Dólar fecha sessão cotado a R$ 5,05 em dia instável

Dólar fecha sessão cotado a R$ 5,05 em dia instável

Moeda norte-americana registrou queda de 0,12% ao fim do pregão

AE

Dólar fechou em alta

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Depois de uma manhã e início de tarde de instabilidade, o dólar se firmou em baixa, ainda que moderada, nas últimas horas da sessão desta segunda-feira. Segundo operadores, o aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior e a alta firme do Ibovespa abriram espaço para realização de lucros intraday e leve desmonte de posições compradas (que apostam na alta do dólar) no mercado futuro.

A divisa até ensaiou uma alta mais acentuada logo após abertura dos negócios, quando correu à máxima de R$ 5,1042, em meio à preocupação com a atividade global após dados fracos da economia da China. Mas o movimento comprador rapidamente perdeu força e o dólar não apenas trocou de sinal como desceu até a mínima de R$ 5,0318 (-0,51%) no fim da manhã.

A moeda recuperou fôlego no começo da tarde e passou boa parte da etapa vespertina alternando entre leves altas e baixas, até que se firmou em queda nas últimas horas do pregão sob influência externa. No fim do dia, o dólar era cotado a R$ 5,0516, em baixa de 0,12%. Com isso, a valorização acumulada em meio passou a ser de 2,20%.

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - renovou mínimas no fim da tarde, aos 104,138 pontos. A moeda americana também recuou em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo pares do real como o peso mexicano e o chileno.

A despeito do tombo da atividade na China, as commodities agrícolas e metálicas tiveram um dia positivo, o que acabou dando suporte às divisas de emergentes. Além disso, consolida-se a leitura de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não vai acelerar o passo do ajuste da política monetária americana.

O presidente do Fed de Nova York, John Willians, disse nesta segunda-feira que a inflação é "o problema número 1" da instituição e que é necessário subir os juros rapidamente. Willians afirmou, contudo, esperar uma aumento de 50 pontos-base na taxa dos Fed funds em junho - ou seja, não autorizou apostas em uma elevação de 75 pontos-base, que já foi aventada por boa parte do mercado.

"O comportamento do dólar esteve hoje muito ligado ao cenário externo. A sinalização de que o ajuste da taxa de juros nos EUA seguirá uma trajetória menos agressiva trouxe alívio para a taxa de câmbio", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, que atribui a alta do dólar pela manhã à cautela provocada pelos dados ruins na China e pela tensão geopolítica na Europa, na esteira da possível entrada da Finlândia e da Suécia na Otan. "O patamar do dólar ainda é bastante elevado e a volatilidade deve continuar alta."

Na China, as vendas no varejo em abril caíram 11,1% na comparação anual, bem acima do esperado (-6,6%), enquanto a produção industrial cedeu 2,9%, ante expectativa de alta de 0,5%. Esses dados foram em parte contrabalançados pela informação de que Xangai está próxima de exibir números compatíveis com a política de 'covid zero', o que abre espaço para flexibilização das medidas restritivas. Além disso, o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês), reduziu taxa de hipoteca para compradores de primeiro imóvel e injetou 100 bilhões de yuans (cerca de US$ 14,7 bilhões) de liquidez no mercado.

Em evento organizado pelo banco Goldman Sachs, o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nesta segunda-feira que "o dólar novamente acima de R$ 5 parece estar mais ligado à China do que aos juros dos Estados Unidos". Serra avaliou que, apesar do impacto do lockdowns chineses e da política monetária americana, o cenário para "câmbio hoje é mais saudável".

Segundo o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, os sinais de desaceleração da economia chinesa inibiram o apetite por risco e deixaram o mercado sem convicção para apostas mais contundentes. "O dólar teve dificuldade em firmar uma tendência. No fim do dia, acabou se alinhando ao movimento do índice DXY", diz Gusmão, que vê a taxa de câmbio oscilando em uma faixa entre R$ 4,80 e R$ 5,10 nas próximas semanas. "Estamos vendo dificuldade de o dólar superar a resistência de R$ 5,10."

