Ibovespa cai 2,51% e dólar sobe 1,66%

Ibovespa cai 2,51% e dólar sobe 1,66%

Ibovespa fechou aos 100.097 pontos com aversão ao risco no mercado internacional

AE

A moeda norte-americana à vista fechou com valorização de 1,25% nesta segunda-feira

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A onda de aversão ao risco no mercado internacional não poupou a bolsa brasileira e o Índice Bovespa por pouco não perdeu o suporte psicológico dos 100 mil pontos, conquistado em junho, nesta segunda-feira. Novos sinais de deterioração das relações comerciais entre Estados Unidos e China derrubaram os preços das commodities e as bolsas de Nova York em mais de 3%, sem deixar chance para os papéis de países emergentes. Com isso, o Ibovespa fechou aos 100.097,75 pontos, em queda de 2,51%.

A queda foi praticamente generalizada entre as 66 ações que compõem a carteira teórica do Ibovespa. As exceções foram Marfrig ON (+1,03%) e IRB Brasil Re ON (+0,14%).

Profissionais nas mesas de renda variável relataram que as vendas foram claramente comandadas por investidores estrangeiros, tendo os brasileiros como principal contrapartida. Depois de terem retirado R$ 6,5 bilhões da B3 em julho, o investidor não-residente iniciou agosto no mesmo ritmo. Segundo dados da B3, no dia 1º o saldo líquido indicou saída de mais R$ 826,384 milhões.

"Não havia como o Ibovespa resistir ao movimento global, que foi bastante forte. Os índices setoriais das bolsas americanas registraram quedas expressivas ao longo da tarde, principalmente o financeiro e o de energia. Os pares brasileiros acompanharam e por isso vimos perdas tão fortes em Petrobras e Vale", disse Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora.

Os mercados amanheceram estressados depois que a China deixou o dólar romper a marca psicológica dos 7 yuans, o que não ocorria desde 2008. Em consequência, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou o país de "manipulação cambial". À tarde, Trump disse no Twitter que a "histórica" manipulação cambial da China é uma prova de que os americanos não estão pagando pelas tarifas impostas sobre importações chinesas. Ele voltou a acusar o governo chinês de utilizar manipulação do yuan e práticas comerciais injustas para "roubar negócios e fábricas, prejudicar os empregos, diminuir os salários e prejudicar os preços cobrados pelos fazendeiros" nos EUA.

Em queda firme desde a abertura, o Ibovespa atingiu a mínima do dia às 16h09, aos 99.630,09 pontos (-2,96%). Naquele momento, as bolsas americanas ampliavam as perdas para além dos 3%, depois de o governo da China divulgar comunicado ameaçando adotar uma "suspensão de novas compras de produtos agrícolas dos EUA por companhias chinesas".

Dólar 

O temor de uma guerra cambial na economia mundial fez o dólar fechar a segunda-feira no maior nível em mais de dois meses. A moeda americana subiu 1,66% e terminou em R$ 3,9561, a cotação mais alta desde 30 de maio. O nervosismo dos investidores foi reflexo da decisão da China de deixar o dólar romper a marca psicológica dos 7 yuans pela primeira vez desde 2008, movimento que levou o presidente americano a chamar Pequim de "manipulador cambial" e estimular a busca por ativos mais seguros.

A fuga de ativos de risco fez investidores saírem de mercados emergentes e buscarem proteção em ativos no Japão e Suíça e no ouro, que subiu. Por isso, o dólar se enfraqueceu ante divisas fortes, mas se fortaleceu perante moedas de emergentes, como Colômbia (+2,2%), Índia (+2%), Argentina (+1,8%) e África do Sul (+1,1%). Um dos reflexos da fuga do risco é que o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil, termômetro do risco-país, subiu para 142 pontos-base na tarde desta segunda, de 132 pontos da sexta-feira.

"A reescalada da tensão entre Washington e Pequim continua a ser o combustível para um movimento de vendas maciças de ativos de risco", afirma a economista-chefe do grupo financeiro americano Stifel, Lindsey Piegza. Para ela, a piora da tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo corre o risco de se transformar em uma guerra cambial, o que contribui para enfraquecer moedas de emergentes e valorizar a de países desenvolvidos. À tarde, o dólar bateu máximas, a R$ 3,9666, com a confirmação pelo Ministério do Comércio da China de que pode suspender novas compras de produtos agrícolas americanos.

