Produção do calçado redesenha caminhos

Produção do calçado redesenha caminhos

Na 2º reportagem especial sobre a indústria, busca de mercados é destaque

Karina Reif

Empresa de Ivoti, onde Irene trabalha, montou uma fábrica em Sergipe

publicidade

Algumas empresas do setor calçadista trocaram o Vale do Sinos pela Argentina, países do Caribe e cidades do Nordeste do Brasil. “O número de fábricas que saíram do país não é muito grande, o que é expressivo são novos investimentos em outros estados brasileiros”, ressalta o presidente executivo da Abicalçados, Heitor Klein. A tradicional região gaúcha em produção de sapatos de couro tem perdido expressão em relação a outros locais. O que atrai essas indústrias são incentivos e diminuição nos custos, já que está difícil concorrer com os importados da China e do Vietnã.

• Indústria brasileira tem desafio de voltar a crescer

“Produzir no Brasil é muito caro, principalmente pelos custos fora da fábrica”, afirma Klein. Segundo ele, os problemas para o setor se agravaram por conta da queda da demanda de calçados no Brasil, reflexo da inflação e do endividamento das famílias. Em 2014, o IBGE apontou queda de 1,1% no volume de vendas no varejo calçadista na comparação com 2013. A redução da produção foi de 5,9% no ano passado.

As exportações de calçados mostram diminuição desde 2003. Entre 2005 e 2014, a queda chega a 56,5%, segundo a Carta de Conjuntura da Fundação de Economia e Estatística (FEE) publicada em março. Em contraponto, a venda de couro curtido para o mercado externo cresceu e superou a exportação de calçados. A média do valor exportado entre 2003 e 2012 foi de 439 milhões de dólares. Já em 2013, subiu para 498 milhões, chegando a R$ 598 milhões de dólares em 2014. Dessa forma, o Estado deixa de comercializar um produto com maior valor agregado (manufaturado) para dar lugar a um de baixo valor (insumo). Entre os reflexos estão limitação de entrada de divisas no país e queda da estrutura produtiva. “Ao invés de se produzir itens com valor agregado, se vende produto agrícola ou extrativista”, observou a economista da FEE, Clarisse Chiappini Castilhos.

Região Nordeste atrai unidades

Uma das fábricas do Vale do Sinos que transferiu parte da produção para outro estado foi o Grupo Priority, com 1,2 mil trabalhadores. A principal unidade está em Sergipe desde 2010. “Crescemos 10% em 2014 na comparação com 2013”, diz o diretor Eduardo Schefer. Desde o segundo semestre de 2014, a exportação subiu 12%. Em Ivoti permanece a fábrica piloto. Irene Scherer Schmittzhaus, 51 anos e 19 de empresa, ficou na equipe. Passou por vários postos até chegar a coordenadora do grupo de modelagem. “Antes, 80% da cidade trabalhava no ramo calçadista. Agora, muitas indústrias saíram”, lembra.


Câmbio afeta os negócios

O dólar se valorizou, mas durante anos a cotação da moeda era mais baixa, o que estimulou importações e fez a indústria brasileira perder espaço. O gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, explica que, quando se desfaz uma cadeia produtiva, leva-se tempo para recuperá-la mesmo após a melhora da economia. O setor não alimenta grande expectativa com a melhora do câmbio. “Vai ajudar”, observa Fonseca. Por outro lado, ele explica que parte da indústria usa insumos importados e a alta do dólar influenciaria negativamente. “A retomada da indústria passa pela retomada dos investimentos, mas o nosso nível de confiança está baixo”, assinala.

Uma tendência dos últimos anos é de redução do processo industrial. A explicação, segundo Fonseca, é que em cada fase há mais tributos, custos e o empresário opta por vender itens semiprocessados. As exportações da indústria de transformação vinham aumentando desde 2003, mas houve queda, e mais acentuada no Rio Grande do Sul. Recuou de 19,7 bilhões de dólares (2013) para 13,9 bilhões (2014). No Brasil, de 151,7 bilhões de dólares (2013) para 138,6 bilhões (2014). Na avaliação do economista da FEE Guilherme Risco, as exportações estão aumentando, apesar da queda em 2014. Como a curva da comercialização para o mercado externo e a da produção são diferentes, a possível explicação para a disparidade é que o consumo interno não tem acompanhado. “De modo geral, as exportações estão indo melhor que o consumo interno”, diz.



Costura sob medida realiza sonhos

Estilista Cleide Souza produz o vestido ideal para noivas, formandas e debutantes

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895