Dólar fecha abaixo de R$ 5,50 pela primeira vez desde 24 de fevereiro

Dólar fecha abaixo de R$ 5,50 pela primeira vez desde 24 de fevereiro

Bolsa teve alta de quase 1% nesta sexta-feira

AE

Cotação do dólar atingiu recorde em novembro

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A decisão do Banco Central de subir os juros em ritmo mais forte, ofuscada na quinta-feira pelo exterior negativo, acabou tendo mais impacto no mercado de câmbio nesta sexta-feira com o ambiente externo mais ameno. O real foi de longe a melhor moeda dos emergentes nesta sexta e, na mínima do dia, chegou a cair para R$ 5,45, o menor nível desde 25 de fevereiro.

Operadores relataram entrada de fluxo externo, com a visão de que o BC pode elevar os juros em até 1 ponto porcentual em maio. Com isso, o dólar acumulou queda de 1,34% na semana, a segunda consecutiva de baixas. Mas no ano ainda sobe 5,3%.

No fechamento, o dólar encerrou a sexta-feira em queda de 1,51%, a R$ 5,4853, o primeiro pregão que a moeda norte-americana termina abaixo de R$ 5,50 desde o dia 24 de fevereiro. No mercado futuro, o dólar para abril cedia 1,35%, a R$ 5,4885 às 17h38.

O efeito da surpresa com o Comitê de Política Monetária (Copom) foi sentido na quinta apenas na abertura do pregão, pois os juros longos americanos passaram a subir e diluíram o impacto no real, observa o Cleber Alessie, da corretora Commcor. Nesta sexta, passada a piora externa da quinta-feira, os ativos domésticos, especialmente o real, encontram espaço para precificar o Copom surpreendentemente mais 'hawkish' (mais duro), ou seja, defendo juros mais altos.

Na curva de juros futuras, os investidores já embutem chance de corte de até 1 ponto porcentual em maio. Este efeito mais forte da perspectiva de altas de juros tende a ser limitado pela frente se o Congresso não andar com a agenda de reformas, alerta Alessie.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, destaca que a surpresa com o Copom e as intervenções extraordinárias do BC ajudaram o real ter um desempenho um pouco melhor que seus pares, mas esta situação pode não perdurar. "O agravamento da pandemia e o elevado risco fiscal percebido continuam pesando sobre a moeda", alerta em sua carta semanal.

A consultoria internacional TS Lombard elevou a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, de 4% para 5% ao final deste ano. Para o economista responsável por Brasil da TS, Wilson Ferrarezi, a visão é que o BC quer agir de forma mais agressiva agora na elevação dos juros para evitar ter que ser forçado a fazer isso de forma ainda mais forte lá na frente, comenta em relatório.

Para Ferrarezi, a pressão inflacionária gerada pela disparada do dólar está por trás das recentes intervenções extraordinárias do BC no câmbio, mesmo em dias que o real estava ganhando força. Como o temor de mais medidas populistas de Jair Bolsonaro está ajudando a impedir melhora mais forte do real, Ferrarezi avalia que o BC resolveu ser mais agressivo em suas elevações de juros, buscando segurar o dólar.

Juros

Os juros futuros fecharam a sexta-feira na contramão do bom desempenho dos demais ativos locais, com taxas em forte alta, renovando máximas na reta final da sessão regular. Com isso, a curva devolveu boa parte da desinclinação vista na quinta-feira após os ajustes do Copom, com a ponta longa tendo aumento de prêmio de mais de 20 pontos-base. A piora começou na última hora de negócios e ganhou fôlego na reta final, sem que profissionais nas mesas de renda fixa pudessem identificar um estopim.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular em 4,615%, de 4,585% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 7,375% para 7,58%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,08%, de 7,864% na quinta.

No período da tarde desta sexta, alguns agentes citaram fatores técnicos influenciando os ajustes, como a tradicional zeragem de posição antes do fim de semana. Outros relacionam o aumento da aversão ao risco prefixado às preocupações com o avanço da pandemia e o impacto sobre as contas públicas, num quadro de enfraquecimento da atividade que exija mais apoio fiscal do governo. No período da tarde, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, anunciou prorrogação por mais uma semana das medidas de restrição.

Por outro lado, o noticiário sobre vacinas foi positivo, com a informação de que o governo assinou contrato com os laboratórios Janssen, do grupo Johnson & Johnson, e Pfizer para a compra de, ao todo, 138 milhões de doses de vacinas.

Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, disse ter estranhado o movimento da curva na etapa vespertina. "É curioso porque o câmbio está tranquilo hoje. Os Treasuries até pioraram, mas não tanto para explicar o que houve no DI", avaliou. "A verdade é que o mercado está muito machucado", disse.

Segundo ele, por mais que a decisão de começar o ciclo de altas da Selic com um aperto mais firme, de 0,75 ponto porcentual, tenha agradado, também pegou muita gente de surpresa. "Quando se faz um movimento não convencional, o mercado fica sem referência", disse.

