Dólar tem terceiro dia seguido de queda e fecha em R$ 5,15

Dólar tem terceiro dia seguido de queda e fecha em R$ 5,15

Com exterior positivo, Ibovespa terminou em alta de 0,67%, aos 95.975,16 pontos

AE

Cotações foram influenciadas principalmente pelo exterior

publicidade

O dólar teve o terceiro dia seguido de queda, período em que recuou 4,1%. Nesta terça-feira, as cotações foram influenciadas principalmente pelo exterior. Indicadores da atividade divulgados nesta terça-feira vieram melhores que o previsto e reforçaram a visão de recuperação bem encaminhada das principais economias mundiais, o que estimulou a busca por ativos de risco, enfraquecendo a moeda americana globalmente. Além disso, o presidente dos EUA, Donald Trump, reforçou que o acordo com a China continua de pé e a Casa Branca minimizou a possibilidade de nova paralisação da economia americana por causa do coronavírus, além de sinalizar que uma vacina para a doença está a caminho.

A com perspectiva de votação na quarta-feira no Senado do marco regulatório do saneamento, que pode atrair capital estrangeiro ao Brasil, contribui para tirar pressão do câmbio, também beneficiado pelo noticiário político sem surpresas nesta terça.

O real foi a moeda que mais ganhou força nesta terça-feira no mercado internacional em uma lista de 34 divisas. No mercado à vista, o dólar terminou em baixa de 2,26%, cotado em R$ 5,1517. Com isso, acumula queda de 3,5% em junho e de 7,7% nos últimos 30 dias. Na mínima, caiu a R$ 5,13 nesta terça. No mercado futuro, o dólar para julho era cotado em R$ 5,1575, em queda de 1,84% às 17h.

"O otimismo dos investidores com a recuperação manteve o dólar em baixa", afirma o analista sênior de mercados do banco especializado em transferências internacionais Western Union, Joe Manimbo. O reflexo foi que o euro se fortaleceu, sobretudo após bons indicadores na Europa, e o iene se enfraqueceu, sinalizando a busca por ativos de risco. O PMI industrial da zona do euro, por exemplo, subiu para 46,9 pontos, acima das previsões de aumento para 44,5 pontos.

"Os dados globais dos PMI mostraram que o retorno econômico está bem encaminhado e superando as expectativas", ressalta o analista de mercado financeiro da Oanda em Nova York, Edward Moya. Com isso, o dólar se enfraqueceu, o petróleo subiu e o ouro caiu.

Com os mercados muitos sensíveis aos desdobramentos da relação EUA/China, o analista da Western Union ressalta que a mensagem de Trump afirmando que o acerto comercial entre os dois países está "completamente intacto" ajudou a estimular o apetite por risco. Assim, moedas de emergentes e de países exportações de commodities ganharam força.

No final da tarde, o secretário de Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, afirmou que a Casa Branca "considera seriamente" outro pacote de estímulo e que é "altamente improvável" que o país tenha de paralisar a economia novamente. Além disso, o principal infectologista americano, Anthony Fauci, mostrou otimismo ao falar de uma vacina para o coronavírus, destacando que até o final do ano ou em janeiro de 2021 já esteja disponível.

Ibovespa

O Ibovespa conseguiu retomar a trajetória ascendente que havia sido interrompida ontem, após quatro ganhos consecutivos. Nesta terça-feira, o índice de referência da B3 mostrou ganho moderado ao longo do dia, que o colocou aos 95.975,16 pontos, em alta de 0,67% no fechamento da sessão, recuperando-se parcialmente da perda de 1,28% registrada na segunda-feira. Na máxima desta terça, voltou à marca psicológica de 97 mil, a 97.485,59 pontos, em torno da linha de resistência, enquanto, na mínima, foi a 95.343,52 pontos. Na semana, acumula perda de 0,62%, mas ainda avança 9,81% no mês. No ano, cede agora 17,01%.

Assim como nesta segunda, o giro financeiro se mostrou um pouco mais acomodado, hoje a R$ 26,3 bilhões. Em Nova York, os ganhos chegaram a ficar acima de 1%, com destaque mais uma vez para o Nasdaq (+0,74%), que voltou a renovar máxima histórica de fechamento. As ações de commodities (Petrobras PN +3,34%, Vale ON +1,07%) e de siderurgia (Usiminas +10,34%) tiveram desempenho positivo na sessão da B3, mas as perdas ainda que moderadas observadas em boa parte do setor bancário, com grande peso na composição do índice, limitaram o avanço do Ibovespa.

"O exterior contribuiu de forma positiva, com Larry Kudlow, principal assessor econômico da Casa Branca, tendo minimizado a chance de segunda onda de Covid nos EUA, além das leituras favoráveis dos PMIs na Europa, que sinalizam uma retomada da atividade em V", diz Pedro Galdi, analista da Mirae. Após ter reafirmado mais cedo que o acordo comercial com a China permanece de pé, o que agradou aos mercados, o presidente dos EUA, Donald Trump, em campanha de reeleição até aqui enfraquecida, voltou a direcionar os canhões contra o rival geopolítico, ao dizer que a pandemia de Covid-19 é "um presente vindo da China" - o que contribuiu para NY moderar a alta.

