Dólar sobe 1,73% e volta a R$ 5,20 com mau humor externo

Dólar sobe 1,73% e volta a R$ 5,20 com mau humor externo

No acumulado do ano, a divisa acumula perdas de 6,71%

AE

Dólar fechou dia cotado a R$ 5,20

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O dólar emendou o segundo pregão de alta firme nesta quarta-feira e fechou acima da linha de R$ 5,20, em sessão marcada pela disputa em torno da formação da última taxa Ptax de agosto, que vai servir para liquidação de contratos derivativos, e pela rolagem de posições no mercado futuro. Os "comprados" (que ganham com a alta do dólar) se beneficiaram do mau humor externo, com tombo das commodities, como minério de ferro e petróleo, e nova rodada de perdas de divisas emergentes, em meio à perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos e na Europa.

Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar superou a barreira de R$ 5,20 no fim da manhã e tocou R$ 5,21 à tarde, ao registrar máxima a R$ 5,2104, diante da piora do Ibovespa e das bolsas em Nova York. No fim da sessão, a moeda era cotada a R$ 5,2015, avanço de 1,73%.

Depois de esboçar romper o piso de R$ 5,00 na segunda-feira, quando fechou a R$ 5,0334, o dólar subiu com força na terça e nesta quarta, passando a acumular ganho de 2,43% na semana. Com isso, encerrou agosto em leve alta, de 0,53%.

No acumulado do ano, a divisa acumula perdas de 6,71%. O giro com o contrato de dólar futuro para outubro, que passa a ser o mais líquido, foi expressivo nesta quarta, superando US$ 20 bilhões, em razão da rolagem de posições. Segundo operadores, os negócios no mercado de câmbio doméstico refletem muito mais o vaivém das apostas para o ritmo de alta de juros nos países desenvolvidos que eventual temor fiscal diante das promessas de expansão de benefícios sociais que tomam conta da corrida presidencial. A taxa anual de inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro atingiu 9,1% em agosto, novo recorde histórico e acima das expectativas de analistas, de 8,9%, reforçando a aposta de que o Banco Central Europeu (BCE) pode acelerar o ritmo de alta de juros.

Nos Estados Unidos, o relatório ADP, de emprego do setor privado, mostrou criação de 132 mil vagas, menos da metade da previsão dos analistas (300 mil). Mesmo assim, a aposta em nova elevação dos Fed Funds em 75 pontos-base neste mês segue majoritária. Ainda ecoam no mercado o discurso duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole na semana passada, reforçado por declarações de diretores do BC americano nesta semana.

A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse nesta quarta que é cedo para concluir que a inflação nos EUA atingiu o pico. Mester afirmou que o Fed terá que levar os juros até "um pouco mais de 4%" até o começo de 2023. "Não prevejo que o Fed cortará os juros no próximo ano".

"Desde o desfecho do simpósio de Jackson Hole, o mercado está um pouco mais preocupado com a magnitude da elevação dos juros nos EUA. Isso não mudou mesmo com a decepção do ADP de agosto", afirma a economista-chefe de Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "O clima externo é de aversão ao risco, com preocupações também com a inflação na Europa. Além disso, hoje teve a disputa pela formação da Ptax".

No exterior, o índice DXY - que mede o comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - apresentou leve queda, sobretudo por conta da recuperação do euro, mas ainda permanece em níveis elevados, na casa dos 108,700 pontos. Os contratos futuros de petróleo caíram quase 3%, com o tipo Brent para novembro, referência para Petrobras, cotado a US$ 95,64 o barril (-2,25%).

Commodities metálicas, como minério de ferro e cobre, também recuaram. Além do aperto monetário nos países centrais, há preocupações com o ritmo de atividade na China, cujo PMI Industrial fechou agosto abaixo de 50, o que indica contração. As divisas emergentes caíram em bloco frente à moeda americana, à exceção do peso mexicano. O real, que vinha apresentando melhor desempenho, desta vez amargou a piora desvalorização.

"Voltamos a ter pressão nas moedas emergentes, principalmente o real, que sofre mais por ser mais líquido. O ponto mais importante é a expectativa de aumento de juros nos países desenvolvidos. A inflação na Europa veio bem acima do esperado", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest. "Nos últimos dias, temos visto também queda dos preços das commodities, o que contribuiu para pressionar a moeda".

À tarde, o Banco Central divulgou que o fluxo cambial em agosto, até o dia 26, foi negativo em 1,009 bilhão, com saída líquida de US$ 76 milhões pelo canal financeiro e de US$ 934 milhões via comércio exterior. No ano, até 26 de agosto, o fluxo cambial é positivo em US$ 19,959 bilhões - fruto de saída de US$ 9,751 bilhões do lado financeiro e entrada de US$ 29,711 bilhões no front comercial.