Nesse ambiente de menos propensão a tomar risco, os estrategistas do JPMorgan alertam que as moedas de emergentes "parecem crescentemente mais vulneráveis". Outro banco americano, o Morgan Stanley, ressalta que a alocação em moedas destas regiões, principalmente real, peso mexicano, lira turca e rand da África do Sul, caiu para 23% desde que o Fed se mostrou menos "dovish", na última quarta-feira e Trump anunciou novas tarifas para a China. O aumento na volatilidade desde então mostra que cresceram os movimentos mais defensivos, aponta o banco americano.

Taxas de juros

Em alta desde o início dos negócios, os juros futuros encerraram a sessão desta segunda-feira perto das máximas, acompanhando a escalada do dólar e a piora do humor global ao longo da tarde. O aumento dos prêmios de risco se deu em meio a um movimento clássico de "fuga para a qualidade", com investidores reduzindo posições em ativos de países emergentes para se abrigarem nos Treasuries em meio à escalada das tensões entre Estados Unidos e China.

Após as quedas das taxas na esteira da decisão do Copom na semana passada de cortar a Selic em 0,50 ponto porcentual, havia espaço para um movimento de recomposição de prêmios. Segundo operadores, a alta das taxas até que foi moderada quando se observa o grau de depreciação do real.

A fraqueza da atividade e a tendência de que as expectativas de inflação se mantenham ancoradas, a despeito de uma eventual alta mais forte do dólar, mantêm o espaço aberto para queda adicional da Selic. Embora não seja razoável fazer cálculos sobre as apostas para o Copom de setembro com base no fechamento das taxas desta segunda, dada a influência do ambiente externo, ainda se mantém a possibilidade de redução da Selic em 0,50 ponto porcentual, para 5,50% ao ano.

Nesta terça a ata do Copom deve reforçar a perspectiva de mais cortes da taxa básica aberta pelo tom suave do comunicado na semana passada. E a agenda desta semana ainda trás indicadores quem podem reforçar o ambiente propício a mais estímulos monetários: as vendas no varejo de junho (na quarta-feira) e o IPCA de julho (quinta-feira). No Boletim Focus desta semana, a mediana das projeções para a Selic no fim deste ano caiu de 5,50% para 5,25%, o que implica redução adicional da taxa básica em 0,75 ponto porcentual.

O nervosismo do mercado teve início ainda pela manhã diante do fato de a China ter deixado o dólar romper a marca psicológica dos 7 yuans pela primeira vez desde 2008. No início da tarde, o presidente americano, Donald Trump, rebateu pelo Twitter e acusou China de manipular sua moedas e de práticas comerciais injustas.

No fim da tarde, a China anunciou oficialmente que pode adotar uma "suspensão de novas compras de produtos agrícolas dos EUA por companhias chinesas". Seria uma resposta do gigante asiático à intenção americana de impor tarifa de 10% sobre US$ 300 bilhões em produtos chineses. Teme-se que a disputa comercial descambe para uma guerra cambial, deprimindo a economia mundial. Não por acaso, houve forte recuo dos preços do petróleo e do minério de ferro.

Em dia de liquidez robusta, DI para janeiro de 2021 subiu de 5,41% para 5,57%. Já o contrato com vencimento em janeiro de 2023 passou de 6,37% para 6,54%. Na ponta longa da curva, em tese mais ligada à percepção de risco, DI para janeiro de 2025 subiu 6,91% para 7,05% - acima de 7% pela primeira vez desde meados de junho.

O estrategista de renda fixa da corretora Coinvalores, Paulo Nepomuceno, observa que o ambiente externo adquiriu um grau de incerteza maior, o que provocou uma tradicional "fuga para a qualidade" e levou a uma alta das curvas de juros de emergentes. "O cenário ficou bastante complexo. Se a china resolver desvalorizar o yuan de verdade, será difícil prever o desfecho da disputa entre Estados Unidos e China para a economia mundial", afirma Nepomuceno, ressaltando que há outros pontos de tensão, como o Brexit sem acordo e a crise dos petroleiros no Irã.

Em relação aos próximos passos do Copom, Nepomuceno destaca que o ambiente externo faz parte do balanço de riscos e pode "não ser tão benigno" como se esperava. Com as quedas das taxas curtas na semana passada, o mercado parecia inclinado a apostar majoritariamente em corte da Selic em 0,50 ponto em setembro e grandes chances de uma redução adicional de 0,25 ponto em dezembro. "Como tinha caído bastante, as taxas curtas subiram um pouco hoje (segunda). Já as longas ficaram reféns do cenário externo", afirma.


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