Dólar fecha em R$ 4,11 e Ibovespa tem segundo dia de recuperação

Dólar fecha em R$ 4,11 e Ibovespa tem segundo dia de recuperação

Ibovespa teve alta de 1,03% impulsionado pelo agendamento de uma reunião bilateral entre americanos e chineses em outubro

AE

Moeda americana ganhou força e fechou em alta de 0,11%

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A notícia do agendamento de reunião bilateral entre americanos e chineses em outubro, aliada à perspectiva de redução dos juros nos Estados Unidos, elevou o apetite por risco nos mercados internacionais nesta quinta-feira. Em sintonia com a alta firme das bolsas americanas, o Ibovespa emendou o segundo pregão seguido de recuperação. Depois de correr até a máxima dos 103.258,48 pontos pela manhã, o principal índice da B3 perdeu um pouco do ímpeto e encerrou o dia aos 102.243,00 pontos, em alta de 1,03%, levando os ganhos na semana a 1,10%.

Entre as blue chips, o destaque foram os bancos. A ação do PN do Itaú Unibanco, papel com maior peso no índice (cerca de 9%), subiu 2,84%. As PN do Bradesco (por volta de 7% do índice) avançaram 2,45%. O Índice Financeiro (IFNC) encerrou os negócios com valorização de 2,01%, batendo com folga os outros índices setoriais. Analistas ressaltam que as ações dos bancos também apresentam um desempenho inferior ao do índice no acumulado do ano e que, portanto, havia espaço para uma alta mais forte.
Segundo o analista de ações da Ativa de Investimentos, Ilan Arbetman, os papéis dos bancos se beneficiaram do aceno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de uma possível diminuição dos depósitos compulsórios.

Em evento em Brasília, Campos Neto afirmou que o Brasil tem "um volume de compulsório alto, em torno de R$ 400 bilhões" e que, com a adoção da Assistência Financeira de Liquidez (AFL) - que prevê criação de duas novas linhas de crédito para instituições financeiras -, será possível "reduzir bastante" o nível dos compulsórios.

"Com compulsório menor, é possível elevar o crédito, o que ajuda no crescimento da economia. Isso mostra que o BC está considerando medidas expansionistas", diz Ilan, ressaltando que Campos Neto também sinalizou que haverá mais cortes da Selic, ao dizer que a inflação está "bastante ancorada no curto, no médio e no longo prazo".

Apesar de dados fortes de criação de vagas no setor emprego privado nos Estados Unidos em agosto (195 mil, ante expectativa de 140 mil), a perspectiva é de que o Federal Reserve promova ao menos uma nova redução da taxa de juros, após declarações em tom 'dovish' de dirigentes da instituição na quarta. "Afastado o risco de recessão global e com alívio na guerra comercial, uma queda dos juros nos Estados Unidos e mais estímulos pelo Banco Central Europeu tendem a beneficiar os países emergentes", afirma Bruno Madruga, responsável pela área de renda variável da Monte Bravo.

Segundo ele, um aumento da liquidez global, conjugado com perspectiva de recuperação, embora ainda lenta, da economia brasileira nos próximos trimestres, garante a tendência de alta do Ibovespa. "Muitos ruídos podem acontecer, principalmente com o cenário externo, mas a expectativa segue positiva", afirma Madruga, ressaltando que quedas como a observada em agosto, quando o Ibovespa desceu até a casa dos 96 mil pontos, abrem oportunidades para compra de ações. "No ziguezague do dia a dia, o Ibovespa pode perder os 100 mil pontos, mas a tendência é que o índice supere os 110 mil pontos até o fim do ano."

Dólar

O dólar chegou a cair para R$ 4,06 na manhã desta quinta-feira, influenciado pela melhora do cenário externo, mas o ritmo de queda se reduziu na parte da tarde e a moeda acabou fechando em alta. A notícia de que a China e os Estados Unidos vão se reunir em outubro para discutir um acordo comercial animou os investidores no início desta quinta-feira, mas o dólar ganhou força na segunda parte dos negócios, tanto ante divisas fortes como de emergentes. O dólar à vista fechou em alta de 0,11%, a R$ 4,11.

Nesta sexta-feira, o cenário externo deve seguir ditando o ritmo das oscilações no mercado de câmbio local, dia em que será divulgado o novo relatório de emprego dos Estados Unidos, o payroll. O documento pode sinalizar se a economia americana está ou não perdendo fôlego e assim calibrar as apostas para as próximas reuniões do Federal Reserve. "Baseado no comportamento do dólar nesta quinta, os investidores estão apostando em um relatório com números fortes", afirma a diretora de moedas da BK Asset Management, Kathy Lien.

O banco Morgan Stanley prevê a criação de 181 mil vagas nos EUA em agosto, acima das 161 mil postos de julho. Mesmo assim, os economistas esperam corte de juros pelo Fed tanto na reunião deste mês como na de outubro, o que pode enfraquecer o dólar. O relatório ADP, que mostra os números de abertura de vagas surpreendeu ao mostrar 195 mil postos em agosto.