Taxas de juros

Após hesitarem pela manhã, os juros futuros se firmaram em baixa à tarde nesta quarta-feira, ajustando-se à continuidade das perdas do petróleo, de mais de 2%, após já terem na terça-feira tombado 5%. A trajetória de queda das taxas se deu a despeito do avanço do dólar de novo a R$ 5,20 e da alta no rendimento dos Treasuries. Mais uma vez, a agenda de indicadores domésticos não teve força para influenciar diretamente os negócios. No balanço do mês, a curva teve perda importante de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,73% de 13,74% no ajuste de terça, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,09% para 12,98%. A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 12,97%, de 12,07%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 11,75%, de 11,87%. No mês, enquanto os contratos curtos tiveram queda em torno de 40 pontos, os longos cederam cerca de 70 pontos desde o fechamento de julho.

Nesta quarta-feira, as taxas percorreram a primeira etapa sem uma direção definida, com o mercado digerindo inicialmente a inflação recorde na zona do euro em julho, que endossa os recentes alertas de dirigentes do BCE sobre o risco de aperto maior no juro - a instituição tem reunião de política monetária no dia 8.

Mais tarde, saíram os dados da ADP com criação de vagas no setor privado nos EUA em agosto muito abaixo do esperado, às vésperas da divulgação do payroll na sexta-feira, esfriando num primeiro momento as apostas de um Federal Reserve agressivo. A chance de alta de 75 pontos no juro na reunião de setembro chegou a cair de 73% na terça para 68,5% pela manhã, mas voltava a 72,5% no fim da tarde.

Ao mesmo tempo, a queda dos preços do petróleo foi ganhando fôlego na segunda etapa, com o barril do Brent se afastando ainda mais da "marca psicológica" de US$ 100. Fechou em US$ 95,64, acumulando perda de 8% em agosto.

"O petróleo ajuda a curva, assim como a queda dos preços vista nas coletas diárias, que reforçam a ideia de que uma alta da Selic no Copom de setembro é pouco provável", afirmou o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. O recuo da commodity ainda amplia as chances de anúncio de cortes no preço de combustíveis pela Petrobras. "Há espaço para redução entre 5% e 10% nos preços da gasolina", comenta Serrano.

A agenda do dia trouxe a taxa de desemprego no trimestre até julho em 9,1%, em linha com a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, e superávit primário do setor público de R$ 20,4 bilhões em julho, ante mediana de R$ 22,2 bilhões. Os números fiscais positivos de curto prazo já estão, em boa medida, precificados nos ativos, e o que preocupa são as contas em 2023, em meio a promessas dos candidatos à Presidência que exigem ampliação do gasto fiscal, mas sem clareza de fonte de receitas.

No fim da tarde, o Ministério da Economia divulgou o Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2023, enviado ao Congresso Nacional. A proposta não traz a prorrogação do aumento no Auxílio Brasil nem a correção da tabela do Imposto de Renda, prometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição.

O Auxílio Brasil veio previsto o pagamento no valor médio de R$ 405, suficiente para atender 21,6 milhões de famílias. Todos os principais concorrentes ao Planalto, no entanto, anunciaram que pretendem manter o benefício em R$ 600, ou mesmo ampliar esse valor.

Bolsa

Apesar da perda de fôlego nas últimas sessões, aparando ganhos que chegaram a superar 10% nos melhores momentos do mês - parecendo encaminhá-lo então para a melhor performance desde novembro de 2020 -, o Ibovespa teve ainda assim um agosto estelar se comparado à correção nas principais bolsas do exterior. Dos maiores mercados de fora, apenas Tóquio (+1,04%) conseguiu evitar perdas no mês, que chegaram a 4,64% em Nova York (Nasdaq) e a 5,02% (CAC 40, de Paris) nos centros financeiros da Europa. Melhor desempenho do índice desde janeiro (então 6,98%), o ganho de 6,16% no Ibovespa em agosto fala por si, embora se tenha em vista que a recuperação ocorreu a partir de um fundo do ano a 96 mil pontos, em meados de julho, com retomada que se estendeu ao mês seguinte.

Nesta quarta-feira, com os índices de Nova York em baixa à tarde e nas mínimas da sessão, o Ibovespa não resistiu e se alinhou ao sinal de fora ao fechar em baixa de 0,82%, a 109.522,47 pontos, no piso do dia no encerramento, vindo de máxima a 111.364,05 pontos e abertura a 110.430,64 pontos.

O giro foi a R$ 31,4 bilhões nesta quarta-feira. Com o ganho de 6,16% em agosto, o índice da B3 sobe 4,48% no ano. Na semana até aqui, tem perda de 2,47%. O nível de fechamento desta quarta-feira foi o menor desde 9 de agosto (108.651,05 pontos)

O desempenho negativo do setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, impediu que a recuperação parcial vista em commodities (Petrobras ON +2,94%, PN +2,47%) levasse o índice um pouco mais adiante na última sessão do mês. Vale ON (+0,06%), por sua vez, devolveu a alta do dia e fechou na mínima da sessão (-0,72%), como o Ibovespa.

