Dólar se descola do exterior e sobe 0,26% com cautela pré-eleitoral

Dólar se descola do exterior e sobe 0,26% com cautela pré-eleitoral

Moeda norte-americana fechou com o maior valor desde 30 de setembro

AE

Moeda norte-americana fecha com com recuo de 0,27% nesta quarta-feira

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A cautela pré-eleitoral impediu o real de se beneficiar da rodada de enfraquecimento da moeda americana em relação a divisas fortes e emergentes nesta terça-feira em meio ao aumento das apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode reduzir o ritmo de aperto monetário a partir de dezembro após divulgação de resultado abaixo do esperado da confiança do consumidor americano em outubro. Por aqui, a alta de 0,16% do IPCA-15 em outubro, às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e acima da mediana de Projeções Broadcast (0,09%) foi monitorada, mas não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio.

Após instabilidade e troca de sinais pela manhã e no início da tarde, o dólar se firmou em terreno positivo nas últimas horas de negócios e encerrou o dia em alta de 0,26%, cotado a R$ 5,3168 - maior valor desde 30 de setembro, último pregão antes do primeiro turno da eleição, quando fechou a R$ 5,3946. Na máxima desta terça, a divisa alcançou R$ 5,3572. A moeda acumula valorização de 3,28% na semana e perdas de 1,44% em outubro.

Segundo profissionais do mercado, a reação violenta do ex-deputado federal Roberto Jefferson à ordem de prisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda contamina os preços dos ativos domésticos. Por mais que Jair Bolsonaro tente se distanciar de Jefferson, outrora tido como aliado de primeira hora, o comportamento do deputado joga contra a reeleição do presidente e, por tabela, o apetite dos investidores por empresas estatais e apostas a favor do real.

Há também quem veja no entrevero entre Jefferson e a Polícia Federal um prenúncio de possível reação violenta de bolsonaristas à eventual derrota no domingo, uma vez que o presidente sempre pôs em xeque a segurança das urnas eletrônicas. Em entrevista a podcast conservador do EUA nesta terça, Bolsonaro afirmou que as forças armadas, que integram comissão de transparência eleitoral, dizem que "é impossível dar um selo de credibilidade" ao sistema.

Pesquisa Ipespe-Abrapel divulgada nesta terça traz petista na liderança, com 53% dos votos válidos contra 47% de Jair Bolsonaro. Na segunda à noite, pesquisa Ipec (ex-Ibope) mostrou Lula com 54% contra 46% do atual presidente (considerando votos válidos).

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Vellloni, afirma que investidores deram continuidade nesta terça ao movimento de realização de lucros na Bolsa e busca por proteção no dólar iniciado na segunda, na esteira da diminuição das apostas em virada de Bolsonaro na corrida presidencial após o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson.

"Existe muita incerteza sobre como vai ser a política econômica e a gestão da Petrobras se o outro candidato (Lula) ganhar, enquanto Bolsonaro representa continuidade com Paulo Guedes (ministro da Economia)", diz o Velloni, para quem o real tem espaço para se apreciar após as eleições caso o vencedor dê sinais claros sobre a condução da economia, o que, no caso de Lula, poderia ser feito com anúncio do futuro ministro da Fazenda. "O dólar tem espaço para cair, com um primeiro suporte em R$ 5,07. Mas nesta semana deve ficar volátil, com eleição e a definição da última taxa Ptax de outubro na sexta-feira".

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira de lado, resistindo à influência da forte queda das taxas no exterior e mesmo o IPCA-15 de outubro acima do consenso teve efeito limitado na curva, sem qualquer impacto nas expectativas para a decisão do Copom na quarta-feira. A lateralidade reflete o compasso de espera pelo resultado das eleições, o que tende a deixar o mercado mais travado ao longo da semana, diante do cenário ainda em aberto e sinais de que a disputa será acirrada. O leilão de NTN-B teve aumento nos lotes e risco maior para o mercado, mas sendo absorvido integralmente.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,940%, de 12,872% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,81% para 11,84%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,67%, de 11,70%.

