Dólar tem a maior alta em três meses e fecha em R$ 5,32

Dólar tem a maior alta em três meses e fecha em R$ 5,32

Com aversão a risco, Ibovespa terminou em baixa de 1,66%, aos 94.377,36 pontos

AE

Real teve nesta quarta-feira o pior desempenho mundial ante o dólar em uma cesta de 34 divisas

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O dólar teve a maior alta em três meses, em meio ao noticiário negativo no exterior, que potencializou um movimento de realização de lucros após três dias seguidos de quedas. Renovadas preocupações com o crescimento de casos de coronavírus nos Estados Unidos, após a Flórida anunciar recorde de infecções, aumento da tensão comercial, agora entre a Casa Branca e a Europa, e a piora das projeções de crescimento mundial pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) provocaram um movimento internacional de fuga de ativos de risco e busca de proteção na moeda americana.

O real teve nesta quarta-feira o pior desempenho mundial ante o dólar em uma cesta de 34 divisas mais líquidas. A moeda dos EUA subiu 1,58% no México e 1% na África do Sul. Perante divisas fortes, avançou 0,50%.

No mercado à vista, o dólar subiu 3,33%, e fechou em R$ 5,3231. Foi a maior alta porcentual desde 18 de março, quando subiu 3,74%, dia de forte nervosismo no mercado por conta dos temores com a pandemia de coronavírus, obrigando o Banco Central a fazer quatro leilões. Hoje o BC não fez leilão extraordinários, mantendo apenas as rolagens.

"Os casos de Covid-19 estão crescendo rapidamente em muitos estados americanos", afirmam os estrategistas do Wells Fargo nesta quarta-feira. No Texas, por exemplo, a rede hospitalar está perto do limite, enquanto a Flórida anunciou hoje novo recorde diário de casos, observa o banco. "No geral, o aumento de novos casos representa uma ameaça à recuperação da atividade dos EUA e mundial."

Hoje o FMI reduziu a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da economia mundial para 4,9%. O Brasil deve ter desempenho bem pior, com contração de 9,1%.

Na avaliação do gestor da Canvas Capital, Eduardo Bodra, a elevada volatilidade do câmbio, com subidas fortes e quedas também fortes a cada dia, se deve muito a um rearranjo dos fundamentos da economia brasileira, por conta da queda dos juros para mínimas históricas. Empresas deixaram de emitir no exterior, brasileiros passaram a remeter recursos para fora em busca de retorno e o dinheiro externo que antes vinha lucrar com a rentabilidade, as chamadas operações de carry trade, já não vem mais, disse durante evento pela internet do BTG Pactual com gestores.

Para Bodra, se tiver "alguma segurança" de que o Brasil não vai virar algo desgovernado e a agenda econômica não vai mudar, existe chance de o real ganhar um pouco de força, assim como a curva de juros a termo ficar menos inclinada. A piora maior do real que outras moedas emergentes é reflexo da redução do diferencial de juros, mas se deve também ao receio da continuidade das políticas econômicas, ressaltou ele.

Ibovespa

Com dólar em alta de 3,33% na sessão, o dia foi de retomada da aversão a risco, aqui e no exterior, mas ao final o Ibovespa conseguiu mostrar perdas inferiores às observadas em Nova Iorque, em uma quarta-feira na qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) acentuou a projeção de contração para a economia global em 2020 - bem como para EUA e Brasil -, em momento no qual os mercados acompanham a disseminação do novo coronavírus por estados do Oeste e Sul americano, além do reaparecimento de casos em alguns pontos da Europa, especialmente Alemanha.

Após ganho de 0,67% ontem, o Ibovespa voltou ao terreno negativo nesta quarta-feira ao fechar em baixa de 1,66%, aos 94.377,36 pontos, em ajuste relativamente moderado que o reaproxima dos níveis de meados de junho, ainda conservando ganhos confortáveis no mês - hoje, tendendo, na mínima, ao nível de encerramento de 16 de junho (93.531,17 pontos). O índice saiu hoje de máxima na abertura a 95.973,81 pontos e tocou mínima a 93.259,07 pontos, com giro financeiro a R$ 25,7 bilhões na sessão. Na semana, cede agora 2,27%, mas ainda avança 7,98% em junho, com perdas acumuladas no ano a 18,39%.

Os Estados Unidos tiveram hoje a quarta maior marca de novos casos de Covid-19 registrados em um período de 24 horas, considerando os dados divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês). Foram mais 34.313 contaminações pelo novo coronavírus, o maior número desde 23 de abril, quando houve novas 37.144 infecções.

