começar a discutir" a redução do ritmo de alta de juros. Em seguida, o presidente do presidente do Fed de Chicago, Charles Evans (que tem direito a voto em 2023), que disse que prevê desaceleração "significativa" da inflação nos Estados Unidos no ano que vem e juros pouco acima de 4,5% no início do próximo ano.

A reação dos mercados foi imediata. As bolsas em Nova York aceleraram os ganhos para a faixa de 2%, enquanto o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - chegou a furar a linha dos 111,800 pontos. Além da recuperação do euro e da libra, o iene apresentava ganhos de quase a 2% do iene, com rumores de intervenção do Banco do Japão (BoJ). Pela manhã, o iene havia atingido o menor nível em relação à moeda americana em 32 anos.

"No fundo, o Fed não quer os mercados desabem e tenta suavizar um pouco o discurso. Claramente, já existem preocupações com a desaceleração da economia", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, para quem o Fed deve optar por prolongamento do ciclo de aperto, mas em ritmo mais moderado, levando a taxa básica para cerca de 4,5%. "Os mercados se animaram hoje com esses sinais do Fed, mas a inflação americana ainda vai permanecer alta por bastante tempo e podemos ver nossas correções dos ativos de risco."

O economista observa que, antes da moderação do discurso do Fed, o nível de estresse nos mercados já havia diminuído com o abandono do plano de corte de gastos no Reino Unido, seguido pela renúncia da primeira-ministra Luz Truss. Houve também uma recuperação dos preços das commodities, com o petróleo voltando a superar os US$ 90 o barril após a Opep+ anunciar redução da produção anual. Ele pondera, contudo, que a perspectiva é de um dólar globalmente ainda forte, dado que os investidores tendem a manter parte de posições defensivas em meio à perspectiva de recessão na Europa e recrudescimento do conflito na Ucrânia.

Bolsa

Com forte desempenho das estatais Petrobras e Banco do Brasil ao longo da semana, nas asas da redução do 'gap' entre os candidatos Lula e Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, e também com humor externo em geral mais favorável, que contribui para atração de fluxo estrangeiro para um emergente que tem mostrado bons fundamentos e descontos, o Ibovespa fechou a sexta-feira em alta de 2,35%, aos 119.928,79 pontos, em recuperação de quase 8 mil pontos frente ao nível em que havia encerrado a sexta-feira passada, então aos 112 mil. O giro financeiro nesta sexta, em sessão com vencimento de opções sobre ações, foi reforçado a R$ 40,9 bilhões.

Na semana, o Ibovespa avançou 7,01%, após acumular perda de 3,70% no intervalo anterior. Foi o melhor desempenho semanal da referência da B3 desde o começo de novembro de 2020, quando havia subido 7,42% na primeira semana daquele mês.

Na máxima desta sexta, foi aos 120.751,55 pontos, em alta de 3,06%, atingindo o maior nível intradia desde 5 de abril (121.628,22), o qual corresponde à máxima do ano. Nesta sexta-feira, a mínima do dia (116.735,71) não ficou muito distante do nível da abertura (117.170,19 pontos). No mês, o Ibovespa sobe 8,99% e, no ano, 14,41%.

No exterior, sinais do Federal Reserve de que o ritmo de elevação da taxa de juros de referência norte-americana pode desacelerar para meio ponto porcentual na última reunião do ano, em dezembro, deu fôlego aos ativos de risco neste fechamento de semana, alavancando os três principais índices acionários de Nova York nesta sexta-feira (Dow Jones +2,47%, S&P 500 +2,37%, Nasdaq +2,31%).

O ganho de dinamismo lá fora deu estímulo adicional ao Ibovespa, que fechou a semana de forma invicta, com cinco ganhos diários seguidos. Foi o maior nível de fechamento para o índice desde 4 de abril, então aos 121.279,51 pontos.

O apetite por compras na B3 apareceu ainda na segunda-feira (+1,38%) mas se acentuou em direção ao fechamento da sessão seguinte, terça (+1,87%), quando o mercado começou a precificar sinais de encurtamento da distância entre os candidatos Lula e Bolsonaro na disputa presidencial.

O movimento deu fôlego a papéis de estatais, como Petrobras (nesta sexta, ON +3,41%, PN +3,43%) e Banco do Brasil (ON +2,48% nesta sexta-feira), mas a semana foi bem positiva também para outros carros-chefes da B3, como Vale (ON +6,16% no período) e Itaú (PN +8,41 no intervalo), entre outras. Na semana, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 11,87% e 12,87%, e Banco do Brasil ON, 14,10%. Nesta sexta, Vale ON subiu 2,93% e Itaú PN, 3,33%.

