Em dia de espera por Copom, dólar cai 0,33% e fecha a R$ 5,55

Em dia de espera por Copom, dólar cai 0,33% e fecha a R$ 5,55

Moeda norte-americana oscilou pouco ao longo da sessão desta quarta-feira

AE

Moeda norte-americana fechou em queda nesta quarta-feira

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À espera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o dólar à vista experimentou certa volatilidade na sessão desta quarta-feira, com trocas de sinais especialmente pela manhã. A amplitude das oscilações, contudo, foi bastante reduzida, de apenas cerca de seis centavos entre a mínima (R$ 5,5375) e a máxima (R$ 5,5920) - um sintoma clássico de cautela e falta de apetite por posições mais contundentes.

A expectativa amplamente majoritária no mercado é que o BC acelere o ritmo de aperto e eleve a Selic em ao menos 1,50 ponto porcentual, para 7,75% ao ano, e que o comunicado da decisão seja duro. A tese é que um BC mais agressivo serviria de contraponto à perda da âncora fiscal, com a mudança na regra de cálculo do teto de gastos embutida na PEC dos Precatórios, que pode ser apreciada ainda no período da noite desta quarta no plenário da Câmara.

Operadores chegaram a atribuir parte da oscilação do dólar ao longo do dia a rumores sobre qual será, de fato, a postura do BC. A avaliação é que qualquer aumento da Selic inferior 1,50 ponto ou dubiedade no comunicado pode levar a taxa de câmbio rapidamente a flertar com o patamar de R$ 5,70.

Em meio a idas e vindas, no fim do dia prevaleceu o sinal negativo e o dólar fechou em queda de 0,33%, a R$ 5,5551. Depois de subir 3,16% na semana passada, a moeda americana acumulou baixa de 1,28% nos últimos três pregões. Em outubro, ainda avança 2%.

No exterior, o índice DXY - que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes - operou em leve queda ao longo do dia, na maior parte do tempo abaixo dos 94 pontos. Mas o dólar subiu em relação a divisas emergentes consideradas pares do real, como o peso mexicano (+0,53%), o peso chileno (+0,16%) e o rand sul-africano (+1,58%).

Para Thomas Giuberti, sócio da Golden Investimentos, o dólar já está em um valor "bem esticado" e reflete "prêmio de risco elevado", dada a questão fiscal. "O BC tem o argumento perfeito agora para não ficar atrás da curva. Pode compensar os erros do passado com a decisão de subir a Selic em pelo menos 1,50 ponto com um comunicado mais forte. Isso ajudaria a segurar um pouco o câmbio", diz Giuberti, em referência ao aumento da atratividade das taxas de juros locais para investidores estrangeiros. "Se o BC não agir agora, podemos ver o mercado estressar com mais força novamente. Tudo depende da decisão e do comunicado do Copom".

O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, argumenta que o ideal seria um "choque maior ou igual a 200 pontos bases, com Selic mínima de 8,25%, para desacelerar o impacto do dólar e estabilizar as expectativas de inflação. Velho não vê espaço, porém, para um movimento amplo de apreciação do real, já que o risco-País (medido pelo CDS de 5 anos) está na casa de 200 pontos, por causa da piora fiscal, e haverá uma deterioração sazonal do resultado da conta corrente no quarto trimestre.

"As pressões por mais gastos públicos seguem no Congresso. Desejam aumentar o valor do fundo eleitoral, emendas parlamentares dentro da PEC dos Precatórios e ainda prorrogar a desoneração fiscal da folha de pagamentos para 2022", afirma Velho, em relatório.

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à <i>Jovem Pan News</i>, se disse confiante na aprovação da PEC dos Precatórios e afirmou que não avaliou o eventual impacto político do Auxílio Brasil no valor de R$ 400 neste momento. "Muita gente diz para eu passar para R$ 600 que estou garantido na reeleição. Imagina se eu falo em R$ 600 do Bolsa Família, o que acontece com a bolsa e o dólar? Bagunça na economia não interessa para ninguém".