"O fluxo ainda segura muito a Bolsa, ninguém está a fim de realizar - na margem, está entrando dinheiro, então é difícil ter um movimento forte de realização de lucros", aponta Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante. "O dólar foi mesmo o estopim do dia, onde realmente abriu a porteira em tendência global, fortalecendo contra todo mundo, e aqui agravado pelo diferencial de juros", acrescenta. "Para realizar mais (no Ibovespa), vai ser preciso algo fora (do esperado), como uma segunda onda (de coronavírus) muito forte".

"O mercado está mostrando uma certa falta de força para romper a resistência. Quando isso acontece - fica parado e não consegue fazer o rompimento -, é comum sofrer uma realização e 'pegar forças'", diz Fernando Góes, analista técnico da Clear. "O que estamos vendo é um movimento mais lateral, não está muito claro o movimento de alta ou de queda. Só teremos uma visão melhor se o Ibovespa romper os 97 mil pontos ou perder o suporte de 90 mil", acrescenta. "Na minha avaliação, o índice está mais bem preparado para subir, apenas aguardando novo estímulo, interno ou externo."

Com o enfraquecimento das projeções do FMI e os receios globais em torno da pandemia, o dia na B3 foi de perdas disseminadas, mas as ações de algumas empresas e setores, especialmente as de exportadores, foram beneficiadas na sessão pela escalada do dólar, com destaque para Marfrig (+3,28%) e Klabin (+2,55%), na ponta do Ibovespa com B2W (+2,88%), seguidas por Sabesp (+2,33%), em meio à expectativa para a votação, e aprovação, do marco do saneamento no Senado. No lado oposto do Ibovespa, Cielo caiu hoje 12,96%, seguida pelas aéreas Gol (-8,34%) e Azul (-6,22%); Usiminas, que havia subido ontem mais de 10%, fechou hoje em baixa de 4,56%.

De grande peso no índice, as ações de commodities e bancos também tiveram desempenho negativo na sessão, com Petrobras PN em baixa de 3,00%, a ON, de 2,67%, e Vale ON, de 0,36%. Entre os bancos, Santander cedeu 4,68%, BB, 3,91%, Itaú Unibanco, 3,80%.

Taxas de Juros

A aversão ao risco que assolou os mercados puxou para cima os juros futuros, com mais força na ponta longa, mais sensível aos eventos externos, penalizados ainda pela disparada do dólar novamente acima dos R$ 5,30. Internamente, embora sem fatos novos nesta quarta-feira, o desconforto com a questão fiscal vem crescendo e também ajudando a adicionar prêmio nos vencimentos longos. Por isso, o mercado aguarda com grande expectativa a votação no Senado do marco legal do Saneamento, marcada para hoje, que poderá trazer recursos de estrangeiros para o País e, assim, aliviar a pressão nas contas públicas. Os juros curtos subiram a reboque do estresse generalizado, mas de forma bem mais comedida.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 3,07%, de 3,012% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 5,813% para 5,94% e a do DI para janeiro de 2027, de 6,803% para 6,93%.

As taxas já estavam em alta pela manhã, acompanhando os ativos internacionais, por sua vez pressionados pelos números crescentes de casos de coronavírus nos Estados Unidos, retaliações comerciais do país à Europa e previsões pessimistas do Fundo Monetário Internacional (FMI). A instituição elevou a estimativa de retração da economia global de -3% para -4,9% em 2020 e também a do Brasil, que saltou de -5,3% para -9,1%.

"Tivemos o exterior 'pegando' e contaminação do pré via câmbio e, ainda, receios com a parte fiscal", contou um gestor. Segundo ele, não houve novidades no noticiário sobre o assunto. "Mas diria que a cada dia que não endereçamos a questão, ela vai sozinha se deteriorando", disse.

Nesta tarde, o Instituto Internacional de Finanças (IIF) afirmou que o espaço fiscal dos emergentes para combater a pandemia está se esgotando, com respostas desiguais entre os países do grupo, obrigando muitos deles a adotarem políticas de relaxamento quantitativo. Nas mesas de renda fixa, acredita-se justamente que a expectativa com a "operação twist" do Banco Central brasileiro tem controlado o "steepening" da curva e, por isso, as taxas não têm acompanhando o avanço do dólar na mesma magnitude.

Um fator que pode trazer alento ao mercado é a votação do marco legal do Saneamento. A proposta é vista como atrativa para a entrada da iniciativa privada no setor e uma das ferramentas para a recuperação da economia após a pandemia de Covid-19. "Será um bom termômetro para avaliar como está a disposição do Congresso", disse o gestor citado mais acima.


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