"O câmbio mais uma vez refletiu os movimentos no mercado externo", ressalta o sócio e gestor da Absolute Invest, Roberto Serra. "O mundo passa por um movimento de dólar forte", disse ele. Na quarta e nesta quinta-feira, esse movimento perdeu fôlego, com a sinalização de progresso nas conversas comerciais entre Pequim e Washington. Para o gestor, em meio à elevada incerteza e volatilidade nos mercados, o dólar tanto pode ir para R$ 4,20 nos próximos dias quanto pode cair para perto de R$ 4,00 ou até abaixo, dependendo dos próximos eventos.

O dólar acabou terminando estável ante moedas fortes, após cair boa parte do dia. Nos emergentes, a moeda americana recuou de forma moderada antes alguns países, como México (-0,06%), e subiu ante outros, como África do Sul (+0,56%) e Rússia (+0,12%). Profissionais de câmbio ressaltam ainda que a prudência antes da divulgação do payroll também fez o investidor buscar refúgio no dólar. O documento será revelado nesta sexta-feira.

"Esperamos que as moedas de emergentes fiquem sob pressão nos próximos trimestre e se enfraqueçam mais ante o dólar", afirma o economista para emergentes da Capital Economics, Edward Glossop. Mesmo assim, os bancos centrais da região devem seguir cortando juros, diminuindo o diferencial com os países desenvolvidos, que devem cortar as taxas em ritmo mais lento.

Taxas de juros

Os juros futuros alternaram altas e baixas ao longo desta quinta-feira, sem se distanciarem dos ajustes de quarta, mas o viés de queda acabou prevalecendo no fechamento da sessão regular. Desse modo, as taxas completaram o terceiro dia consecutivo de queda, ainda que nesta quinta num ritmo menor do que nas últimas duas sessões. A despeito de o dólar ter passado boa parte da quinta-feira abaixo dos R$ 4,10, o forte avanço no rendimento dos Treasuries acabou por limitar a correlação das taxas com o câmbio, além do leilão de prefixados do Tesouro com volume maior do que na semana passada e com forte demanda.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou na mínima de 5,39%, de 5,419% quarta no ajuste, e o DI para janeiro de 2023 encerrou a 6,43%, de 6,461% no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 6,991% para 6,98%.

No fim da etapa regular, as taxas curtas, que refletem mais diretamente as apostas para a política monetária nos próximos meses, foram para as mínimas, o que pode estar relacionado a apostas para o IPCA de agosto que sai nesta sexta-feira. A previsão é de desaceleração importante com relação aos 0,19% de julho. Pesquisa do Projeções Broadcast aponta intervalo das estimativas entre 0,07% e 0,24%, com mediana de 0,10%, com núcleos e outros preços de abertura bem comportados.

Na precificação da curva a termo, a possibilidade de corte de 0,5 ponto porcentual da atual Selic de 6% no Copom de setembro avançou para perto de 85%, ante cerca de 80% na quarta. Em contrapartida, a chance de uma queda de 0,25 ponto perdeu mais espaço e está em 15%.

Pela manhã, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, lembrou, durante participação em evento em Brasília, que tem ocorrido um movimento de revisão, para baixo, do crescimento das principais economias do mundo. "As curvas de juros estão precificando queda de juros em todas as economias e isso tem se acentuado nas últimas semanas", comentou. Reafirmou ainda que a inflação, no Brasil, está sob controle, "bastante ancorada no curto, no médio e no longo prazo".

Apesar de algum alívio nos prêmios, as taxas se moveram sem tendência firme ao longo da sessão "Tivemos o rendimento dos Treasuries subindo bem, com a diferença entre as T-Notes (2 e 10 anos) abrindo mais. É a explicação mais plausível para explicar por que o DI não seguiu tanto o dólar", disse o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno. Perto das 17h, o yield da T-Note de dez anos estava em 1,565% (1,46% ontem) e o da de 2 anos, em 1,536% (1,42% quarta). A escalada do retorno dos Treasuries reflete aumento no apetite por ativos de risco, por sua vez relacionado à retomada do diálogo entre a China e os Estados Unidos em direção a um acordo comercial, indicadores econômicos nos Estados Unidos acima do esperado e à melhora na percepção de um Brexit com acordo. As taxas futuras, porém, além de terem caído bem nos últimos dias, estão com pouco prêmio, a despeito da forte correção vista na semana passada. "Na renda fixa, estamos disputando migalhas, as oportunidades hoje são muito menores", disse Nepomuceno.

As máximas do dia foram atingidas em meio ao leilão de prefixados do Tesouro, que foi bastante demandado, o que pode ser visto tanto no volume quanto nas taxas. O Tesouro vendeu integralmente a oferta de 4 milhões de LTN e de 2,5 milhões de NTN-F. Na semana passada, as ofertas foram de 3 milhões e 600 mil respectivamente. Outro termômetro do pulso da demanda foi o fato de boa parte das taxas terem saído com diferencial negativo ante os DIs equivalentes, caso NTN-F 1/1/2029, cuja taxa média foi de 7,3499% ante 7,58% do DI de mesmo vencimento.


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