Com uma eleição que parece a caminho de ser decidida dentro da margem de erro, observam analistas, o sinal externo é fundamental para orientar os negócios. "Para novembro, já está bem precificada a alta de 75 pontos-base para a taxa de juros do Fed , mas agora se vê que pode haver um 'slowdown' (desaceleração) na alta, para meio ponto porcentual, em dezembro. Os juros do Fed podem ir a 5% em fim de ciclo, o que já traz uma desaceleração para a economia, certamente, mas sem um 'hard landing' duro, que resultaria em uma recessão por semestres. O viés do Fed parece ser o de ainda aumentar um pouco, mas parar para ver o efeito sobre a economia, antes de prosseguir com outros aumentos de juros ou decidir se fecha o ciclo. Quem sabe, entre o fim deste ano e o começo de 2023 possamos ver essa pausa", diz César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset. "O interesse do gringos por Brasil prossegue. Entre os emergentes, Brasil e México são mercados líquidos, e aqui oferecemos bons fundamentos e descontos", acrescenta. "A situação de caixa que se tem hoje ainda é semelhante a que se tinha ali, logo depois da crise de 2008. Então, quando se vê oportunidade, as compras ocorrem", conclui.

Na frente eleitoral, o gestor observa que, considerando o resultado agregado das pesquisas mais recentes, há um encurtamento da distância entre Lula e Bolsonaro, tendendo em alguns casos para o empate técnico. "Sem entrar no mérito de nome A ou B, esse gap está fechando. O momento costuma favorecer quem está mostrando um 'trend' (tendência) de alta na chegada. De qualquer forma, impossível prever o resultado. E o que o mercado faz, ao ver o fechamento do gap, é comprar aos poucos ali onde estava 'under' (abaixo), em papéis que tendem a subir (caso ocorra vitória de Bolsonaro), como Petrobras e Banco do Brasil", acrescenta Mikail.

Na ponta do Ibovespa nesta última sessão da semana, destaque para CSN (+6,05%), Soma (+5,48%), Gol (+4,56%) e B3 (+4,36%). No lado oposto, MRV (-7,18%), Cielo (-1,69%) e TIM (-0,95%) - apenas seis papéis da carteira Ibov fecharam o dia no negativo.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam com viés de baixa, após percorreram a sexta-feira em busca de alguma tendência, sem se afastar dos níveis da quinta-feira. No fechamento dos negócios, estavam nas mínimas da sessão e captando parcialmente o impacto positivo das declarações "dovish" de um dirigente do Federal Reserve sobre os demais ativos. A fala, no meio da tarde, pegou o mercado de juros já com a etapa regular encerrada, no momento de definição dos ajustes. No balanço da semana, a curva devolveu prêmios, com um pouco mais de força nos vértices intermediários e longos, configurando leve perda de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,83%, de 12,85% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou na mínima de 11,68%, de 11,70% na quinta. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,52% (mínima) de 11,55% na quinta-feira.

Durante o dia, apesar da queda generalizada do dólar e dos rendimentos dos Treasuries, e do apetite ao risco visto nas ações, a curva local resistiu à melhora externa calcada na expectativa de que o Federal Reserve possa desacelerar o ritmo de aperto monetário na última reunião do ano. Segundo o Wall Street Journal, dirigentes estão se inclinando deliberadamente à outra alta de 75 pontos-base nos juros, em sua reunião de 1º e 2 de novembro, e devem debater se e como sinalizam planos para aprovar uma alta menor em dezembro. Mas nos DIs a cautela com a área fiscal e com o cenário complexo no exterior estariam inibindo a montagem de posições mais consistentes, acentuada na reta final das eleições e às vésperas da decisão do Copom.

Por volta das 16 horas, o presidente do Fed de Chicago disse prever desaceleração "significativa" da inflação nos Estados Unidos em 2023 e juros pouco acima de 4,5% no início do próximo ano. Afirmou ainda que "nossas projeções não apontam para recessão econômica". Foi a senha para o dólar renovar mínimas abaixo de R$ 5,15 e o Ibovespa avançar aos 120 mil pontos nas máximas. Houve um respingo no mercado de juros, mas essencialmente este é o ativo que tem resistido mais ao impacto da melhora das intenções de voto do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas recentes pesquisas eleitorais.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, afirma que o DI de curto prazo tende a ficar travado pela expectativa de Selic estável nos próximos meses, enquanto a sensibilidade dos demais trechos está mais sobre os cenários fiscal e externo. "Os vencimentos a partir de 2024 olham para o risco fiscal e também são mais suscetíveis aos juros lá fora", afirma.

Nesse sentido, o alívio nos retornos dos Treasuries nesta sexta pode ter sido apenas um respiro e não uma tendência, diante da conjuntura repleta de incertezas. Na Europa, as perspectivas são sombrias, com crise energética no continente e política no Reino Unido, além da persistência da guerra na Ucrânia. A próxima semana é de reta final das eleições, mas também de decisão do Copom. Há consenso em torno da Selic estável em 13,75% e o mercado vai buscar no comunicado sinais sobre o plano de voo do Banco Central. De maneira geral, a expectativa é de que seja mantido também o alerta sobre o risco de retomada da alta.


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