Na contramão do desempenho negativo da Bolsa e da volatilidade do câmbio, os juros parecem ter digerido o impacto sobre cenário eleitoral do ataque do ex-deputado Roberto Jefferson a policiais federais, e as taxas alternaram altas e baixas moderadas ao longo da sessão, sem firmar tendência clara. "A verdade é que o DI não acompanhou nem o que acontecia aqui nem o exterior, esperando resultados das pesquisas eleitorais e a própria eleição em si", afirmou a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.

No exterior, o clima de apetite ao risco, com alívio nos juros dos Treasuries, não conseguiu dar impulso às taxas locais. O dado da confiança do consumidor norte-americano mostrando queda acima da esperada endossa os discursos <i>dovish</i> de dirigentes do Federal Reserve na semana passada, e trouxe otimismo quanto a uma desaceleração do ritmo de aperto de 0,75 para 0,50 ponto.

Na Europa, os juros dos Gilts britânicos também cederam. O mercado computou a posse de Rishi Sunak como novo primeiro-ministro do Reino Unido como positiva para desanuviar o cenário econômico ao menos no curtíssimo prazo.

Na agenda do dia, o IPCA-15 de outubro ficou em 0,16%, acima da mediana das estimativas do mercado, de 0,09%. Em setembro, o índice tinha caído 0,37%. Na curva, o efeito foi limitado a alguns contratos de curto prazo, como o DI para janeiro de 2024, que subiu 7 pontos-base. O mercado relativizou a surpresa altista em boa medida em função do desvio ter sido causado por itens voláteis, com destaque para passagens aéreas (+28,2%).

De todo modo, o dado de inflação não foi capaz de mexer com o quadro das apostas de Selic para o Copom de quarta, consolidadas em torno da estabilidade em 13,75%. Para Veronese, o que poderia gerar alguma expectativa é uma eventual sinalização sobre o ciclo de cortes, mas nem isso deve ficar claro no comunicado. "A decisão está dada e não deveremos ter pistas sobre o timing para a queda. Antes da eleição o cenário ainda é de muita incerteza", disse.

O mercado aceitou bem o leilão de NTN-B, que surpreendeu pelo tamanho do lote - 2,3 milhões, sendo 2 milhões no vencimento 15/5/2027 -, vendido integralmente. Na semana passada, a oferta havia sido de 925 mil, com 829 mil efetivamente vendida. O risco para o mercado em DV01 ficou em US$ 843,8 mil, de US$ 276,4 mil na semana passada, segundo dados da Warren Renascença.

Bolsa

Após ter encerrado a última sexta-feira bem perto dos 120 mil pontos, com um ganho semanal de 7% que o reaproximou dos melhores níveis do ano, vistos no começo de abril, o Ibovespa recuou nesta terça pela segunda sessão, em ajuste mais discreto do que a perda de 3,27% colhida na terça-feira, a maior desde novembro passado. Ainda assim, nesta terça-feira, a referência da B3 fechou na mínima do dia, aos 114.625,59 pontos, em queda de 1,20% na sessão, na qual o giro financeiro foi a R$ 34,0 bilhões.

Na mesma sessão, os ganhos em Nova York chegaram a 2,25%, no Nasdaq. Na semana, o Ibovespa cede agora 4,42%, limitando o avanço do mês a 4,17%. No ano, o Ibovespa sobe 9,35%. Aqui, a incerteza sobre o desfecho da eleição, que tende a ser definido no domingo por margem apertada, soma-se à cautela com relação à economia chinesa, que ainda suscita dúvidas mesmo com a recente leitura sobre o PIB do país.

"A concentração de poder de Xi Jinping, visível na renovação de mandato, desperta dúvidas quanto a uma orientação ainda mais nacionalista, controladora e restritiva para empresas e a economia em geral, em especial daquelas listadas no exterior. É um fator de atenção por aqui, na medida em que setores como o de mineração e siderurgia, com peso na B3, têm exposição ao país", aponta Felipe Moura, sócio e analista de investimentos da Finacap.

