Dólar tem terceira alta seguida e sobe 1,27%, para R$ 5,46

Dólar tem terceira alta seguida e sobe 1,27%, para R$ 5,46

Bolsa fechou em leve alta de 0,31%, após duas perdas seguidas, terminando o dia em 97.293,54 pontos

AE

Após uma manhã de instabilidade, o dólar firmou alta nos negócios da tarde

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O dólar chegou novamente a encostar em R$ 5,50 no começo da tarde desta terça-feira em movimento influenciado principalmente pelo mercado externo, após as novas críticas de Donald Trump à China na Assembleia Geral das Nações Unidas e discursos de dirigentes do Federal Reserve alertando para o cenário altamente incerto. No final da tarde, o ritmo de alta da moeda americana perdeu fôlego, acompanhando a melhora das bolsas americanas, com ações de tecnologia se recuperando das perdas recentes. Mesmo assim, o real, junto com o peso mexicano, amargou o pior desempenho desta terça-feira no mercado internacional, considerando as 34 divisas mais líquidas.

No mercado à vista, o dólar subiu 1,27%, para R$ 5,4691, a terceira alta seguida, se mantendo no nível mais alto desde 31 de julho, quando encerou em R$ 5,48. No mercado futuro, o dólar para outubro era negociado em R$ 5,4760, com ganho de 1,11% às 17h.

Após uma manhã de instabilidade, o dólar firmou alta nos negócios da tarde. O discurso de Jair Bolsonaro na ONU foi monitorado pelas mesas de câmbio, mas não afetou as cotações. O presidente brasileiro defendeu sua política ambiental e a forma como o governo lidou para combater os efeitos da pandemia do coronavírus.

Já Trump engrossou as críticas dirigidas a Pequim, voltando a responsabilizar o país asiático pela pandemia e usou o termo "vírus chinês" para se referir ao coronavírus. "A maior parte do discurso foi sobre a China, o que ajuda a piorar a perspectiva para a relação dos dois países", destaca o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem. Neste ambiente, moedas de emergentes e exportadores de commodities foram penalizadas. Já o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, voltou a falar da necessidade de mais estímulos fiscais para dar fôlego à economia americana e alertou para a incerteza sobre a retomada.

A agenda doméstica foi fraca nesta terça-feira, com destaque ficando para divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento ajudou a trazer alguma pressão para o câmbio mais cedo, na medida em que sinalizou juros baixos pela frente, sem menção a taxas subindo. "A política monetária no Brasil vai permanecer flexível por um tempo mais longo do que os mercados esperam", avalia o economista-chefe de mercados emergentes da consultoria Capital Economics, William Jackson, destacando que a pressão recente de preços de alguns alimentos é temporária e não assusta o Banco Central. Para ele, os juros só devem subir no Brasil em 2022, o que ajudará a manter o real pressionado, acima de R$ 5,00.

Ibovespa

Com Nova Iorque também revertendo a terreno positivo no meio da tarde, o Ibovespa conseguiu neutralizar as leves perdas observadas mais cedo e fechar o dia em alta, após duas quedas consecutivas, de 1,32% e 1,81%, nas sessões anteriores. Nesta terça-feira, o índice de referência da B3 fechou em alta de 0,31%, a 97.293,54 pontos, tendo oscilado entre mínima de 96.390,28 e máxima de 97.684,16 pontos, saindo de 96.994,52 pontos na abertura. O giro financeiro, enfraquecido, totalizou R$ 20,1 bilhões na sessão.

Apesar da perda de força em direção ao encerramento, a recuperação observada nesta tarde chegou a ser puxada pelo setor de siderurgia, em especial CSN (+3,39%), na ponta do Ibovespa no fechamento, logo abaixo de MRV (+3,73%) e IRB (+6,28%). As ações de commodities e de bancos também ensaiaram desempenho positivo, mas também limitaram ou devolveram ganhos perto do fim, com Petrobras ON em baixa de 0,05% e a PN, de 0,48%, enquanto Vale ON conseguiu sustentar leve alta de 0,12% no encerramento.

O setor de bancos fechou no azul, à exceção de BB ON (-0,19%), com destaque para Bradesco ON (+1,03%). No lado oposto do Ibovespa, B2W, que havia sido a maior alta do dia anterior, fechou hoje em baixa de 3,80%, seguida por Embraer (-2,83%), entre as maiores perdedoras pelo segundo dia seguido, Suzano (-2,39%) e JBS (-2,13%).

Conforme observa Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti, após a aversão a risco global ter afetado ontem em especial "nomes de beta mais alto, mais arriscados", como Gol, Azul e CVC, as três empresas tiveram desempenho misto nesta terça-feira, com CVC em baixa de 1,94% e Gol, de 1,20%, enquanto Azul conseguiu leve recuperação, em alta de 1,04% no fechamento desta terça-feira. "Os riscos que provocaram as vendas (ontem) vieram de um possível novo lockdown no Reino Unido, com a escalada de novos casos de coronavírus, enquanto Madri limitou o deslocamento de 850 mil moradores, só permitindo que eles saiam de casa para trabalhar, ir ao médico ou levar filhos à escola", aponta a analista.

Mais cedo, o presidente da CVC, Leonel Andrade, afirmou, durante live promovida pelo jornal O Tempo, que os preços do turismo estão 25% a 30% mais baixos do que no ano passado e "só teremos um ano cheio no turismo novamente em 2023".

