Ibovespa cai 1,04% por tensão entre EUA e China e dólar sobe

Ibovespa cai 1,04% por tensão entre EUA e China e dólar sobe

Mercado de câmbio ficou pressionado após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar tarifas adicionais em US$ 200 bilhões de produtos chineses

AE

Dólar à vista fechou em alta de 0,48%, a R$ 3,9580

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Os temores de acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China deflagraram um movimento global de aversão ao risco, que atingiu em cheio os mercados acionários nesta segunda-feira, 6. O Índice Bovespa operou em queda durante todo o pregão, na esteira do movimento gerado pelo aceno do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ampliar a sobretaxação a produtos chineses. Ao final da sessão de negócios, o Ibovespa marcou 95.008,66 pontos, em queda de 1,04%.

"Os comentários de Trump fizeram os mercados de risco assumirem postura defensiva, causando esse movimento de queda das ações", disse Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos. Segundo o analista, o fluxo externo continua sendo um ponto de interrogação nos mercados emergentes e em especial no Brasil, onde "os estrangeiros ainda estão esperando um bom sinal vindo das reformas da Previdência e tributária para o segundo semestre de 2019". Já os investidores locais, afirma, continuam à espera de algum incentivo à economia interna, enquanto os indicadores econômicos se depreciam.

No que diz respeito à reforma previdenciária, o clima ainda foi de compasso de espera pelo início dos trabalhos da comissão especial da Câmara, nesta terça. "O cenário para Brasil não se altera. O driver principal continua sendo a reforma da Previdência e agora os investidores estão atentos à desidratação no número do ministro Paulo Guedes (Economia), de R$ 1,23 trilhão em dez anos, para algo em torno de R$ 600 bilhões a R$ 800 bilhões de reais de economia", disse Chinchila.

Hoje o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), disse que Paulo Guedes pode participar de uma audiência pública na comissão especial da reforma já nesta quarta-feira. Guedes, por sua vez, disse esta tarde que o Brasil voltará a crescer a partir de julho. "Assim que forem aprovadas as reformas, o Brasil retomará o seu caminho de crescimento sustentável. Não há novidade nenhuma nessa desaceleração econômica, o Brasil está prisioneiro de uma armadilha de baixo crescimento e nós vamos escapar com as reformas", afirmou.

A porta de saída dos investidores foram as ações do setor financeiro, grupo de maior peso na composição da carteira teórica do Ibovespa. Nesse bloco, destaque para Itaú Unibanco PN (-2,20%) e Bradesco PN (-2,70%). Por conta do imbróglio envolvendo EUA e China, Vale ON caiu 1,47%, alinhada a outras mineradoras pelo mundo. Com o resultado desta terça, o Ibovespa passa a contabilizar queda de 1,40% em maio.

Dólar

O mercado de câmbio passou a segunda-feira, 6, pressionado pelo cenário externo, marcado por queda das moedas de emergentes após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar tarifas adicionais em US$ 200 bilhões de produtos chineses. No mercado doméstico, a expectativa agora é pelo início dos trabalhos da comissão especial da Câmara, que vai avaliar a reforma da Previdência, previsto para esta terça-feira. O dólar à vista fechou em alta de 0,48%, a R$ 3,9580.

O mercado local ficou mais estressado pela manhã, quando o dólar bateu em R$ 3,97. Na parte da tarde, a moeda americana desacelerou o ritmo de queda, e foi negociada na casa dos R$ 3,95, em meio a notícias de que uma delegação de Pequim vai aos EUA para uma nova rodada de negociações. Operadores ressaltam que importadores e investidores estrangeiros aumentaram as compras de dólar.

Os principais vendedores foram exportadores, atraídos para o mercado quando a moeda bateu nas máximas. O diretor e gestor em Nova York da BK Asset Management, Boris Schlossberg, destaca que os mercados de moeda tiveram reação imediata às ameaças de Trump e as divisas emergentes asiáticas já começaram os negócios desta segunda-feira enfraquecidas, seguidas pelas outras ao redor do mundo à medida que outros mercados foram abrindo.

Ainda não está claro, ressalta ele, se Trump vai mesmo elevar as tarifas ou se o anúncio é apenas uma tática de negociação para pressionar os chineses. Por isso, os mercados podem oscilar agora dependendo das declarações de Pequim. Além de provocar uma inesperada escalada na tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo, os estrategistas do ABN Amro, Bill Diviney e Arjen van Dijkhuizen, destacam que caso Trump aumente mesmo as tarifas, pode haver impacto inflacionário dos Estados Unidos, com consequente efeito futuro nas decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Outro efeito pode ser piorar as projeções de crescimento da economia mundial, o que explica o nervosismo dos mercados nesta segunda-feira. O estrategista da TAG Investimentos, Dan Kawa, destaca que, pelo fato de o Brasil não ter conseguido se diferenciar de outros emergentes, avançando de forma concreta com as reformas, os ativos locais ficam a "mercê do humor global a risco". E nesta segunda, os ativos internacionais de risco tiveram um dia de forte pressão, ressalta ele.

Taxas de juros

A aversão ao risco que pautou os mercados globais nesta segunda-feira, 6, teve efeito muito limitado no segmento de juros, mais visível na primeira parte dos negócios. Ainda pela manhã as taxas zeraram a alta e passaram a oscilar perto da estabilidade, com viés de queda na ponta curta. O impacto do anúncio do governo norte-americano de que elevará as tarifas para produtos chineses foi blindado pela percepção de que a atividade fraca pode reabrir um movimento de queda na Selic se a reforma da Previdência avançar.

As taxas de curto prazo encerraram a sessão regular nas mínimas. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 6,440%, de 6,470% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2021 fechou em 7,04%, de 7,062%. A taxa do DI para janeiro de 2023 ficou estável, em 8,15%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 8,67%, ante 8,682% no último ajuste.

"Tivemos um dia morno para os juros. O impacto da questão da China e Estados Únicos que se vê no câmbio e na bolsa não se reflete nos DIs", afirmou o trader de renda fixa da Quantitas Asset Matheus Gallina. "Pesam nos juros mais as questões locais, pois a atividade fraca faz com que um possível novo ciclo de queda da Selic aconteça."

Hoje a pesquisa Focus trouxe recuo na mediana das estimativas para o PIB em 2019 para baixo de 1,50%, ao passar de 1,70% para 1,49%. Ao mesmo tempo, a mediana para o IPCA subiu, marginalmente, de 4,01% para 4,04%. Nesse contexto, a curva de juros ainda não precifica recuo da taxa básica nem para a decisão do Copom na quarta-feira, nem para o fim do ano, e sim estabilidade para ambos os horizontes. Para Gallina, da Quantitas, menções à questão da atividade até podem aparecer no comunicado do Copom, mas não devem alterar o balanço de riscos do BC para a inflação, que, na reunião anterior, estava simétrico.

"Isso não deve provocar uma mudança para assimetria porque geraria uma percepção errada no mercado, forçaria uma precificação de um ciclo queda da Selic, que, sem reforma da Previdência, é praticamente inviável", afirmou.

Para pavimentar esse caminho, diz ele, a proposta não precisa necessariamente estar aprovada, mas já bem encaminhada no Congresso. Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, a evolução da reforma da Previdência será um gatilho para destravar a economia. "Não há novidade nenhuma nessa desaceleração econômica, o Brasil está prisioneiro de uma armadilha de baixo crescimento e nós vamos escapar com as reformas", afirmou, após reunir-se com o presidente Jair Bolsonaro.


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