Nesta quarta, pesou sobre as ações de bancos (Itaú PN -2,53%, também no piso do dia no encerramento; Bradesco PN -2,52%) a aprovação, no Senado, de aumento de 1 ponto porcentual, de 20% para 21%, na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) paga pelo setor, até o fim do ano. O texto segue agora para sanção presidencial.

Na ponta do Ibovespa na sessão, destaque para Méliuz (+3,97%), Pão de Açúcar (+3,38%), Petz (+3,24%) e Petrobras ON (+2,94%), com Alpargatas (-5,54%), Magazine Luiza (-5,32%), Braskem (-4,84%) e Dexco (também -4,84%) puxando a fila oposta.

A recente lateralização do índice da B3 com fluxo também mais acomodado nas últimas sessões reflete um grau maior de cautela desde o exterior, especialmente com relação ao ritmo de atividade na China e à resiliência da inflação nas economias centrais, nomeadamente Estados Unidos e zona do euro, o que se reflete em incerteza sobre o grau de ajuste para os juros nas próximas deliberações do Federal Reserve e do BCE.

Da terça para esta quarta, leitura sobre o índice de atividade oficial para a indústria na China ainda mostrou contração em agosto, em meio à seca e onda de calor que resultaram em cortes de energia e interrupção na operação de fábricas, agravando um quadro já anômalo pelo ressurgimento de surtos de covid-19 e pela retomada de iniciativas de enfrentamento da pandemia por lá. Fora da China, leituras sobre a inflação em economias como a americana e a alemã mostram que o problema e o grau de resposta a ser dado pelas autoridades monetárias permanecem em aberto.

"O dia começou de forma levemente positiva, com dados de emprego mais fracos que o esperado nos Estados Unidos e a queda no preço do petróleo - que traziam alívio ao cenário prospectivo de inflação no país. Porém, os mercados mudaram de direção na parte da tarde, influenciados pela postura mais dura do Fed, recalibrando a perspectiva de alta da taxa de juros no país", aponta Antônio Sanches, analista da Rico Investimentos.

Assim, até que se conheça na sexta-feira o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em agosto, a tendência é de que a cautela persista nos mercados globais. Aqui, a queda na taxa de desemprego, anunciada pela manhã, contribui para a impressão de melhora econômica.

"A taxa de desocupação no trimestre de maio a julho ficou em 9,1%, o que representa 9,9 milhões de pessoas, segundo dados da Pnad Contínua divulgados hoje pelo IBGE. É o menor porcentual de desocupação desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015, quando também foi de 9,1%", observa a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, que considera que a taxa deve permanecer no "patamar médio de 9%, com alguma movimentação para cima".

Aqui, os "juros futuros recuaram por toda a curva, precificando o cenário de deflação observado nos últimos indicadores divulgados no Brasil, bem como o recuo das commodities", diz Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.

Na B3, ações muito descontadas e a indicação de que o ciclo de ajuste da política monetária está praticamente concluído despertaram o apetite por ativos de risco, tirando o Ibovespa das cordas desde meados de julho. "Muitos fundos entraram e fizeram posição com o Ibovespa ali pelos 100 mil pontos e, agora, estão colocando dinheiro no bolso, reduzindo posição em um movimento técnico, de defesa do portfólio", diz Luiz Souza, operador de renda variável da SVN Investimentos.

"Muita gente entrou especialmente em Petrobras e Vale, para receber dividendos", acrescenta Souza, observando que, com o nível de juros atual, torna-se natural colocar parte dos ganhos em caixa. "Em dólar, o Ibovespa teve um dos melhores desempenhos de todas as bolsas em agosto. O BC iniciou aqui bem antes a elevação dos juros. Atraiu-se fluxo e a renda variável voltou a ficar atrativa, quando se traz a valor presente, considerando também o fechamento da curva de juros."

Assim, se no fim de julho a conversa era sobre retomar a linha de 104 mil e a celebração era o retorno do índice a níveis de junho, agora é saber se o Ibovespa romperá os 114 mil pontos vistos recentemente no intradia, maior patamar desde abril, para carregar a recuperação mais adiante.

Na moeda norte-americana, o Ibovespa fechou o mês de julho a 19.937,90 pontos, com recuo de 1,16% para o dólar ante o real no mês - após avanço de 10,15% para o dólar ante o real no mês anterior -, vindo o índice da B3 dos 18.824,39 pontos, na moeda americana, no fechamento de junho. Agora em agosto, com o dólar em leve alta de 0,53% no mês, o Ibovespa foi aos 21.056,01 pontos, na moeda norte-americana.


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