Luis Felipe Laudisio, operador de renda fixa da Renascença DTVM, também não viu justificativa plausível para a trajetória da curva. "Nos parece ainda um ajuste técnico à decisão do Copom, e dado elevado posicionamento, podemos ver mais alguns dias de descolamento do que seria um movimento 'racional'", explicou.

Apesar do estresse nesta sexta, a curva perdeu inclinação no balanço da semana, essencialmente pelo resultado do Copom, que não somente foi mais agressivo ao elevar a Selic em 0,75 ponto porcentual como também indicou que deve repetir a dose em maio.

Desse modo, pela precificação da curva, o mercado conta já com uma elevação de 1 ponto porcentual para o Copom de maio e de 0,75 ponto para junho. A agenda da próxima semana, com ata do Copom e Relatório de Inflação, pode reservar nova leva de ajustes nas apostas.

Bolsa

A correção do dólar, mais forte do que na sessão pós-Copom, contribuiu nesta sexta-feira para que o Ibovespa se descolasse do dia misto em Nova York e se firmasse mais uma vez acima dos 116 mil pontos no fechamento, acumulando ganho de 1,81% na semana, após perda de 0,90% na anterior. Nesta sexta, o índice da B3 avançou 1,21%, aos 116.221,58 pontos, entre mínima de 114.610,07 e máxima de 116.446,09 pontos na sessão, com giro a R$ 43,5 bilhões. No mês, sobe 5,62%, limitando as perdas do ano a 2,35%.

Em Nova York, o apetite por risco foi "atingido por um golpe duplo": a linha-dura adotada pelo secretário de Estado, Antony Blinken, em sua primeira reunião com a China e a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de encerrar programa de emergência para bancos durante a pandemia, observa o analista da Oanda, Edward Moya, em nota.

Assim, o desempenho dos três índices de referência foi tímido nesta sexta-feira, com o Dow Jones em baixa de 0,71%, o S&P 500 em recuo de 0,06% e o Nasdaq em alta de 0,76%.

Por aqui, a estabilização da moeda americana em níveis mais baixos é considerada essencial para que a B3 volte a atrair recursos estrangeiros, dando sustentação ao índice de ações. A assinatura de contrato entre o governo federal e os laboratórios Pfizer e Janssen para a compra de 138 milhões de doses de vacinas contribui para melhorar a visão sobre a pandemia, ainda em seu pior momento no País, e agora com a União questionando Estados no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre medidas de distanciamento social.

A reação do mercado ao anúncio de mais vacinas foi perceptível em ações de setores diretamente atingidos pelas medidas restritivas, como o de shoppings, com BR Malls em alta de 6,10%, Multiplan, de 4,98%, e Iguatemi, de 4,99%, enquanto as de outras empresas ligadas à mobilidade, como CVC (+6,85%), também avançaram. Após o tombo do dia anterior, quando os contratos futuros do petróleo cederam mais de 8%, a commodity teve recuperação parcial, acima de 2%, o que deu suporte a Petrobras PN (+3,27%) e ON (+2,39%) na sessão.

Na ponta do Ibovespa, destaque nesta sexta para alta de 13,24% para Pão de Açúcar, à frente de Sul América (+8,71%) e CVC (+6,85%). No lado oposto, CSN cedeu 3,86%, Assaí, 2,61%, e Suzano 1,73%. O ajuste negativo de 3,14% nos preços do minério de ferro na China (Qingdao) colocou, além de CSN, Vale ON (-1,44%) entre as perdedoras do dia.

Levantamento da BGC Liquidez com 199 participantes, principalmente de tesouraria e fundos, mostra que a decisão do Copom nesta semana, em que elevou a Selic em 0,75 ponto porcentual, a 2,75% ao ano, foi, para 72%, mais "hawkish" do que se antecipava, enquanto 47% dos ouvidos, embora não esperassem tal grau de elevação, consideraram-no correto. Após o comunicado desta quarta-feira, 93% dos participantes da enquete esperam novo aumento de 0,75 ponto em maio, seguido, na expectativa de 49%, por elevação de 0,50 ponto porcentual na reunião de junho.

Diferentemente do que seria o habitual, uma normalização mais agressiva na Selic tem sido recebida bem pela renda variável, no momento em que se temia leniência do BC com o avanço da inflação, em ambiente de juros reais negativos. Selic mais alta e câmbio mais comportado tendem a atrair parte do interesse do investidor estrangeiro para a B3, perdido desde fevereiro, quando sacou R$ 6,783 bilhões, após ingressos líquidos acumulados entre novembro e janeiro.

Após quatro pregões consecutivos com fluxo negativo, os estrangeiros ingressaram com R$ 1,253 bilhão para compras de ações na B3, em termos líquidos, durante a sessão da última quarta, no dia da decisão do Copom, anunciada após aquele fechamento. Em março, o fluxo ainda está negativo em R$ 1,515 bilhão, enquanto, no ano, segue positivo em R$ 15,256 bilhões.


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