À tarde, ao participar do programa Pânico, da rádio <i>Jovem Pan</i>, Bolsonaro vou a chamar o mercado financeiro de "nervosinho". O presidente também arriscou um diagnóstico para a depreciação recente do real, ao dizer que o "Brasil está vivendo uma insegurança jurídica, aí o dólar não baixa".

Entre os indicadores do dia, dados do Banco Central divulgados à tarde mostram que o fluxo cambial está negativo em US$ 211 milhões em outubro (até o dia 22). O saldo no canal financeiro, contudo, foi positivo em US$ 1,131 bilhão, revelando apetite dos investidores por ativos locais. Quem pesou no resultado do fluxo foi o saldo negativo de US$ 1,342 bilhão no comércio exterior. No acumulado de outubro, destaque para o resultado da semana passada (de 18 a 22 ), quando o saldo foi positivo em US$ 1,573, graças sobretudo a entrada líquida de US$ 1,160 bilhão pelo canal financeiro.

Taxas de juros

A curva de juros manteve o movimento de <i>flattening</i> visto nos últimos dias, mas nesta quarta-feira com as taxas todas em baixa, refletindo uma correção de exageros nas apostas mais agressivas para o Copom da noite desta quarta-feira, especialmente nos vértices curtos e intermediários. A curva limpou as de alta de até 2 pontos porcentuais da Selic e a de aumento de 1,75 ponto é levemente majoritária, com a de 1,5 ponto como alternativa.

A percepção é de que a dose de aperto não precisaria ser tão expressiva se combinada a um comunicado hawkish o suficiente para sustentar a confiança do mercado de que o Banco Central será capaz de resgatar as projeções de inflação. Além da espera pelo Copom, agentes ficaram na expectativa pela PEC dos Precatórios ser votada ainda nesta quarta na Câmara.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou o dia em 11,51%, de 11,609% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,965% na terça para 11,90%. O DI para janeiro de 2022 passou de 8,552% para 8,422% e a do DI para janeiro de 2025, de 11,927% para 11,81%.

Para o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, alguns "calls", de elevação de até 3 pontos, para a Selic estavam exagerados, na medida em que, segundo ele, não é a política monetária que está sendo questionada, e sim a fiscal. "Faz pouco sentido dar um choque de juros agora, pois não há desconfiança de que o BC não vá seguir no movimento de aperto, ainda que haja discordância sobre o ritmo", afirmou.

Nos cálculos da Greenbay Investimentos, a curva precificava no período da tarde 165 pontos-base de avanço para a Selic nas reuniões de outubro e de dezembro, o que representa 60% de probabilidade de alta de 1,75 ponto e 40% de chance de aumento de 1,5 ponto.

É consenso entre os analistas que esta, que é uma das reuniões mais difíceis, exigirá um comunicado muito bem montado para limitar os efeitos negativos nos ativos, dada a elevada dispersão das apostas. "O desafio do BCB é manter seu plano de voo e isto está mais na comunicação do que na taxa em si. Se o BCB subir muito a taxa isso pode criar pânico, se subir pouco pode criar mais confusão. Uma equação que só pode ser resolvida dinamicamente, ou seja, via comunicação amarrando uma série de ajustes futuros ao anúncio de hoje", comentou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

Enquanto aguardavam o Copom, os agentes acompanhavam a movimentação em Brasília, com a PEC dos Precatórios no radar. Segundo apurou o Broadcast, os parlamentares querem R$ 16 bilhões em emendas de relator e R$ 5 bilhões para o fundo eleitoral, aproveitando a folga que será aberta no Orçamento de 2022 após mudanças na regra do teto de gastos. Nesta quarta, a movimentação foi em torno de um acordo que retire o precatório do Fundef do teto de gastos. O relator, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que a "ideia é votar hoje de todo jeito".

