Dólar fecha com pequena queda em dia de pouca flutuação

Dólar fecha com pequena queda em dia de pouca flutuação

Pregão foi morno, com pouco apetite por negócios e oscilação modesta

Estadão Conteúdo

Com foco nos juros dos EUA, Ibovespa cai 1,21%, a 131,2 mil pontos

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Após uma manhã de trocas de sinal, o dólar à vista passou a maior parte da tarde desta quinta-feira, 4, em leve baixa e encerrou a sessão cotado a R$ 4,9079, queda de 0,15%. Como ontem, o pregão foi morno, com pouco apetite por negócios e oscilação modesta, de apenas pouco mais de três centavos entre mínima (R$ 4,9004) e máxima (R$ 4,9365), ambas alcanças na primeira etapa de negócios.

Na semana, o dólar acumula alta de 1,12%. O real apresentou bom desempenho, apesar da queda de mais de 1% do Ibovespa e das perdas de commodities metálicas, em dia marcado por nova arrancada das taxas dos Treasuries, na esteira de dados acima do esperado do emprego no setor privado americano, segundo relatório ADP. O retorno da T-note de 10 anos chegou a tocar 4%. Embora analistas observem que não há uma relação direta entre ADP e o relatório oficial de emprego, o payroll, que sai amanhã, os números reverberaram no mercado.

As chances de corte de juros pelo Federal Reserve em março caíram de 71% para pouco menos de 65%. Essa probabilidade já havia recuado ligeiramente ontem após a divulgação da ata do encontro mais recente de política monetária do Fed. Apesar do avanço das Treasuries, o índice DXY - que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em ligeira baixa a maior parte do dia, na faixa dos 102,400 pontos, com fortalecimento do euro após indicadores positivos na região. O Dollar Index não caiu mais em razão da valorização de mais de 1% da moeda americana na comparação com o iene, que sofreu com a queda do índices de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do Japão em novembro.

O dólar subiu de forma moderada na comparação com a maioria das divisas emergentes, incluindo pares latino-americanos do real, o que mostra a resiliência da moeda brasileira. "A agenda americana tem dominado os negócios, encerrando amanhã com o payroll. Vamos ver se as apostas mais fortes em corte de juros pelo Fed em março se mantêm. Parece que o mercado já está ficando mais cauteloso", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que vê o dólar, no curto prazo, trabalhando em uma banda entre R$ 4,80 e R$ 5,00.

"Esta primeira semana no mercado local foi muito fraca, com poucos negócios". Segundo a mediana de 25 analistas consultados pelo Projeções Broadcast, o payroll deve mostrar que a economia dos Estados Unidos gerou 175 mil empregos em dezembro de 2023, o que representará uma desaceleração em relação a novembro, quando houve criação de 199 mil vagas. À tarde, o BC divulgou que o saldo do fluxo cambial em dezembro foi negativo em US$ 13,057 bilhões, segundo dados preliminares, com saída de US$ 14,232 bilhões pelo canal financeiro.

Esse rombo já era esperado dado que no fim do ano há muitas remessas de lucros e dividendos por parte de empresas. Analistas ressaltam, contudo, que as saídas foram menores que o esperado e não chegaram a pressionar o mercado spot. O Banco Central, que costuma realizar leilões de linha em dezembro, não precisou atuar para irrigar o mercado. No acumulado de 2023, o fluxo cambial foi positivo em US$ 11,431 bilhões, em razão da entrada líquida de US$ 49,080 bilhões via comércio exterior. A expectativa de é de que o fluxo do lado comercial seja forte também neste ano, o que deve servir de esteio ao real.

Ibovespa

Após o leve ganho de 0,10% proporcionado pela alta acima de 3% vista nas ações da Petrobras ontem, o Ibovespa voltou a registrar perda na casa de 1% nesta terceira sessão do ano, tendo iniciado 2024 em baixa de 1,11%, anteontem. Hoje, cedeu 1,21%, aos 131.225,91 pontos, bem mais próximo à mínima (131.023,71) do que à máxima (132.885,11) da sessão, em que saiu de abertura aos 132.830,97 pontos. A pausa é natural neste começo de ano, considerando a forte progressão do Ibovespa em novembro e dezembro, que o colocou em níveis recordes no fim de 2023.

Amanhã, sexta-feira, vem o dado mais aguardado da semana, o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em dezembro, que ganha peso especial após a cautelosa ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, divulgada ontem. Mesmo antes do documento, o mercado já devolvia parte do entusiasmo que se viu no mês passado, com a expectativa de que o BC americano poderia iniciar já em março o ciclo de corte da taxa de juros nos Estados Unidos. Nesta véspera de payroll, sem sinal único no fechamento dos principais índices em Nova York (Dow Jones +0,03%, S&P 500 -0,34%, Nasdaq -0,56%), as ações de maior liquidez na B3 mostraram uniformidade, em baixa.