Taxas de juros

Os juros futuros começaram a semana em queda firme, refletindo principalmente declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, em evento no período da manhã desta segunda-feira. Falas como a de que "a taxa de juros parada por mais tempo é melhor, mas nem sempre possível" e que a "preferência é por menos flutuação da taxa" deram a senha para o mercado retomar a ideia de que o ciclo de aperto monetário deve se estender menos do que se esperava e que a taxa básica permanecerá em patamar elevado por um período prolongado antes de começar a cair.

Na curva, não houve alteração no quadro das expectativas para o Copom de junho, mas para agosto a aposta de alta de 0,25 ponto porcentual agora é consenso - na sexta-feira dividia espaço com a de 0,50 ponto -, resultando em Selic terminal de 13,5%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 caiu de 13,445% para 13,39%, e a do DI para janeiro de 2024 fechou a sessão regular em 13,07%, de 13,201% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2025 encerrou a 12,465%, de 12,57%. A do DI para 2027 passou de 12,33% para 12,195%.

Ainda que tenha dito que, conceitualmente, no regime de metas de inflação "não há limite para a taxa de juros", Serra indicou, em evento do Goldman Sachs, desconforto do BC em ficar puxando a Selic sob o risco de trazer volatilidade, mostrando preferência por esperar um tempo maior para cortar após ter terminado o ciclo. Até porque disse também que os efeitos do aumento de juros devem ser sentidos na economia a partir do segundo semestre.

Nesse contexto, como lembra a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, a despeito das revisões altistas para o PIB feitas recentemente, é preciso ter cautela. "O impacto da Selic mais alta ainda deve ser sentido pelos setores ligados ao consumo, a defasagem (da política monetária) está maior que o usual, a atividade está mais resiliente e a inflação, também", afirmou no Podcast "Comentário de Mercado".

O Copom já havia indicado para junho um aumento "de menor magnitude" para a Selic ante o de 1 ponto aplicado em maio, mas havia dúvidas sobre se o ciclo terminaria por aí. Diante do IPCA de abril mais salgado, riscos de um Federal Reserve mais agressivo e alta nas commodities e, ainda, da distância entre as expectativas de inflação e as metas, a curva passou a embutir prêmios para altas também em agosto e setembro. "O mercado hoje redistribuiu as apostas, mantendo a expectativa de 0,5 ponto em junho e um prêmio residual de 0,25 ponto para agosto", afirmou Marcello Negro, gestor de multimercado da Fator Administração de Recursos.

A curva, nesta tarde, manteve a distribuição de 60% de chance de aumento de 0,5 ponto e 40% de chance de 0,75 ponto para o Copom de junho, mas para agosto a probabilidade de alta de 0,25 ponto, que na sexta-feira era de quase 50%, nesta segunda era de praticamente 100%. Para o Copom de setembro e outubro, os 8 pontos precificados no fim da semana passada caíram para apenas 2, indicando manutenção da Selic naquelas reuniões. Os cálculos são da Greenbay Investimentos.

Os DIs continuam apontando queda da Selic a partir do segundo semestre de 2023, e na avaliação de Negro, da Fator, o ciclo de baixa não deve começar com 0,25 ponto e sim com 0,5 ponto. "O mercado está entendendo que o Copom pode iniciar com um corte mais firme", afirmou.

Bolsa

O Ibovespa levou a recuperação um pouco mais além, tendo chegado a contar à tarde com alguma melhora de humor em Nova York, esfriada ao fim para Dow Jones (+0,08%) e S&P 500 (-0,39%), que chegaram a ensaiar descolamento do Nasdaq, ao final mergulhado em queda de 1,20%. Com bom impulso das ações de commodities (Vale ON +2,99%, Petrobras ON +2,81%), favorecidas por Brent a US$ 114 por barril e minério em alta de 2,19% em Cingapura, bem como das ações de bancos (Unit do Santander +2,57%, Bradesco ON +2,17%), a referência da B3 subiu 1,22%, a 108.232,74 pontos, entre mínima de 106.851,58 e máxima de 108.794,91, saindo de abertura aos 106.924,87. O giro foi de R$ 28,9 bilhões na sessão.