Bolsa

Assim como outras classes de ativos brasileiros, o Ibovespa aguardou com expectativa nesta quarta-feira a definição do período da noite do Copom sobre o nível de juros adequado à situação atual, de desancoragem de expectativas inflacionárias ante a perda da referência sobre o teto de gastos em 2022, em meio a revisões contínuas do mercado nas projeções de fatores como câmbio e PIB para o ano eleitoral. Nesta quarta, com impulso proporcionado pela manhã por uma série de balanços positivos, como os de Marfrig (ON +2,68%) e Santander Brasil (Unit -0,03%) - que mais cedo dava suporte ao setor de maior peso no índice (financeiro) -, o Ibovespa conseguiu sustentar recuperação parcial até o meio da tarde, mas perdeu fôlego em direção ao fechamento, em leve baixa de 0,05%, a 106.363,10 pontos, entre mínima de 106.044,68 e máxima de 108.224,47 pontos, saindo de abertura a 106.432,87 na sessão.

O giro financeiro ficou em R$ 32,2 bilhões nesta quarta-feira. Na semana, o Ibovespa avança apenas 0,06%, ainda cedendo 4,16% no mês - em 2021, a perda acumulada está em 10,63%.

"A expectativa maior é para o Copom, obviamente, e é fundamental que o BC traga de volta uma ancoragem nas expectativas, com o mercado muito pessimista com relação à inflação. Deve dar um choque um pouco maior, de no mínimo 1,5 ponto (na Selic), onde estão concentradas as apostas (para esta reunião), mas há casas, talvez de forma exagerada, precificando até mais de 2 (pontos porcentuais de alta, nesta quarta). Deve ficar entre 1,5 e 2", diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos.

"Em um primeiro momento, o Copom pode até trazer algum alívio, se o mercado entender que o Banco Central está sendo bastante diligente com a questão inflacionária, e não com a atividade - que, de fato, não é parte do seu mandato. E com juros subindo, o câmbio deve se valorizar, atraindo fluxo estrangeiro", conclui Marcatti, ressalvando as dificuldades para a "economia real" em ciclo de elevação de juros, que afeta também a atratividade da renda variável quando contraposta à fixa. Ainda assim, o impacto pode vir a ser neutro, "quiçá positivo", considerando os prós e contras de um avanço mais forte da Selic.

Neste contexto ambivalente, de aspectos positivos e negativos para a renda variável, a Pesquisa XP de Sentimento, realizada pela corretora com assessores de investimentos e escritórios autônomos filiados, constatou uma piora das perspectivas para a Bolsa. Entre setembro e outubro, a média dos palpites para o Ibovespa no fim de 2021 caiu 5,4%, de 126.319 pontos para 119.533 pontos.

Entre as 570 respostas únicas obtidas pela XP Investimentos entre os dias 20 e 25 de outubro, 41% avaliaram que o Ibovespa deve ficar entre 120 mil e 130 mil pontos no fim do ano, a previsão mais citada. Em seguida, apareceram as apostas em um nível entre 110 mil e 120 mil pontos (37%); abaixo de 110 mil pontos (13%); entre 130 mil e 140 mil pontos (7%) e acima de 140 mil pontos (3%).

"Hoje houve balanços positivos, como o da Gerdau (PN -2,50% no fechamento), com forte distribuição de dividendos. Enquanto os resultados das empresas mostram uma realidade diferente, a preocupação com o macro, com a política de forma geral, continua a preocupar, trazendo volatilidade", diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos.

"Aumento de juros maior, como o que está se projetando agora para o Copom, impacta a renda variável, com migração para a renda fixa, especialmente entre os institucionais, mais propensos a isso. É natural um rebalanceamento, na medida em que a renda fixa impacta também a modelagem de valuation das empresas", acrescenta Brito.

"Os ativos em geral já estão bem precificados porque a gente já vem num cenário de quatro meses de muita volatilidade, de muita incerteza em relação ao fiscal, de piora também na dinâmica geral dos mercados globais. E de antecipação da corrida eleitoral, com um discurso já mais populista, o que coloca a Bolsa aqui em posição mais desvalorizada em relação a outros emergentes, assim como nosso câmbio", observa Marcatti, da Veedha Investimentos.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Cogna (+5,58%), Eztec (+4,99%), Multiplan (+4,57%), Raia Drogasil (+4,17%) e Iguatemi (+4,05%). Na face oposta, PetroRio (-6,63%), Méliuz (-4,55%) e Getnet (-4,41%).

 


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