Vale ON, papel de maior peso individual no Ibovespa, caiu hoje 1,34%, enquanto Petrobras ON e PN mostraram perdas, respectivamente, de 1,62% (na mínima do dia no fechamento) e 0,85%. Entre os grandes bancos, o ajuste variou entre -0,66% (Itaú PN) e -1,37% (Bradesco PN, no piso da sessão no encerramento). Apenas sete das 87 ações da carteira teórica do Ibovespa conseguiram fechar o dia em alta: Assaí (+2,09%), Braskem (+0,83%), BB Seguridade (+0,71%), Ambev (+0,37%), ISA CTEEP (+0,31%), RaiaDrogasil (+0,24%) e Rumo (+0,09%). No lado oposto, Alpargatas (-6,47%), MRV (-6,12%), Casas Bahia (-5,57%) e Eztec (-4,62%).

O giro financeiro desta quinta-feira na B3 foi a R$ 21,9 bilhões, semelhante ao do dia anterior. Nas três primeiras sessões do ano, o Ibovespa acumula perda de 2,21%. "O Fed reconheceu melhora na inflação, mas reforçou também a dependência dos próximos dados, até porque, embora a inflação esteja convergindo, continua a rodar acima da meta", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, em referência à postura cautelosa emitida ontem na ata do comitê de política monetária, o Fomc, que resultou em realinhamento parcial das expectativas de mercado quanto ao momento em que os juros americanos começarão a cair.

"Tivemos hoje um dia de queda mais forte na Bolsa, especialmente para as small caps as ações de menor capitalização de mercado. A ata do Fed continuou a fazer preço, e os juros dos Treasuries já vêm em alta desde a última semana. A ata foi um novo propulsor para essa alta de juros, o que não é bom para os ativos de risco", diz Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos. Assim, o rendimento da T-note de 10 anos, que estava em 3,84% no último dia 28, foi hoje a 4%.

"O relatório de empregos da ADP, divulgado pela manhã, veio bem acima do esperado, o que reforça a expectativa para o relatório oficial, o payroll de amanhã", acrescenta Schmidt, destacando a possibilidade de correção adicional na curva de juros futuros. Nesta quinta-feira, além dos números da ADP, leitura um pouco acima do esperado para o índice de atividade (PMI) de serviços dos Estados Unidos contribuiu para reforçar a narrativa de que o corte de juros do Fed não deve vir tão cedo quanto se antecipava recentemente.

Assim, os rendimentos dos Treasuries se fortaleceram ao longo da tarde, fazendo com que a alta dos índices de ações em Nova York murchasse, gradativamente. Em outro desdobramento do dia, a leitura semanal dos estoques de petróleo dos Estados Unidos tirou fôlego dos preços da commodity, que ontem haviam saltado em meio ao aprofundamento da tensão geopolítica no Oriente Médio - retirando, nesta quinta-feira, o suporte que as ações da Petrobras tinham proporcionado, ontem, ao Ibovespa. Se, por um lado, houve queda acima do esperado para os estoques de petróleo nos EUA, por outro o mercado tomou nota do aumento das reservas de gasolina, em 10,9 milhões de barris.

Juros

Os juros futuros emendaram o quarto dia de aumento moderado, novamente seguindo o movimento dos Treasuries americanos. Lá, a alta das taxas respondeu a dados que mostraram um mercado de trabalho mais aquecido - e, por consequência, menor chance de redução da taxa básica de juros em março. No fim do dia, o contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,050%, acima do ajuste anterior, de 10,033%.

Na comparação com os ajustes da véspera, também subiram os contratos para janeiro de 2026 (9,641% para 9,700%), janeiro de 2027 (9,761% para 9,825%) e janeiro de 2029 (10,144% para 10,200%). Aumentos da mesma magnitude ocorreram nos Estados Unidos.

A taxa da T-Note de dois anos avançou x pontos-base, de 4,332% para 4,395%, mesmo movimento visto no papel de dez anos (3,906% para 3,995%). Durante o dia, a T-note de dez anos tocou o nível psicológico dos 4%. Números do mercado de trabalho dos Estados Unidos foram o principal gatilho para o realinhamento das apostas na condução da política monetária do país hoje.

A ADP informou que o setor privado abriu 164 mil novas vagas de trabalho em dezembro, 31% acima da expectativa do mercado, de 125 mil. E o número de pedidos de auxílio-desemprego do país caiu a 202 mil na semana encerrada em 30 de dezembro, um número menor do que o consenso dos analistas, de 216 mil. Esses números aumentaram o receio do mercado com o relatório mensal sobre o mercado de trabalho americano de dezembro, o payroll, que será publicado amanhã.

Segundo o economista da Terra Investimentos Homero Guizzo, esse ambiente de incerteza externa se sobrepôs aos fatores internos. Entre eles, o primeiro leilão de títulos públicos do ano, feito hoje, no qual o Tesouro vendeu todas as 7 milhões de Notas do Tesouro Nacional - Série F (NTN-F) ofertadas e 4 milhões das 6 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) oferecidas. "O leilão de NTN-F foi muito bom, encontrou demanda firme no mercado e deveria derrubar as taxas, mas aconteceu o contrário: os DIs subiram porque o externo acabou atrapalhando", diz Guizzo. "Os fatores locais deveriam empurrar as taxas prefixadas para baixo, mas foram mastigados e engolidos pelo ambiente externo."

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