Além dos sinais de retomada da pandemia nesta virada de verão para outono no Hemisfério Norte, incertezas relacionadas à situação fiscal no Brasil, a denúncia de lavagem de dinheiro em grandes bancos globais e a proximidade da eleição americana contribuem para moderar o apetite por risco, limitando o potencial de recuperação do Ibovespa, que caminha até aqui para novo mês de perdas - em setembro, cede 2,09%, após recuo de 3,44% em agosto, quando foi interrompida a reação iniciada em abril. As perdas no ano chegam agora a 15,87% - na semana, o índice cede 1,01%.

"O Ibovespa segue sem uma definição clara, mesmo com o resultado de ontem, no qual a Bolsa perdeu o suporte de 97 mil pontos. Mas como o índice permanece muito próximo desse ponto, não temos ainda um rompimento confirmado", diz Fernando Góes, analista gráfico da Clear Corretora. "Caso o Ibovespa fique abaixo do patamar registrado ontem, de 96 mil pontos, podemos começar a pensar no novo suporte de 92 mil pontos. Caso faça o movimento de subida, precisará ultrapassar os 103 mil pontos para retomar a tendência de alta", acrescenta o analista, para quem "os indicadores técnicos ainda mostram movimento mais propenso à compra do que venda". Segundo Góes, há uma "falta de velocidade nesta queda", na medida em que se veem "setores intercalando altas e quedas", com o mercado ainda "lateralizado".

Pelo lado dos fundamentos, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) disse hoje que o Brasil respondeu à crise da covid-19 com "uma grande expansão fiscal", maior do que outros emergentes e comparável a alguns desenvolvidos. Em relatório, o IIF observa que a expansão fiscal é positiva para a recuperação no curto prazo, mas traz dois desafios: o de recuar nos gastos emergenciais para cumprir a regra fiscal; e o financiamento de um grande déficit fiscal no momento em que todos os países têm emitido muitos bônus.

Em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a apontar para uma "campanha de desinformação", direcionada ao competitivo agronegócio brasileiro, como fator oculto na atenção internacional aos incêndios e desmatamento em biomas do País, como o Pantanal e a Amazônia. Apesar da importância da questão, o assunto permanece como pano de fundo para os investidores, mais suscetíveis ao endividamento público e à situação econômica em meio à pandemia.

Em Nova Iorque, a reação inicialmente fria ao testemunho do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao Congresso, no sentido de que "mais estímulos fiscais e monetários serão necessários para a economia", deu lugar a uma relativa animação liderada pelas ações de tecnologia, o que contribuiu para romper uma sequência de quatro quedas, aponta em nota Edward Moya, analista de mercado financeiro da OANDA em Nova Iorque. A virada contribuiu para que o Ibovespa se firmasse em terreno positivo até o fim da sessão, após ter hesitado entre leves ganhos e perdas, bem perto da estabilidade. Em Nova Iorque, o Nasdaq fechou o dia em alta de 1,71% e o S&P 500, de 1,05%.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira em queda ao longo de toda a curva, mas mais pronunciada nos vértices intermediários, com boa parte do alívio sendo patrocinado pela leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento manteve o tom "dovish" já visto no comunicado da reunião da semana passada ao reforçar o forward guidance de que a taxa Selic deve permanecer inalterada por um período prolongado. Com isso, as apostas para um aperto na Selic já este ano arrefeceram um pouco. A melhora do humor externo contribuiu para o recuo das taxas, que era maior pela manhã, perdendo força à tarde na medida em que o dólar voltou a subir e a renovar máximas perto dos R$ 5,50.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022, que ontem tinha voltado aos 3% pela primeira vez desde meados de julho, hoje fechou em 2,92%, de 3,003% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 4,44% para 4,35%. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,30%, de 6,364%, e a do DI para janeiro de 2027 recuou de 7,344% para 7,26%.

O destaque da ata foi o parágrafo 19, em que os diretores afirmam que "as condições para a manutenção do forward guidance seguem satisfeitas". "É uma sinalização elegante para a interrupção do corte de juros. No meu entender, a Selic a 2,0% vai até o final de 2021, passando a ser elevado apenas no início de 2022", afirma o economista-chefe Étore Sanchez, da Ativa Investimentos.

Nas mesas de renda fixa, profissionais afirmam os vencimentos do miolo, como janeiro de 2023, foram os que mais reagiram por serem os que mais vinham sofrendo com a pressão dos leilões do Tesouro e dúvidas sobre a reação do Banco Central ao aumento da inflação de curto prazo. Porém, ainda assim, a curva mantém apostas minoritárias de algum aperto da Selic ainda em 2020.

Segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos, a curva projetava em torno de 20% de chance de alta de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom de outubro, ante 27% ontem, e para dezembro 42% de probabilidade, de 51% ontem.

"O BC está tentando segurar no grito a alta de juros no ano que vem. Se tivermos um pouco mais de aumento da atividade, a inflação de serviços volta a ficar pressionada e não sei se o BC vai conseguir segurar o aperto por muito tempo", disse o operador de renda fixa da Terra Investimentos, Paulo Nepomunceno, acrescentando que a autoridade monetária está se apegando ao fato de a inflação seguir bem abaixo da meta. "Mas é a meta que está muito alta para o quadro que temos", comentou.

Os vencimentos mais longos tinham recuo firme de manhã, enquanto o câmbio estava bem comportado, mas o ritmo esfriou na etapa vespertina, com o dólar voltando a ficar perto dos R$ 5,50. Na percepção do mercado, este trecho não conseguirá emplacar uma melhora sustentável enquanto o governo não adotar medidas concretas que sinalizem austeridade fiscal, mas que também são impopulares num ano eleitoral. "A impressão é que o Congresso vai esperar as eleições municipais para tocar as reformas", disse uma fonte.


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