Mais cedo, os dados e noticiário positivos favoreceram os ganhos observados em Wall Street e, especialmente, nas bolsas da Europa - o que colocava o Ibovespa a caminho, pelo segundo dia, de desempenho abaixo do observado em Nova York, invertendo o padrão observado na semana passada. Entre os dias 8 e 10 de junho, o Ibovespa conseguiu ir à faixa de 97,6 mil pontos nas máximas daquelas sessões, as maiores desde 9 de março (97.982,08 pontos). Na sessão anterior, de 6 de março, o Ibovespa fechou aos 97.996,77 pontos, pela primeira vez no ano encerrando abaixo dos 100 mil pontos - em 5 de março, estava em 102.233,24 pontos.

Recuperar os 98 mil pontos é um passo importante para que o Ibovespa retome os 100 mil, avaliam analistas, mas, até que isso aconteça, a expectativa é por lateralização ou realização de lucros no curtíssimo prazo, tendo em vista os ganhos que se acumularam nos últimos três meses - após avanço de 10,25% em abril e de 8,57% em maio, o Ibovespa segue até aqui a caminho de alta de 9,81% em junho, faltando cinco sessões para fechar o mês.

Em NY, os índices chegaram a ganhar fôlego nesta terça-feira e avançar mais de 1% após o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, Anthony Fauci, ter dito ao Congresso que está "cautelosamente otimista" de que uma vacina contra a doença estará disponível em breve, até o início de 2021.

"Aqui, a ata do Copom trouxe o esperado, a possibilidade de mais um corte 'residual' na Selic. Sabemos que o segundo semestre no Brasil não será fácil, na economia como na política, mas temos uma situação de fluxo de recursos, que não tem muito para onde correr, com os juros onde estão", observa Galdi. "Depois do tombo de março, a recuperação de abril e maio se estende a junho, com ganho perto de 10% para o Ibovespa no mês. O viés na Bolsa é positivo, apesar das dificuldades", conclui.

Embora a percepção de risco político tenha se amenizado em relação ao observado no fim de abril e início de maio, o quadro doméstico, ainda que em segundo plano no momento, continua no radar, inclusive do exterior. As embaixadas do Brasil na Europa receberam a carta do grupo formado por 30 fundos internacionais, de países como Suécia, Japão e Reino Unido, que ameaçam tirar seus recursos do País se o governo não trabalhar para deter o desmatamento.

Em outro desdobramento negativo, refletindo a pandemia, a Receita Federal informou hoje que a arrecadação de R$ 77,415 bilhões em maio foi a menor para o mês desde 2005, quando somou R$ 76,178 bilhões, na série já atualizada pela inflação.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira em baixa nos vencimentos longos e intermediários, enquanto a ponta curta terminou de lado. A ata do Copom, estrela da agenda, veio em linha com o comunicado da decisão da semana passada e, assim, não serviu para desempatar o quadro de apostas para a Selic na reunião de agosto. As expectativas do mercado continuam divididas entre corte de 0,25 ponto porcentual e manutenção no nível de 2,25%. Nos vencimentos longos, prevaleceu a melhora do apetite pelo risco no exterior, que enfraqueceu o dólar e fez recuar o nível dos Contratos de Default Swap (CDS, em inglês) do Brasil para perto dos 250 pontos.

Nesse cenário, a curva devolveu o ganho de inclinação registrado ontem, tendo ainda favorecido esse movimento hoje o detalhamento por parte do Banco Central de seu programa de compra de títulos assegurado na PEC do Orçamento.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou com taxa a 2,035% (mínima), de 2,034% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2022, com taxa de 3,01% (3,03% ontem no ajuste). A do DI para janeiro de 2025 passou de 5,913% para 5,81% e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 6,903% para 6,80%.

Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, afirma que o destaque do dia hoje foram as moedas. "O real ganhou muito mais que as outras emergentes no dia e, com o risco-País caindo gradualmente, foi bom para a ponta longa", afirmou, ponderando, porém, que, mesmo assim, a divisa brasileira ainda está muito atrasada ante seus pares.

Outro fator positivo para reduzir a inclinação foi o anúncio do BC das regras para compra de ativos privados no mercado secundário, segundo Nepomuceno. Serão elegíveis ativos com risco de crédito equivalente a BB- ou superior, depositados em depositária central, não conversíveis em ações. O prazo de vencimento deverá ser igual ou superior a 12 meses.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez questão de destacar que o anúncio não deveria ser lido como o começo do processo, evitando comentar quando dará o start. "Trata-se de um mercado com liquidez reduzida, então devemos anunciar um programa de atuações. Quando entrarmos, vamos comprar títulos privados por alguns dias", afirmou. Ele disse ainda que a atuação do BC será abrangente. "Não vamos atuar para salvar um ou outro investidor", completou.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, lembra que com a curva menos inclinada fica mais fácil para o BC testar novos limites para a taxa básica. "Pode ficar mais confortável para seguir reduzindo o juro", disse ele, que espera apenas mais um corte de 0,25 ponto.

Na curva a termo, a precificação para a Selic em agosto, no fim da tarde, era de -14 pontos-base, ou 55% de chance de corte de 0,25 ponto porcentual, contra 45% de probabilidade de manutenção. Os cálculos são do Haitong Banco de Investimentos.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895