O quarto ganho consecutivo - melhor sequência desde as oito altas seguidas, entre 16 e 25 de março -, cada um dos quais superior a 1%, tirou nesta segunda-feira o Ibovespa do vermelho no mês: em maio, sobe agora 0,33%, colocando os ganhos do ano a 3,25%. No intradia, passa a mirar marca vista em 29 de abril, a última sessão do mês passado, quando chegou a 111.819,21 mas fechou a 107.876,16. No encerramento, a marca de desta segunda-feira foi a melhor desde 4 de maio, então aos 108.343,74 pontos.

Na ponta do Ibovespa, destaque nesta segunda-feira para Méliuz (+6,25%), SLC Agrícola (+5,42%) e Eztec (+5,22%). No lado oposto, Locaweb (-3,11%), Embraer (-3,03%) e Hapvida (-2,24%).

Declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, acenando para a possibilidade de mais mudanças na Petrobras, contribuíram para limitar os ganhos na ação preferencial (PN) da estatal, em ajuste que se estendeu ao pós-mercado (after market). "Tem mais coisa pra acontecer na questão da Petrobras. Já sabem o que está acontecendo. Não vou entrar em detalhes, está (sic) sempre fazendo alguma coisa para buscar alternativa", declarou o chefe do Executivo a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

No quadro mais amplo, "o enfraquecimento da atividade na China ainda é um fator de preocupação para o Brasil, pelo efeito sobre as commodities. Assim, a recuperação de preços vista nas matérias-primas hoje foi determinante para o desempenho do Ibovespa na sessão, superior ao das referências em Nova York", diz o professor Rodrigo Simôes, da FAC-SP, especialista em finanças e economia.

Por outro lado, "os preços do petróleo ajudaram empresas brasileiras ligadas à commodity, em meio a expectativas de redução de produção por parte de países da Opep. Com menor produção, e guerra na Ucrânia ainda vigente, os preços da commodity ficam ainda mais pressionados - empurrando a inflação por aqui e no mundo, do outro lado da moeda da alta de produtos básicos", observa Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

A situação da inflação no Brasil e nos Estados Unidos, e o diferente estágio no ajuste das respectivas políticas monetárias, pode estar entre os motivos do relativo descolamento dos dois mercados de ações, observado em certos momentos das últimas sessões, de recuperação mais consistente por aqui do que lá fora - considerando também os diferentes níveis de precificação dos ativos. Em maio, os três índices de Nova York ainda acumulam perdas entre 2,29% (Dow Jones) e 5,45% (Nasdaq), enquanto, na Europa, Londres cede 1,06% e Paris, 2,85%. Na Ásia, Hong Kong perde 5,40% no mês.

"Tanto Brasil quanto os EUA tiveram expressiva elevação da inflação esperada para os próximos cinco anos a partir da primeira onda do Covid-19, no início de 2020. O interessante é que o atual choque monetário, aliado aos problemas de oferta (reflexos do Covid-19 nas cadeias de suprimento global + conflito na Ucrânia), levou a expectativa de inflação americana a quase três desvios-padrão acima da média histórica. No Brasil, país que historicamente tem vivido com inflação mais alta, estamos a 'apenas' um desvio-padrão acima da média histórica", aponta em relatório a Âmago Capital, destacando que, nos Estados Unidos, o "ciclo de alta da taxa de juros de curto prazo mal começou".

A excepcionalidade da situação americana quando comparada a um quadro mais próximo ao que se conhece de Brasil, além do grau de ajuste da Selic já executado desde o começo de 2021 pelo Copom, ajuda a entender a inquietação que paira em torno do eventual grau de ajuste na política monetária da maior economia do mundo, mesmo com os recentes sinais tranquilizadores que o próprio presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, buscou emitir.

 


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