Mas, para além do contexto externo em semana que traz agenda movimentada, com decisão de política monetária na zona do euro e divulgação do PIB americano, essas duas primeiras sessões do intervalo mostraram dinâmica própria na B3, desconectada em ambos os dias do sinal positivo que prevaleceu na segunda e terça-feira nos Estados Unidos e na Europa.

"Ainda que a semana tenha dados econômicos e balanços importantes, deve haver muita cautela nos próximos dias, para a eleição. O nome do jogo tende a ser volatilidade", acrescenta Moura, destacando a revogação parcial do otimismo do mercado visto na semana passada, momento em que o presidente Jair Bolsonaro parecia ganhar fôlego para a decisão do próximo domingo, dia 30.

"É improvável que isso aconteça, mas se houvesse sinal sobre quem seria o ministro da Fazenda de eventual governo Lula, isso poderia tranquilizar os investidores nesses dias que faltam para a eleição. Um nome como o do Meirelles agrada muito ao mercado (Henrique Meirelles, ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda)", observa Moura.

Em meio à indefinição eleitoral, os gestores de recursos continuaram nesta terça-feira a reduzir a exposição das carteiras a Petrobras e Banco do Brasil, estatais cujas ações haviam saltado entre 9% e 10% na semana passada com a expectativa de uma virada de Bolsonaro.

Nesta terça, Petrobras ON e PN fecharam, respectivamente, em baixa de 1,50% e 2,10%, acumulando até aqui perda de 11,24% e 11,11% nessas duas primeiras sessões da semana - na anterior, haviam avançado, respectivamente, 11,87% e 12,87%.

Banco do Brasil ON, por sua vez, encerrou o dia em baixa de 1,72%, como na segunda na ponta negativa entre as ações das maiores instituições financeiras. Nesta segunda e terça-feira, as perdas acumuladas por BB ON chegam agora a 11,57%, após terem avançado 14,10% ao longo da semana passada.

Na ponta positiva do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para Magazine Luiza (+5,15%), Yduqs (+4,61%), Embraer (+4,20%), Méliuz (+3,74%), Cogna (+2,78%) e MRV (+1,21%). No lado oposto, BRF (-11,24%), IRB (-7,22%), Azul (-7,06%), Carrefour Brasil (-5,95%) e Gol (-5,66%). Entre as blue chips, Vale zerou o leve ganho que sustentou em boa parte da sessão e fechou sem variação, cotada a R$ 71,93 no encerramento, em dia em geral negativo para as ações de siderurgia, à exceção de Usiminas (PNA +0,53%).

"O mercado externo segue em rali de alta iniciado no dia 13 de outubro, com os investidores atentos à temporada de resultados (corporativos). Aqui, o dólar segue com 3% de alta na semana, o que demonstra um clima de aversão ao risco local, descolando dos pares emergentes na reta final da corrida presidencial no Brasil", observa Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.

Na agenda doméstica, o destaque do dia seria o IPCA-15 de outubro, divulgado pela manhã, que, embora acima do esperado, não chegou a ganhar muita atenção, com o foco do mercado voltado nesta semana para a política. Prévia da inflação oficial do mês, o IPCA-15 surpreendeu ao subir 0,16% em outubro - ante mediana de 0,09% na pesquisa Projeções Broadcast -, mas é compatível com a expectativa de desinflação gradual à frente, na avaliação do Itaú Unibanco, que reiterou a projeção de IPCA de 5,5% em 2022, com um viés "ligeiramente positivo".

"Destacamos a queda menor do grupo de Transportes em relação ao mês anterior. Os preços defasados da gasolina e do diesel no Brasil em relação ao mercado internacional e a expectativa de manutenção ou de um possível aumento da cotação do petróleo devem reverter esse quadro deflacionário dos combustíveis nos próximos meses", observa em nota Rafael Perez, economista da Suno Research.


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